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Cardeal Tagle com o cartaz do relatório anual da Caritas Internacional apresentado em maio de 2019 Cardeal Tagle com o cartaz do relatório anual da Caritas Internacional apresentado em maio de 2019  

Medidas legais que criam pobreza: a denúncia da Caritas Internacional

Cancelar a dívida dos países pobres e rever as sanções que afetam os civis sem dar novos frutos: este é o apelo feito pela Caritas Internacional na coletiva de imprensa virtual de apresentação de seu Relatório anual.

Fausta Speranza/Mariangela Jaguraba – Vatican News

A dívida e as restrições comerciais cortam as pontes de possibilidades de resgate de populações inteiras muito além das fronteiras dos países diretamente afetados. Um exemplo é claro para todos: o Líbano, que certamente paga por anos de políticas econômicas míopes, está ameaçado devido às repercussões das sanções impostas ao governo sírio, que mortificam o comércio há anos. Para Beirute, Damasco foi o primeiro parceiro comercial da região. Esta é apenas uma das questões discutidas na coletiva de imprensa virtual de apresentação do Relatório Anual da Caritas Internacional, realizada na tarde desta quinta-feira (16/07). Dentre os participantes estavam o presidente do organismo, cardeal Luis Antonio Gokim Tagle, o secretário-geral, Aloysius John, o presidente da Caritas da África do Sul, cardeal Wilfrid Fox Napier, e a diretora da Caritas Líbano, Rita Rhayem.

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Um novo horizonte nas palavras do cardeal Tagle

O cardeal Tagle enviou uma mensagem de esperança, na convicção de que “as muitas mudanças que vivemos e estamos experimentando sejam uma ocasião para o futuro†para construir uma “nova conexão de solidariedadeâ€. Somos “uma só família humanaâ€, lembrou o presidente da Caritas Internacional, “e o sentimento de proximidade que a pandemia despertou, afetando a todos, não pode ser esquecido sem deixar um sinal: esse sinal deve ser a capacidade de dar novas respostas. Não apenas emotividade no momento da crise sanitáriaâ€, é a mensagem do cardeal Tagle, “mas também a capacidade de combater com força as condições dramáticas como a fome mundial, guerras e violência que esmagam vidas humanas e a dignidade das pessoasâ€. Significa recuperar o olhar inclusivo do Papa Francisco na Laudato si’ e trabalhar por ações concretas, como a de “um cessar-fogo globalâ€.

Um olhar especial sobre o Oriente Médio 

Ilustrando o quadro que emerge do Relatório da Caritas Internacional 2019, o secretário-geral da organização, Aloysius John, destacou que “a situação no Oriente Médio piorou drasticamente nos últimos seis meses e as sanções econômicas e o embargo sobre a Síria contribuíram para agravar a tendênciaâ€. A convicção de Aloysius John é clara: “As sanções unilaterais sem diálogo ou negociação nunca serviram ao seu propósito, pelo contrário, foram contraproducentesâ€. Ele explicou que os efeitos das sanções como instrumento político não surtiram os efeitos desejados e demonstraram um enorme poder de destruição de vidas das pessoas mais vulneráveisâ€. Os preços dispararam, as pessoas não têm meios para comprar alimentos, a desnutrição está se espalhando e há uma raiva crescente contra a Comunidade internacional. A situação é pior para os mais vulneráveis, especialmente crianças, mulheres e idosos, já profundamente afetados por guerras, tensões, fundamentalismo e pela Covid-19. “Os mais pobresâ€, lembrou ele, “são aqueles que sempre pagam o preço mais altoâ€. Nesses dias “todos nós olhamos com preocupação para o Líbano, que sempre foi um modelo de equilíbrio para todo o Oriente Médioâ€, frisou Aloysius John. Um país que sempre foi uma “mensagem de liberdade e um exemplo de pluralismo para o Oriente e o Ocidenteâ€, como disse São João Paulo II.

Dados significativos sobre o Líbano

“Hoje no Líbanoâ€, reiterou a diretora da Caritas do País dos Cedros, Rita Rhayem, “75% da população precisa de assistência e a moeda local perdeu 80% de seu valorâ€. Segundo Aloysius John, esta não é a única razão pela qual estão muito preocupados com a crise libanesa. “O Líbano sempre foi um centro essencial para o envio de ajuda humanitária a países como Síria e Iraque, e se a situação não melhorar, as consequências para toda a região serão catastróficasâ€.

