As raz?es de nossa esperan?a na caminhada quaresmal
Jackson Erpen ¨C Cidade do Vaticano
Na Caminhemos juntos na esperança¡±, o Papa oferece algumas reflexões sobre ¡°o que significa caminhar juntos na esperança¡± e evidencia ¡°os apelos à conversão que a misericórdia de Deus dirige a todos nós, enquanto indivíduos e comunidade¡±. E o terceiro apelo à conversão é ¡°o da esperança, da confiança em Deus e na sua grande promessa, a vida eterna¡±:
Estou convicto de que Deus me perdoa os pecados? Ou comporto-me como se me pudesse salvar sozinho? Aspiro à salvação e peço a ajuda de Deus para a receber? Vivo concretamente a esperança que me ajuda a ler os acontecimentos da história e me impele a um compromisso com a justiça, a fraternidade, o cuidado da casa comum, garantindo que ninguém seja deixado para trás?
¡°As razões de nossa esperança na caminhada quaresmal¡± é o tema da reflexão do Pe. Gerson Schmidt*:
¡°O Concílio Vaticano II, na , prestou particular atenção à apresentação do Tempo da Quaresma. Em preparação à abertura do Ano Jubilar, e atendendo um pedido do Papa Francisco, o Dicastério para a Evangelização lançou, já em 2023, a coletânea sobre o Concílio Vaticano II intitulada ¡°Jubileu 2025 ¨C Cadernos do Concílio¡±, com o objetivo de promover uma redescoberta do evento conciliar e seu significado para a vida da Igreja em todos esses mais de 60 anos transcorridos. O caderno de número 13 desses ricos subsídios descreve os diversos tempos litúrgicos e aponta o significado da quaresma, referendando a Constituição Sacrosanctum Concilium: ¡°o texto conciliar, ao sublinhar os principais elementos que sustentam o caminho quaresmal da Igreja, isto é, o Batismo ¨C com sua memória ou preparação ¨C a Penitência, a escuta assídua da Palavra de Deus e a oração, pretende indicar a referência fundamental para compreender seu valor e significado. No processo de formação deste período de preparação para a Páscoa, a referência ao Batismo e à Penitência foi a chave de interpretação da Quaresma e da sua relação com a vida do cristão e da Igreja. Para o Batismo, o Concílio recomenda a recuperação dos elementos batismais próprios da liturgia quaresmal; para a Penitência, insiste no significado pessoal e social do pecado¡± ¹. E neste Ano Jubilar, para lucrar as indulgências, o Sacramento da Reconciliação tem ainda um caráter ainda mais especial, como uma das condições para se receber a indulgência plenária.
Esse caderno do Concílio, de autoria de Maurizio Barba, descreve assim sobre o tema da Esperança, diante da dor e sofrimento cristão: ¡°Na perspectiva cristã, o sofrimento assume uma conotação salvífica, se for acolhido e vivido como participação na Paixão e Morte de Cristo, que redimiu a humanidade oferecendo-se como vítima pura e imaculada no altar da cruz. Olhando, portanto, para o momento culminante da sua dor, o cristão sabe que o sofrimento e a morte são sinais proféticos, que se enchem de sentido precisamente graças ao Mistério Pascal de Cristo. Quando o sofrimento e a morte de fecham em si mesmos, levam ao desespero, mas se se orientam para um horizonte de vida, abrem à ESPERANÇA. E o horizonte é a Vida Eterna, aquela inaugurada pelo Crucificado Ressuscitado, que ressuscita com seu corpo glorioso, mas marcado ao mesmo tempo por aquelas ¡®chagas¡± que, pela força do Espírito, se tornam ¡°fendas¡± de luz e esperança¡±². As chagas e dores de Cristo, contempladas no tempo quaresmal, sobretudo na Via-sacra, são fendas de LUZ E ESPERANÇA.
O Papa Bento XVI, na - encíclica sobre a Virtude Teologal da Esperança cristã - comenta a Primeira Carta de Pedro quando exorta os cristãos a estarem sempre prontos a responder a propósito do logos ¨C o sentido e a razão da sua esperança (1Pd 3,15), esperança que equivale à fé. O texto bíblico, na narrativa da Bíblia de Jerusalém, diz assim: ¡°antes, santificai a Cristo, o Senhor, em vossos corações, estando sempre prontos a dar as razões de vossa esperança a todo aquele que vo-la pede¡±. Na nota ao pé da página da Bíblia aponta assim: ¡°os cristãos dão testemunho de que pertencem a Cristo diante dos pagãos que ignoram toda a esperança (Ef 2,12;1Ts 4,13). Eles têm oportunidades para isto por ocasião das perseguições locais¡±. Podemos nos questionar se estamos prontos realmente a dar razões de nossa esperança, como pede São Pedro nessa carta. Como dar ao mundo as razões de nossa esperança se vivemos na indiferença, como se Deus não nos importasse e nos esquecemos que, em Jesus, Ele continua Deus conosco? Ao ouvir esse texto bíblico poderíamos pensar logo na apologética, na defesa da fé por argumentos filosóficos e teológicos. Muitas vezes nos esquecemos de que a primeira e fundamental missão e apologética que podemos e devemos realizar é a do testemunho de nossa fé através do exemplo.
No Jubileu do Mundo da Comunicação, no dia 24 de janeiro deste ano Jubilar, o Papa Francisco encorajou jornalistas a construir comunhão no mundo por meio do anúncio de histórias de bondade e esperança em mensagem para o 59º Dia Mundial das Comunicações Sociais. ¡°Sonho com uma comunicação que não venda ilusões ou medos, mas seja capaz de dar razões para ter esperança¡±, disse o Papa. O Papa aqui não pede as razões de nossa esperança cristã, como aponta a carta de São Pedro, mas as razões de esperança na vida, diante der um quadro de tantas pessoas desesperançadas. ¡°Encorajo-vos, portanto, a descobrir e a contar tantas histórias de bem escondidas por detrás das notícias; a imitar aqueles exploradores de ouro que, incansavelmente, peneiram a areia em busca duma pequeníssima pepita. É importante encontrar estas sementes de esperança e dá-las a conhecer¡±.
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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¹BARBA, Maurízio. Cadernos do Concílio, Jubileu 2025, n.13. Os tempos fortes do Ano Litúrgico, Edições CNBB, p. 13.
²Idem, p.17.
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