Uma teologia de esperança da âԾ martirizada é tema de simpósio na Gregoriana
Vatican News
Da Ucrânia martirizada e ferida, pode nascer uma teologia de esperança, que se concretiza na fé que permaneceu inabalável apesar da guerra, testemunhada pelos ícones venerados sob os bombardeios, pelas procissões realizadas em território de guerra e pelas orações que se elevam incessantemente.
Isso foi sublinhado em um Simpósio internacional realizado nos dias 14 e 15 de maio na Pontifícia Universidade Gregoriana e na Universidade de Notre Dame de Roma. Intitulado “Rumo a uma Teologia da Esperança para e a partir da Ucrânia”, o encontro teve como objetivo lançar as bases para uma disciplina teológica da esperança que partisse do sofrimento do povo ucraniano.
Shevchuk: resplandecer com a Luz da esperança
É teologia em ação, teologia na prática, discutida em duas sessões. A primeira, aberta, com pronunciamentos de Sua Beatitude Sviatoslav Shevchuk, líder da Igreja Greco-Católica Ucraniana, e do cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado, e uma longa palestra do professor Myroslav Marynovych, presidente do Instituto de Religião e Sociedade da Universidade Católica Ucraniana (Lviv). A segunda sessão, realizada a portas fechadas, com painéis de discussão que, espera-se, tenham lançado as bases para um novo modelo de pesquisa teológica.
Em seu discurso de saudação, Sua Beatitude Sviatoslav disse que “atualmente, na Ucrânia, a esperança – como beleza da incorruptibilidade que, por meio do sofrimento, reveste cada um de nós – tem muitos rostos iluminados”. O líder da Igreja Greco-Católica Ucraniana, enfatizou depois que “não devemos hesitar em nos opor à mentira, pois a violência e a morte buscam constantemente se justificar recorrendo à difamação e à falsidade! Em resposta à escuridão que o inimigo do gênero humano espalha, nós resplandecemos com a luz da esperança, em meio a uma humanidade perdida e amedrontada.”
Parolin: o caminho da paz se constrói na verdade e na fé
O cardeal Parolin, de sua parte, traçou uma linha de continuidade entre o Pontificado do Papa Francisco e o de Leão XIV: “Dois Papas, duas vozes, unidos pelo mesmo sentimento, pela mesma compaixão evangélica, unidos por terem traçado um caminho de esperança, a esperança que nasce da dor, o caminho da paz que se constrói na verdade, o caminho da fé que não se rende diante da lógica da guerra”. Uma teologia da paz da Ucrânia “não nasce dos livros, mas do sofrimento”, porque daquele povo “nos chega um testemunho vivo”.
O cardeal Parolin observa que “desde fevereiro de 2022, a guerra na Ucrânia semeou morte e destruição. Um profundo trauma nacional, cidades inteiras se tornaram símbolos da dor humana. No entanto, nesses lugares, a fé não morreu, mas encontrou novas expressões”, tanto que se pode “afirmar que a esperança na Ucrânia é uma forma de martírio silencioso”.
"O mal não prevalecerá"
O próprio Simpósio "nasce de uma ferida aberta", porque "a Ucrânia é o emblema de uma esperança submetida a uma prova mais dura", nomeadamente "a perda, a separação, a morte", da qual "surge um grito que interpela a teologia". Mas, observou o secretário de Estado do Vaticano, "precisamente nos momentos mais sombrios, a esperança cristã manifesta-se como uma força surpreendente, porque a Esperança é a capacidade de ver para além da escuridão, de reconhecer para além da vida a possibilidade da ressurreição. E nasce da certeza de Deus presente na história. Como nos recordou Leão XIV, o mal não prevalecerá".
O purpurado italiano delineou então as três tarefas da Igreja na Ucrânia, ou seja, "acompanhar as pessoas, curar dos feridos e construir um futuro", tarefas realizadas "todos os dias por meio do testemunho", onde as paróquias "se tornam centros de acolhimento e distribuição de ajuda", enquanto "os jovens se dedicam ao voluntariado e à solidariedade", e, ao mesmo tempo, se dá uma resposta também à urgência espiritual de "ajudar e não ceder ao desespero".
O cardeal lembrou que “a esperança cristã está sempre orientada para a reconciliação, que requer um caminho de verdade e cura da memória”, exaltou a defesa do “valor da liberdade e da pátria” vivenciado na Ucrânia e sublinhou que “a esperança cristã é missionária, ela nos chama a construir pontes para trabalhar pela justiça, pela paz e pela reconciliação, porque ninguém se salva sozinho”. Os Desafios da Teologia da Esperança na Ucrânia
O cardeal Parolin também delineou uma “teologia mariana da esperança”, olhando para o ícone de Maria Orante que está na Basílica de Santa Sofia em Kiev, e afirmou que “a esperança cristã não é um luxo, mas uma urgência para tempos difíceis”.
Myroslav Marynovych, em seu longo relatório, listou os desafios da teologia da esperança na Ucrânia, observando o contexto internacional, mas também o valor da população local, e concluiu: “Esta não é uma era de desespero, mas de esperança”.
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