Pedidos concretos

A referência ao Papa é essencial: “Várias vezes o Papa Francisco convidou as nações ricas a reconsiderar o cancelamento das dívidas para as nações mais pobresâ€, lembrou o secretário-geral. A dívida das nações mais pobres é muitas vezes paga com o suor e o trabalho dos mais pobres. Eles são altamente vulneráveis e são presas fáceis de todos os tipos de problemas de saúde por causa de sua fragilidade. A Caritas pede a redução da dívida das nações mais pobres e a realocação de fundos para as organizações confiáveis que trabalham com essas comunidades. “Somente a redução da dívida e sua realocação para o desenvolvimento das basesâ€, foi reiterado durante a reunião telemática, “permitirão alcançar os objetivos de desenvolvimento sustentável e garantirão a dignidade dos mais pobresâ€. â€œÉ inconcebívelâ€, disse Aloysius John, “que medidas precipitadas implementadas sem nenhum diálogo com os atores regionais sejam fatais para os mais pobresâ€. Portanto, os representantes da Caritas se uniram ao grito do Papa, “para deter toda a violência e conflito†e pedem “a suspensão imediata das sançõesâ€.

Palavras duras contra as sanções

Aloysius John disse que as sanções oprimem os mais pobres e são instrumentos para a “morte passiva de civis inocentesâ€. Ele definiu as sanções como “medidas injustas que afetam as pessoas mais vulneráveis, especialmente neste momento da Covid-19†e disse que “elas estão criando um terreno fértil para o terrorismoâ€. “As pessoas que fogem de situações difíceis tornam-se migrantes ilegais que são rejeitados pelos países vizinhos e pela Europaâ€. Aloysius John recordou que “a luta contra a fome, a pobreza e a injustiça é o objetivo principal da confederação, pois garante o bem-estar e a dignidade humana dos mais vulneráveisâ€.

O compromisso do organismo eclesial em tempo de pandemia

Para enfrentar a emergência da Covid-19, a Caritas Internacional financiou 23 projetos e outros 14 já foram aprovados. Graças a eles, as famílias têm sido ajudadas com assistência alimentar básica, kits de higiene, sabão, fraldas e assistência em dinheiro para pagar o aluguel e outras necessidades urgentes. Este é apenas um exemplo de centenas de ações pequenas mas muito importantes que ajudam a prevenir a propagação do vírus. Neste momento, a Caritas Internacional está ajudando quase 9 milhões de pessoas em 14 países, incluindo Equador, Índia, Palestina, Bangladesh, Líbano e Burkina Faso. Além disso, cerca de 2 milhões de pessoas se beneficiam dos programas de fundos num total de 9 milhões de euros em diferentes partes do mundo. Infelizmente, os responsáveis da Caritas estão bem cientes de que há milhares de pessoas a mais que precisam de ajuda.

O alarme do FMI em vista do G20

Foi lembrado que o confinamento paralisou de várias formas a economia global, com fortes repercussões na Europa, Estados Unidos, China e Japão. A questão é que a Caritas chama novamente a todos a uma consciência: a de estar diante de uma emergência atípica na qual os países que normalmente estão entre os principais doadores são também os mais afetados pelo vírus. Também por este motivo, o uso da ajuda internacional para responder às necessidades nacionais “não é a solução justaâ€, não pode ser suficiente. A incerteza permanece elevada, mesmo que haja alguns sinais de recuperação. É o que diz o Fundo Monetário Internacional (FMI) no documento preparado para o G20 dos ministros das finanças e governadores dos bancos centrais, que se realiza virtualmente no sábado, 18 de julho. O Fundo pede ao G20 “esforços coletivosâ€: “Eles são essenciais para acabar com a crise financeira e relançar o crescimentoâ€. O Europarlamento também pede uma nova abordagem. No comunicado publicado na semana passada durante a plenária, afirma-se que na Síria, após uma década de conflito, chegou o momento de a Europa repensar os seus interesses e a sua política. Além de apoiar a renovação do mecanismo das Nações Unidas (que fornece ajuda transfronteiriça à Síria), “a Europa deve desenvolver políticas paralelas que possam gradualmente ir além da simples prestação de ajuda humanitáriaâ€. Isto “poderia consistir em autorizar os atores locais a implementar projetos de recuperação através de apoio direto, utilizando instituições de microfinanças para conceder empréstimos a agricultores e cooperativas agrícolas, ou apoiar as capacidades das pequenas empresas farmacêuticas para satisfazer as necessidades locaisâ€.

230 milhões de pessoas em risco de fome

Segundo o Programa Mundial de Alimentos, o número de pessoas em risco de fome no mundo por causa da pandemia pode dobrar até chegar a 230 milhões. Falta alimento na África e muitos países estão passando por inundações, secas, invasões de gafanhotos e colheitas escassas. Em alguns estados do Oriente Médio, América Latina e Ásia está aumentando a desnutrição infantil e o número de adultos que passam fome. Dentre as categorias mais em risco estão os migrantes, os deslocados internos, os refugiados e repatriados, como os da Venezuela. A situação dos migrantes irregulares é particularmente crítica porque eles não se enquadram em nenhuma das categorias que podem receber ajuda.                                             

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17 julho 2020, 10:33