A porta formosa da Esperan?a
Jackson Erpen - Cidade do Vaticano
"A virtude da esperança corresponde ao desejo de felicidade que Deus colocou no coração de todo o homem; assume as esperanças que inspiram as actividades dos homens, purifica-as e ordena-as para o Reino dos céus; protege contra o desânimo; sustenta no abatimento; dilata o coração na expectativa da bem-aventurança eterna. O ânimo que a esperança dá preserva do egoísmo e conduz à felicidade da caridade", reza o número 1818 do Catecismo da Igreja Católica.
Depois das reflexões sobre os "Papas e a Esperança", Pe. Gerson Schmidt*, nos propõe hoje "A porta formosa da Esperança":
"Raneiro Cantalamessa, nomeado cardeal pelo Papa Francisco, ex-pregador da Casa Pontifícia, escreve um livro intitulado ¡°Fé, esperança e caridade ¨C as três graças do Cristianismo¡±, editado no Brasil pela editora Paulus, com 205 páginas, traduzido por Pe. João Paulo Bedor, autor brasileiro. Na segunda parte do livro, dedicado a virtude da esperança, Cantalamessa usa o título a porta formosa da Esperança. Lembra que no Templo de Jerusalém existia uma porta chamada ¡°formosa¡±, descrita em Atos 3,2. Pois, o templo de Deus é o nosso coração que tem também uma a porta ¡°formosa¡±, que é chamada de esperança. Esta porta devemos abrir a Cristo que vem. ¡°Cristo, a esperança da Glória, está entre vocês¡± - É a síntese de todo o mistério cristão, como afirma o apóstolo São Paulo.
A palavra esperança está ausente na pregação de Jesus e os evangelhos relatam muitos dos seus ditos sobre a fé e a caridade, mas nenhum sobre a esperança, embora vemos que toda a sua pregação de Jesus anuncie que haja uma ressurreição dos mortos e uma vida eterna. Em compensação, após a Páscoa, vemos literalmente explodir, na pregação dos apóstolos, a ideia e o sentimento da esperança. A esperança toma lugar, ao lado da fé e da caridade, como uma das três qualidades constitutivas da existência cristã.
Para Cantalamessa, existe uma esperança objetiva, que indica a coisa esperada e existe uma esperança subjetiva, que indica o ato de esperar por aquela coisa. Uma esperança esperada e uma esperança esperante. A ¡°esperança esperante¡± é uma força de propulsão em frente, um impulso interior, uma extensão da alma, uma expansão para o futuro é "uma migração amorosa do espírito para aquilo que se espera", dizia um antigo padre do deserto[1]. Este esperar com todo ser não é aguardar, mas buscar. Quem aguarda fica parado; quem busca caminha, explora. A esperança torna-se o motor, ou propulsor, da vida espiritual. Ou seja, como sempre dizemos que a esperança não é aguardar passivamente, mas caminhar ativamente. Os dois aspectos da esperança estão bem evidenciados no Catecismo da Igreja Católica. No primeiro parágrafo do número 1817, dedicado ao aspecto objetivo da virtude, lê-se: ¡°a esperança é a virtude teologal pela qual desejamos o Reino dos Céus e a vida eterna como nossa felicidade, quando toda a nossa confiança nas promessas de Cristo e apoiando-nos, não nas nossas forças, mas no socorro da Graça do Espírito Santo¡±.
O parágrafo seguinte do Catecismo, corresponde ao caráter subjetivo da esperança, apontada por Cantalamessa: ¡°A virtude da esperança corresponde ao desejo de felicidade que Deus colocou no coração de todo o homem; assume as esperanças que inspiram as atividades dos homens, purifica-as e ordena-as para o Reino dos céus; protege contra o desânimo; sustenta no abatimento; dilata o coração na expectativa da bem-aventurança eterna. O ânimo que a esperança dá preserva do egoísmo e conduz à felicidade da caridade¡± (). É bem esse aspecto acentuado pelo Papa Francisco abordando diversas vezes esse aspecto na perspectiva cristã. Na Bula de proclamação do Ano Jubilar, Francisco apontava: ¡°Por isso mesmo esta esperança não cede nas dificuldades: funda-se na fé e é alimentada pela caridade, permitindo assim avançar na vida. A propósito escreve Santo Agostinho: «Em qualquer modo de vida, não se pode passar sem estas três propensões da alma: crer, esperar, amar». E continuou o Papa Francisco, lembando o Apóstolo Paulo que na fraqueza encontrava a fortaleza: ¡°Mas em tais situações, através da escuridão, vislumbra-se uma luz: descobre-se que a evangelização é sustentada pela força que brota da cruz e da ressurreição de Cristo. Isto faz crescer uma virtude, que é parente próxima da esperança: a paciência. Habituamo-nos a querer tudo e agora, num mundo onde a pressa se tornou uma constante. Já não há tempo para nos encontrarmos e, com frequência, as próprias famílias sentem dificuldade para se reunir e falar calmamente. A paciência foi posta em fuga pela pressa, causando grave dano às pessoas; com efeito sobrevêm a intolerância, o nervosismo e, por vezes, a violência gratuita, gerando insatisfação e isolamento¡±.
Vivemos num mundo agitado por inúmeras ondas, onde parece que Deus dorme tranquilamente na ponta da barca sacodida pelos ventos. Nossos corações ficam atribulados por tantas tempestades internas e externas, e n os cabe, no Ano Santo Jubilar, crer na esperança que Cristo está na barca e que não afundaremos. À Ele o mar e os ventos obedecem e as tempestades de nossa alma inquieta na turbulência se acalma. O Salmo 130, intitulado ¡°De profundis¡±, é um salmo por excelência da esperança que clama assim: ¡°Do fundo do meu ser, eu clamo a ti Iahweh. Eu espero em Iahweh, minha vida espera, aguarda pela sua palavra. Minha vida espera pelo Senhor, como os sentinelas anseiam pela aurora¡±. De fato, um vigia noturno, aguardará com ansiedade o nascer do sol para poder voltar para casa, após uma longa jornada, e encerrar seu trabalho de sentinela e guardião. As ¡°profundezas¡± de onde o salmista clama a Deus não é o profundo do purgatório. Quando o salmo foi composto, esta doutrina ainda não existia. Mas é o profundo da própria miséria e do pecado. Esse salmo é um grito de vivos, não de mortos!"
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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[1] Diadoco di Fotica, Capita, Preambolo, SCh 5 bis, p.84.
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