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Casina Pio IV, Pontifícia Academia das Ciências e Pontifícia Academia das Ciências Sociais, Vaticano Casina Pio IV, Pontifícia Academia das Ciências e Pontifícia Academia das Ciências Sociais, Vaticano  (Copyright (c) 2013 Catarina Belova/Shutterstock. No use without permission.)

Inovação e IA: o desafio de colocar o homem no centro

Realizou-se, na Casina Pio IV, sede da Pontifícia Academia das Ciências Sociais, o terceiro Encontro de Ética Empresarial, intitulado “Brincar com fogo: explorar a inovação sem queimar o futuro”. Cerca de cinquenta expoentes do mundo empresarial, investidores de capitais de risco, representantes de instituições e do setor acadêmico e artistas debateram sobre éپ e desenvolvimento econômico.

Roberto Paglialonga – Vatican News

Como investir nas tecnologias mais avançadas e, hoje, como desenvolver sistemas de inteligência artificial de modo ético, ou seja, no respeito do ser humano e da sua dignidade? Esta foi a pergunta que cerca de cinquenta expoentes do mundo empresarial italiano e internacional, investidores de capitais de risco e representantes de instituições e do setor acadêmico, além de formadores de opinião e artistas, tentaram responder durante o terceiro Encontro de Ética Empresarial, promovido pela Pontifícia Academia das Ciências Sociais, na Casina Pio IV), no Vaticano, na manhã desta última quinta-feira, 12 de junho. O que mais chamou a atenção dos participantes foi a preocupação de uma inovação, desvinculada do respeito à pessoa, que poderia "queimar o futuro" da humanidade; assim sendo, que pudesse aumentar as desigualdades, prejudicar o meio ambiente e comprometer o sistema do trabalho, no qual cada um é chamado a se expressar.

Equidade, responsabilidade e sustentabilidade

"É essencial focalizar a equidade, responsabilidade e sustentabilidade", afirmou Eva Spina, chefe do Departamento Digital, Conectividade e Novas Tecnologias do Ministério das Empresas e do Made in Italy, ao apresentar algumas iniciativas aprovadas, em particular, para os países africanos durante o G7, realizado na Puglia, no ano passado. Sem tais princípios, -acrescentou Eva, - é difícil equilibrar "as oportunidades de crescimento e os riscos, que a inovação suscita, necessariamente”. Afinal, sabemos que, “se a inovação melhorar a qualidade de vida, também poderá causar o aumento das desigualdades e prejudicar o meio ambiente".

Necessidade da ética e de um sistema de princípios universais

A ética, certamente, pode desempenhar um papel significativo na chamada "era do poder e do progresso". Disso está ciente Brian Smith, decano associado para a pesquisa junto à Escola Lynch de Educação e Desenvolvimento Humano de Boston; convencido disso, ele perguntou, de forma provocatória, se pode haver “desenvolvimento sem justiça”. Partindo de um exemplo concernente às empresas, que sugerem a interrupção da contratação de pessoas, oferecendo “robôs de IA” específicos para determinadas tarefas, Smith refletiu sobre a lição de Kant e seu imperativo de “tratar sempre a humanidade como um fim em si mesma e jamais como meio”. Por isso, durante o evento organizado pela “Core - Thinking Connections”, com a parceria do Boston College e da Lumsa Human Academy, patrocinado pela Axpo e a Banca Ifis, ele explicou: “É essencial criar um sistema de regras e princípios universais para aplicar em situações particulares. A dignidade é um princípio que deve ser valorizado, mas que também tem prioridade sobre os investimentos, desenvolvimento tecnológico e estruturas de poder. Logo, dignidade, respeito pelo trabalho e eficiência são as coisas boas que queremos promover universalmente”. E concluiu: “Trata-se de um quadro ético-moral que possa nos orientar e levar a entender como criar a tecnologia, sem afetar a prosperidade e a dignidade humanas”.

O valor do conhecimento

Desta forma, muitos expoentes de empresas destacaram a necessidade de promover um diálogo multissetorial, para evitar a fragmentação na gestão do processo da IA; isso porque, se na primeira e segunda revoluções industriais foram criadas redes físicas, que, depois, agregadas, a revolução atual reúne não apenas redes físicas, mas também digitais e biológicas, que criam uma graduação, que investe dados e conhecimento. “Por isso, a formação é o único meio para preparar as gerações futuras”, afirmou Cristina Nardelli, do Unicri (Instituto Inter-regional de Pesquisa sobre Crime e Justiça) das Nações Unidas e diretora da Escola de Verão sobre “Inteligência Artificial, Ética e Direitos Humanos” da Lumsa Human Academy. A este respeito, Giuseppe Rao, gerente geral da Presidência Italiana do Conselho de Ministros, citando o filósofo Francis Bacon, reiterou: “Conhecimento é poder”.

Colocar a IA a serviço das comunidades

Por fim, Federica Zanella, membro do Conselho da Trenitalia, afirmou: “Confiança e transparência aparecem, constantemente, entre as necessidades desta revolução tecnológica”. Por sua vez, Giovanni Caccamo, artista e cantor e compositor, frisou: “Somente colocando a IA a serviço das comunidades, não para enriquecer alguns, mas para compartilhar com todos, será possível restaurar algumas harmonias, como um trabalho melhor e apoio à equidade social”.

IA, trabalho e justiça para o Papa Leão XIV e o Papa Francisco

“Dignidade, trabalho e justiça” são temas muito queridos para o Papa Leão XIV. Ao se encontrar com os Cardeais, na Sala Nova do Sínodo, em 10 de maio, dois dias após a sua eleição, revelou que havia escolhido seu nome por se inspirar em Leão XIII, o Pontífice da Rerum novarum. De fato, na ocasião, explicou: “Naquela encíclica, ele abordava a questão social, no contexto da primeira grande revolução industrial. Hoje, a Igreja oferece a todos, o seu patrimônio, ou seja, a Doutrina social para responder a uma nova revolução industrial e aos desenvolvimentos da Inteligência artificial, que suscitam novos desafios para a defesa da dignidade humana, a justiça e o trabalho". O Papa Francisco também tratou esta questão ao falar à “Fundação Centesimus Annus” em 22 de junho de 2024, reiterando o que havia dito no G7 da Puglia. Ele destacou “a necessidade de um desenvolvimento ético dos algoritmos, para que sejam os valores a guiar os caminhos das novas tecnologias” e reiterou: “A inteligência artificial é e deve permanecer um instrumento nas mãos do homem".

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14 junho 2025, 16:27