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O Patriarca de Jerusalém dos Latinos, cardeal Pierbattista Pizzaballa O Patriarca de Jerusalém dos Latinos, cardeal Pierbattista Pizzaballa   (AFP or licensors)

Pizzaballa: o drama de Gaza, governo israelense injustificável

O cardeal de Jerusalém relata sua visita pastoral à comunidade ferida na última quinta-feira por um bombardeio israelense: “fiquei impressionado com as enormes extensões de tendas que antes não existiam”. Ele esclarece que a ajuda do Patriarcado não é apenas para os cristãos e afirma: “não somos contra a sociedade israelense e o judaísmo, mas temos o dever moral de expressar com absoluta clareza e franqueza nossa crítica à política que este governo está adotando em Gaza”.

Antonella Palermo – Vatican News

Solidariedade para além de qualquer barreira, na convicção de que “em Gaza não haverá rivieras”. Em entrevista à mídia vaticana, o Patriarca de Jerusalém dos Latinos, cardeal Pierbattista Pizzaballa, relata a visita de apoio de três dias à comunidade de Gaza City, selada pela celebração na paróquia da Sagrada Família, atingida na última quinta-feira por um bombardeio israelense que causou a morte de três pessoas e deixou cerca de quinze feridos. “Vocês não serão esquecidos”, assegurou o cardeal do altar, enquanto o estrondo dos projéteis interferia na tradução do inglês para o árabe. “Vocês não são esquecidos. Estão nos corações de todas as Igrejas e de todos os cristãos do mundo.

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Quando eu voltar a Jerusalém – ainda suas palavras na homilia –, posso garantir que faremos tudo o que for possível para parar esta guerra sem sentido. Vamos trabalhar nisso e, no final, vamos conseguir”.

Cardeal Pizzaballa, como foi sua visita a Gaza?

As imagens que ficaram na minha memória, em comparação com as vezes anteriores, são as enormes extensões de tendas que antes não existiam. Quando fui, todos estavam no sul, havia o corredor Netzarim que fechava. Eles voltaram, agora há mais de um milhão de pessoas sem ter onde morar. Sobretudo ao longo do mar, há longas extensões de tendas, onde as pessoas vivem em condições de extrema precariedade, tanto do ponto de vista higiênico como sob qualquer outro perfil. E depois, a outra imagem é a do hospital: crianças mutiladas, cegas devido às consequências dos bombardeamentos.

Na homilia da missa celebrada na paróquia de Gaza, o senhor falou da vida que viu nos rostos dessas pessoas...

Sim. Devo dizer que fico sempre impressionado. Essas poucas centenas de pessoas, é verdade, são muito protegidas, mas não estão isentas dos mesmos problemas de todos os outros: falta de comida, há meses não veem verduras, não veem carne, como todos os outros, enfim.

Mas vejo, mesmo nas crianças, certamente o cansaço, mas também a vitalidade, o desejo. Enquanto há uma pessoa que tem o desejo de fazer algo, de mudar, significa que ainda há vida nelas, e isso eu notei.

Como foi celebrar com o barulho dos bombardeios?

No primeiro dia é um pouco impressionante, mas depois você se acostuma. Vi que ninguém mais presta atenção. Aconteceu com a gente também... enfim, vejo que o ser humano é capaz de se acostumar com tudo. Às vezes, os tiros mais próximos, que fazem todo o prédio tremer, assustam um pouco, mas depois você se acostuma com isso também. O que impressiona, e que as imagens não conseguem transmitir, é o cheiro, a fumaça, o cheiro das explosões, o cheiro que elas deixam.

Israel está ordenando a evacuação de Gaza. O que será da população sobrevivente, exausta?

Vai ficar lá. Haverá quem parta, sem dúvida, mas a maioria vai ficar lá. Não sabe para onde ir, em primeiro lugar, mas também não quer partir, porque tem as suas raízes lá, tem a sua casa lá, ou melhor, tinha a sua casa lá, e quer reconstruí-la lá. O Papa foi muito claro sobre isto: não haverá transferências de populações, não haverá rivieras em Gaza.

O senhor está confiante nisso?

Tenho certeza.

No domingo, o Papa disse que é preciso respeitar, entre outras coisas, a proibição de uma “punição coletiva”. Como essas palavras ressoaram?

Muito claras, muito fortes e muito esperadas.

Eminência, há uma população faminta e atingida pelos bombardeios enquanto procura o pouco alimento que consegue obter. Por quê?

Todos nos perguntamos isso. Não conseguimos entender as razões de tudo isso e, como o Papa disse com razão – e nós também repetimos continuamente –, tudo isso é injustificável.

Gostaria de esclarecer uma coisa: não temos nada contra o mundo judaico e não queremos de forma alguma parecer aqueles que vão contra a sociedade israelense e contra o judaísmo, mas temos o dever moral de expressar com absoluta clareza e franqueza nossa crítica à política que este governo está adotando em Gaza.

A sua preocupação não é apenas pelos cristãos...

Absolutamente não. Outra coisa muito importante a dizer é que nunca nos dedicamos apenas aos cristãos. Era nosso dever, como pastores, visitar nossa comunidade, mas desde o início sempre fomos muito claros sobre tudo o que está acontecendo em toda a Faixa de Gaza e todas as nossas atividades, sejam hospitais, Caritas, ajuda humanitária, são principalmente para toda a comunidade, começando pelos nossos vizinhos, são para todos. O Patriarcado Latino, nossa diocese, chega – quando as fronteiras ainda permitiam, mas retomaremos em breve – a mais de 40 mil pessoas, quase todas muçulmanas.

Hoje tomará posse o novo Custódio da Terra Santa. Uma palavra sua?

Desejamos-lhe muitas felicidades. É um desafio não fácil, estamos prontos para colaborar, estamos certos de que juntos poderemos fazer muitas coisas boas.

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22 julho 2025, 10:07