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Apresentação do 13º volume da "Opera Omnia" de Joseph Ratzinger – Bento XVI, Em Diálogo com o Seu Tempo, realizada em Milão, na Universidade Católica do Sagrado Coração. (Foto de Marta Carenzi, Universidade Católica do Sagrado Coração.) Apresentação do 13º volume da "Opera Omnia" de Joseph Ratzinger – Bento XVI, Em Diálogo com o Seu Tempo, realizada em Milão, na Universidade Católica do Sagrado Coração. (Foto de Marta Carenzi, Universidade Católica do Sagrado Coração.)  (foto di Marta Carenzi, Università Cattolica del Sacro Cuore.)

A atualidade do pensamento de Ratzinger: não nos fechemos num gueto

O novo volume da "Opera Omnia" foi apresentado na Universidade Católica do Sagrado Coração, em Milão. Um diálogo com o cardeal Kurt Koch sobre algumas ideias do texto, que reúne muitas entrevistas inéditas do então purpurado alemão e mostra quão deslocada é a redução esquemática do pensamento de Ratzinger ao clichê "conservador".

Vatican News

“Com Deus, as grandes coisas sempre começam pequenas, mesmo para a transformação da fé na sociedade atual, é importante não se preocupar com números, mas com a salvação”.

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Afirmação do cardeal Kurt Koch, prefeito do Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos, durante a apresentação do terceiro volume do 13º volume da Opera Omnia de Joseph Ratzinger – Bento XVI, Em diálogo com o próprio tempo, realizada em Milão, na Università Cattolica del Sacro Cuore, na tarde desta quarta-feira, 28 de maio.

Após a introdução do Pe. Pierluigi Banna, professor de Teologia da universidade, e a saudação de Lorenzo Fazzini, responsável da Livraria Editora Vaticana, teve lugar um diálogo entre Andrea Tornielli, diretor editorial da mídia vaticana, e o cardeal Koch, moderado por Piero Luca Azzaro, tradutor e editor da Opera Omnia e também professor da Università Cattolica.

O texto nos restitui mais uma vez a profundidade, a complexidade e a modernidade do pensamento de Ratzinger, que não pode ser reduzido e encerrado nos esquemas de uma certa narrativa "conservadora". Na primeira parte da conversa, falou-se de sinodalidade, sempre a partir de citações de Ratzinger, que em 1969 reconhecia que na Igreja continuava a existir "o modelo da monarquia, das monarquias absolutas, e é natural que sobre este ponto somente lentamente tem início uma reflexão. É necessário que se implemente lentamente uma transformação no modo de vida, na consciência, na atitude e na praxis".

Em outra ocasião, o futuro Papa considerava "necessário aumentar os mecanismos de consulta e de encontro", almejando "formas de debate menos centralizadas e menos espetaculares", buscando "modelos mais amplos de participação do episcopado mundial, capaz de garantir, por sua vez, a conexão entre as diferentes realidades regionais”.

“Bento XVI sempre foi muito favorável à sinodalidade – recordou Koch – em seu sentido original de “caminhar com”: Igreja e sínodo são sinônimos, explicava São João Crisóstomo”. Mas, acrescentou o cardeal, a sinodalidade “não é uma alternativa à hierarquia: a Igreja Católica é hierárquica e sinodal ao mesmo tempo”.

A esse respeito, o purpurado suíço também citou Cipriano de Cartago, que explicou que, em se tratando de decisões, “nada deve ser feito sem um bispo, nada sem o conselho dos presbíteros, nada sem o consenso dos fiéis”.

Outro momento da apresentação do livro. (Foto: Marta Carenzi, Università Cattolica del Sacro Cuore.)
Outro momento da apresentação do livro. (Foto: Marta Carenzi, Università Cattolica del Sacro Cuore.)   (foto di Marta Carenzi, Università Cattolica del Sacro Cuore.)

Significativas depois outras passagens, que mostram a contrariedade de Ratzinger a um confronto com o mundo que leve a um recuo ou a um retorno ao passado, pensando que a solução é retornar à disciplina mais férrea e à "prática do antimodernismo". Antes pelo contrário, tanto como teólogo quanto como cardeal e depois como Papa, Ratzinger sempre defendeu a necessidade do diálogo e do debate com aqueles que não creem, também para evitar o risco de transformar a fé em ideologia, obscurecendo o fato de que a fé continua sendo um caminho e, portanto, capaz de compartilhar o sofrimento de quem tem dúvidas e se interroga.

"Em seu primeiro grande livro, Introdução ao Cristianismo — explicou o cardeal —, Ratzinger disse que o crente tem um não crente dentro de si e vice-versa. É por isso que o diálogo é muito importante. A base deste problema é que Deus é um mistério e, portanto, se um homem tem a impressão de ter compreendido Deus, pode ter certeza de que o que compreendeu não é Deus". Koch insistiu na importância do diálogo entre fé e razão, sublinhando que “a fé confirmada na reflexão está sempre aberta ao diálogo, enquanto a ideologia se fecha em si mesma”.

Em seguida, foram citadas páginas em que Ratzinger fala da Igreja do futuro nas sociedades secularizadas, fazendo votos de que ela seja mais livre e mais pobre, olhando, portanto, positivamente o fato de que ela não pode mais contar com o colateralismo, com o apoio do poder ou com grandes estruturas.

O cardeal Koch recordou como Bento XVI tenha dito em Freiburg que a Igreja foi ajudada de fora a se desmundanizar quando perdeu privilégios e poder. “O postulado da desmundanização – acrescentou – não é o distanciamento da Igreja do mundo, mas sim para que o testemunho seja percebido de forma crível. Bento XVI testemunhou uma Igreja liberta de fardos e privilégios políticos, que assim pode se dedicar melhor ao testemunho e ao serviço, pode viver com maior facilidade o chamado ao ministério de Deus e dos outros”.

Por fim, o cardeal citou o que Ratzinger definia como carisma das minorias de hoje, ou seja, “o método de Deus para o caminho da evangelização, que é reconhecido na parábola do grão de mostarda: a menor de todas as sementes que cresce até se tornar a maior planta. Com Deus, as grandes coisas sempre começam pequenas, e para a transformação da fé na sociedade atual, é importante não se preocupar com números, mas com a salvação. Este é o desafio para uma renovação da Igreja, especialmente a partir dos santos e seu testemunho”.

A conclusão do trabalho foi confiada ao Pe. Elia Carrai, professor de Teologia Fundamental na Faculdade de Teologia da Itália Central, que observou como, dos amplos diálogos de Ratzinger com jornalistas, emerge a realidade da verdade cristã, que “se revela na história e, portanto, na experiência e, por isso, se torna objeto de verificação pelo homem”. As pessoas que vivem sua fé “demonstram que uma vida verdadeiramente humana é possível” e, assim, “para o homem do nosso tempo, a mensagem cristã se torna compreensível”.

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28 maio 2025, 22:39