Gallagher em Cuba: a diplomacia da esperança como alternativa ao egoísmo
Valerio Palombaro - Vatican News
“Não tenhais medo de abrir os vossos corações a Cristo. Deixai que Ele entre nas vossas vidas, nas vossas famílias, na sociedade, para que assim tudo seja renovado”. Essas palavras de São João Paulo II, pronunciadas em 1998 durante a viagem apostólica a Havana, foram citadas pelo arcebispo Paul Richard Gallagher, secretário para as Relações com os Estados e as Organizações Internacionais, em discurso nesta quinta-feira (05/06) em uma conferência no âmbito da visita de três dias a Cuba que termina nesta sexta-feira (06/06). Uma ocasião – 90 anos após o estabelecimento das relações diplomáticas entre a Santa Sé e Cuba e 10 anos após a viagem apostólica do Papa Francisco – para reafirmar que todas as atividades da Santa Sé, com base na força da mensagem cristã, “têm ressonância também na sociedade”, o que pode ser entendido como “um convite a trabalhar em favor da dignidade humana”.
Rumo a uma solidariedade ativa
Daí a necessidade de proteger os direitos e as liberdades fundamentais do homem que, lembra Gallagher, “é um ser-para, um ser-por, uma comunhão e uma abertura ao outro, sem exclusão”. “O homem – sublinha o prelado – é naturaliters socialis; é um ser necessitado, no sentido de que, em todos os níveis, econômico, político, social e transcendente, não consegue encontrar em si mesmo todos os elementos para seu desenvolvimento, e isso requer uma colaboração constante para viver. Essas necessidades inclinam o homem para a sociedade e o Estado”.
Segundo Gallagher, “esse amor social deve constituir a alternativa ao egoísmo, à exploração e à violência; deve ser a luz de um mundo cuja visão corre o risco de ser constantemente obscurecida pelas ameaças da guerra, da exploração econômica e social e da violação dos direitos humanos; deve conduzir à solidariedade ativa com todos aqueles que desejam promover a justiça e a paz no mundo”. O secretário para as Relações com os Estados citou então o Papa Leão XIV para lembrar que a diplomacia vaticana é, de fato, “expressão da própria catolicidade da Igreja”, animada por uma urgência pastoral que a impele a “intensificar sua missão evangélica a serviço da humanidade”.
A busca pela paz
E ainda o desejo de paz, “uma paz desarmada e desarmante”, como indicado pelo Pontífice, expressa Gallagher, identificando alguns elementos que servem à diplomacia para difundir a paz: reconciliação, verdade, diálogo, justiça, solidariedade e busca pelo desarmamento. A proteção dos direitos também é uma base necessária para a convivência e a realização da paz. A partir da defesa da família e da vida que, afirmou Gallagher citando novamente o Papa Leão XIV, pode ser realizada antes de tudo “investindo na família, fundada na união estável entre homem e mulher, ‘tão pequena, mas sociedade mais verdadeira e antiga do que qualquer outra’”.
A liberdade religiosa para a coesão social
A resposta à dimensão transcendente da humanidade, continua o arcebispo, “encontra-se no respeito e na promoção de seu direito fundamental à liberdade de pensamento, de consciência e de religião”. “Nesse contexto”, afirma Gallagher, “a liberdade religiosa desempenha um papel fundamental na promoção do bem comum. Reconhecendo a espiritualidade dos indivíduos e respeitando sua liberdade religiosa, e permitindo que cada um persiga sua crença religiosa, cada um de nós pode cumprir seu dever de contribuir para o bem-estar de todos e de seus grupos sociais. Isso, em última análise, promove uma sociedade mais harmoniosa e próspera”.
Como escreveu o Papa Francisco na encíclica Fratelli tutti, quando se nega o bem transcendente da pessoa humana, “prevale a força do poder e cada um tende a usar ao máximo os meios à sua disposição para impor seus interesses ou sua opinião, sem respeitar os direitos dos outros”. O prelado sublinha, por fim, um princípio fundamental: “a liberdade religiosa não é apenas um direito humano, mas também um caminho transcendente e prático para superar divisões, promover o diálogo e forjar uma comunidade global mais pacífica e harmoniosa”. Ela “representa um pilar fundamental na construção de sociedades inclusivas e harmoniosas e desempenha um papel essencial na promoção e defesa da coesão social”.
A recordação de Pe. Félix Varela
O arcebispo, em conclusão, cita as palavras de uma figura histórica para a Igreja em Cuba, o venerável Pe. Félix Varela (1788-1853), segundo o qual “há apenas uma desgraça e é a de se separar de Deus” para definir a diplomacia da Santa Sé como uma “diplomacia da esperança” que “longe de cair numa interpretação pessimista da realidade que nos rodeia, nos convida a ver nessas situações desafios que podem ser superados se todos fizermos a nossa parte”.
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