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Papa João XXIII em visita ao Cárcere Regina Coeli, em Roma (26-12-1958) Papa João XXIII em visita ao Cárcere Regina Coeli, em Roma (26-12-1958) 

A ç em São João XXIII

“Antes, mesmo, apropriando-nos da recomendação de Jesus, de saber distinguir "os sinais do tempo" (Mt 16,3), pareceu-nos vislumbrar, no meio de tanta treva, não poucos indícios que dão sólida ç de tempos melhores para a Igreja e a humanidade. Pois mesmo as guerras sangrentas que se seguiram em nossos tempos, as ruínas espirituais causadas por tantas ideologias e os frutos de experiências tão amargas, não se processaram sem deixar úteis ensinamentos".

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

O Evangelho é o anúncio da Esperança, esperança esta que é a mensagem central deste Jubileu Ordinário de 2025 e que deve continuamente ser renovada, para contrastar em particular os tempos marcados por guerras e desesperanças em diversos âmbiros.

Padre Gerson Schmidt* tem nos trazidos uma série de reflexões sobre os Papas e a esperança, falando hoje sobre João XXIII. O Papa Roncalli, de fato, é frequentemente recordado como o "Papa da Esperança" por sua abordagem otimista e seu papel no Concílio Vaticano II, que buscou aproximar a Igreja do mundo moderno e dos desafios da época, inspirando confiança e otimismo. Sua ênfase na paz e na reconciliação, juntamente com seu apelo à abertura e ao diálogo, ajudou a criar uma atmosfera de esperança na Igreja e no mundo:

 

"Estamos aprofundando a Virtude da esperança nas palavras dos Papas, para tê-las presente nesse ano Santo Jubilar da Esperança. Tendo destacado outros Papas mais recentes, devemos fazer jus ao grande Papa que descortinou uma grande esperança na Igreja, na abertura ao mundo e renovação pastoral e eclesial: o Papa São João XXIII. A convicção de João XXIII na esperança foi crucial para a convocação do Concílio Vaticano II, um evento histórico que renovou a Igreja e a aproximou do mundo de transformações. Convocou este Concílio com essa esperança de renovar a Igreja e reformular a mensagem cristã para o mundo, buscando uma maior abertura ao diálogo e à atualização, o que chamou de “aggiornamento” – palavra italiana que se traduz por "atualização" ou "renovação". É um termo que se tornou famoso no contexto do Concílio Vaticano II. Em resumo, "aggiornamento" é a ideia de trazer algo para o presente, renová-lo ou adaptá-lo aos novos tempos e circunstâncias.

Na Bula para a convocação do Concílio Vaticano II - - do Sumo Pontífice João XXIII, o Papa em 1959, escreveu: “Antes, mesmo, apropriando-nos da recomendação de Jesus, de saber distinguir "os sinais do tempo" (Mt 16,3), pareceu-nos vislumbrar, no meio de tanta treva, não poucos indícios que dão sólida esperança de tempos melhores para a Igreja e a humanidade. Pois mesmo as guerras sangrentas que se seguiram em nossos tempos, as ruínas espirituais causadas por tantas ideologias e os frutos de experiências tão amargas, não se processaram sem deixar úteis ensinamentos. E o progresso científico, que deu ao homem a possibilidade de criar instrumentos catastróficos para a sua destruição, fez com que se levantassem interrogações angustiosas: obrigou os seres humanos a se tornarem mais ponderados, mais conscientes dos próprios limites, mais desejosos de paz, atentos à importância dos valores do espírito; acelerou o processo de mais estreita colaboração e mútua integração entre os indivíduos, classes e nações, à qual, embora entre mil incertezas, parece já encaminhada a família humana. Tudo isto facilita, sem dúvida, o apostolado da Igreja, pois muitos que ontem não percebiam a importância de sua missão, hoje, ensinados pela experiência, estão mais dispostos a acolher suas advertências”.

Nessa bula diz ainda João XIII: “A Igreja assiste, hoje, à grave crise da sociedade. Enquanto para a humanidade surge uma era nova, obrigações de uma gravidade e amplitude imensas pesam sobre a Igreja, como nas épocas mais trágicas da sua história. Trata-se, na verdade, de pôr o mundo moderno em contato com as energias vivificadoras e perenes do evangelho”.

No discurso de abertura solene do Concílio, o Papa João discursou assim em 11 de outubro de 1962: “Porém, não sem grande esperança e com grande conforto para a nossa alma, vemos que a Igreja, hoje finalmente livre de tantos obstáculos de natureza profana, como acontecia no passado, pode desta Basílica Vaticana, como de um segundo Cenáculo Apostólico, fazer sentir por vosso meio a sua voz, cheia de majestade e de grandeza”.

Escrevem assim, alguns teólogos da PUC/RS, no livro, Concilio Vaticano II – 40 anos de , a respeito: “O discurso de abertura causou sensação, pois o Papa falou uma linguagem de esperança e apresentou o Concílio como uma assembleia destinada a ‘tornar a Igreja presente no mundo e sua mensagem sensível à razão e ao coração do homem engajado na revolução técnica do século XX”122. A alma do Papa “bom” descortinava ao longe, entre tantas trevas, um indício de luz. A humanidade, passado esse túnel de trevas, caminhará para a luz. De fato, João XIII, falou assim no discurso de abertura: “Iluminada pela luz deste Concilio, a Igreja, como esperamos confiadamente, crescerá em riquezas espirituais e, recebendo a força de novas energias, olhará intrépida para o futuro”. Nesse discurso se revela o velho princípio que se refere a Igreja: Ecclesia semper renovanda – ou seja - a Igreja deve sempre ser reformada - frase latina que expressa a necessidade constante de renovação e reforma da Igreja. Foi popularizada pelo teólogo Karl Barth e tem sido utilizada para enfatizar a importância de a Igreja estar sempre a se adaptar às novas realidades.

Sobre o Papa João XXIII, o Papa Francisco afirmou assim, na data de canonização dos dois papas: “João XXIII e João Paulo II colaboraram com o Espírito Santo para restabelecer e atualizar a Igreja segundo a sua fisionomia originária, a fisionomia que lhe deram os santos ao longo dos séculos. [...] Na convocação do Concílio, São João XXIII demonstrou uma delicada docilidade ao Espírito Santo, deixou-se conduzir e foi para a Igreja um pastor, um guia-guiado, guiado pelo Espírito. Este foi o seu grande serviço à Igreja; por isso gosto de pensar nele como o Papa da docilidade ao Espírito Santo”123.

Na , no número 166, escreveu São João XIII: “Como representante – ainda que indigno – daquele que o anúncio profético chamou o "Príncipe da Paz" (cf. Is 9,6), julgamos nosso dever consagrar os nossos pensamentos, preocupações e energias à consolidação deste bem comum. Mas a paz permanece palavra vazia de sentido, se não se funda na ordem que, com confiante esperança, esboçamos nesta nossa carta encíclica: ordem fundada na verdade, construída segundo a justiça, alimentada e consumada na caridade, realizada sob os auspícios da liberdade”.

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.

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16 junho 2025, 09:23