"A Ressurreição de Cristo gesta a ç da consumação da história"
Jackson Erpen - Cidade do Vaticano
O Catecismo da Igreja Católica, no número 655, afirma que "finalmente, a ressurreição de Cristo – e o próprio Cristo Ressuscitado – é princípio e fonte da nossa ressurreição futura: «Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram [...]. Do mesmo modo que em Adão todos morreram, assim também em Cristo serão todos restituídos à vida» (1 Cor 15, 20-22). Na expectativa de que isto se realize, Cristo Ressuscitado vive no coração dos seus fiéis. N'Ele, os cristãos «saboreiam as maravilhas do mundo vindouro» (Heb 6, 5) e a sua vida é atraída por Cristo para o seio da vida divina, «para que os vivos deixem de viver para si próprios, mas vivam para Aquele que morreu e ressuscitou por eles» (2 Cor 5, 15)".
Ainda na vivência do Tempo Pascal, e no contexto do Jubileu 2025, Pe. Gerson Schmidt* nos propõe a reflexão "A Ressurreição de Cristo gesta a esperança da consumação da história":
"A esperança e a promessa de Deus tornaram-se realidade em Cristo. Em Cristo ressuscitado se realizam todas as promessas messiânicas do Antigo Testamento. Tal como lemos em Atos dos apóstolos: "Quanto a nós, anunciamos-vos a Boa-Nova: a promessa feita aos antepassados foi cumprida por Deus a seus descendentes - para nós, seus filhos, ressuscitando Jesus, como está escrito no Salmo dois: 'Tu és meu filho; eu hoje te gerei'”(At 13,32-33).
Cristo é o acontecimento escatológico; traz em si a tendência para o futuro absoluto, que é Deus. Sua ressurreição é o começo de vida nova não somente para Ele, mas também para nós; porque Cristo foi ressuscitado por Deus como “primícias dos que morrem”, “primogênito entre muitos irmãos”. Sua vitória é vitória para nós, porque é o cumprimento irrevogável da promessa de Deus e inauguração do futuro não só da humanidade, mas também do mundo, do cosmos e de toda a história (Cl 1,15-20; Ef 1,10.20-23). Nesse sentido, a ressurreição é a origem do querigma, o anúncio potente de Cristo Ressuscitado e a alegria da esperança cristã. Com a ressurreição apareceu novo horizonte que abre nosso mundo, encerrado na morte e no pecado, para o futuro, futuro que já está presente. A ressurreição é o cumprimento de todas as promessas feitas à Israel. O futuro da história humana corresponde ao futuro de Cristo, ao cumprimento da glória de Deus da plena libertação do homem e do mundo.
O Caderno do Concilio de número 13 – Jubileu 2025, aponta assim no terceiro parágrafo do capítulo três: “...a liturgia deste período pascal nos leva a rezar pedindo ao Pai poder viver “com ardor esses dias de júbilo em honra do Senhor ressuscitado”(MR, p.351), exorta-nos também, à medida que os dias passam, inexoravelmente, a reconhecer o ressuscitado que está no meio de nós (cf. Jo 20,19-29), superando o medo do tempo que tudo devora e as situações de precariedade e vulnerabilidade que nos prendem na solidão e no desânimo. É, portanto, uma mensagem de esperança aquela que vem do Tempo Pascal e se destina ao tempo presente pela preocupação com o futuro o renovado esforço de que o cristão deve estar investido, revigorado a partir da consciência de que esse Tempo é tempo de Renascimento e de comunhão fraterna”[1].
A ressurreição de Cristo não é o fim, o cumprimento total e a consumação de todas as coisas. A ressurreição do Senhor pôs em movimento um processo histórico escatológico, cuja meta é a destruição da morte com a vitória da vida e a realização da justiça de Deus. A esperança cristã não teme o negativo. É “esperança crucificada” que se abre ao dom da Ressurreição (Rm 4,17). É uma esperança contra todo esperança (Rm 8,24-25). Como diz Moltmann: “A cruz de Cristo é o sinal da esperança de Deus neste mundo para todos os que, em sua vida, se abrigam à sombra da cruz. A teologia da esperança é, em seu ponto nuclear, teologia da cruz. A cruz de Cristo é a forma atualmente presente do Reino de Deus na terra. O futuro de Deus nos contempla em Cristo crucificado. Todo o resto são sonhos e fantasias, meras ilusões. A fé crista distingue-se da superstição, tanto quanto da incredulidade, pela esperança nascida da cruz. A fé cristã distingue-se do otimismo e da violência por causa da libertação nascida da cruz”[2].
É do mistério pascal que emerge e aflora o sentido supremo da esperança cristã. É também ao mesmo tempo um compromisso histórico e abertura ao porvir escatológico como dom do poder de Deus, não simplesmente uma obra humana. A consumação da história, a partir do acontecimento pascal, se encaminha para sua realização, graças àquele que venceu a cruz e a morte. Cristo abriu novo horizonte, novo porvir, uma porta de esperança inabalável de “novos céus e nova terra”, profetizado no livro do Apocalipse.
A vocação cristã é vocação para um amor criativo, que deve ser vivido concretamente no seio da realidade histórico-social e existencial, tal como se apresenta. A esperança estimula o homem a dar-se, ao mesmo tempo que lhe permite aceitar sempre novas possibilidades do futuro que espera e almeja. Portanto, não é uma esperança passiva, mas na espera criativa e propositiva, realizar o reconhecimento do dom de Deus, vivendo na soberania do Vitorioso. Somos todos emigrantes, prontos para a partida. “A esperança se transforma em atitude ativa, alimentada pela coragem e pela fortaleza de ânimo, a qual fomenta e estimula a resistência no sofrimento e a tensão na luta. Desta forma, o cristão é chamado a viver seu compromisso com o mundo não para continuar sendo o que é, mas para transformar-se continuamente e chegar a ser o que lhe foi prometido o que será”[3]. Por isso, nosso compromisso cotidiano de um coração não voltado simplesmente para o futuro, mas, ancorados na esperança, para o presente a ser plenificado com o poder da Páscoa de Cristo Ressuscitado."
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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[1] PIANA, G. Dicionário de Espiritualidade, Vocabulário “ESPERANÇA”, Paulinas, SP, 1989, p.340 – conclusão.
[2] BARBA, Maurizio. Cadernos do Concilio de número 13 – Os tempos Fortes do Ano litúrgico, Edições CNBB, p.30.
[3] MOLTAMNN, J. El experimento esperanza, Sígueme, Salamanca, 1977, p.56. In: PIANA, G. Dicionário de Espiritualidade, Vocabulário “ESPERANÇA”, Paulinas, SP, 1989, p.337.
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