Fake news: redescobrir o valor do jornalismo
Rui Saraiva â Porto
A 24 de janeiro, memória litúrgica de S. Francisco de Sales, padroeiro dos jornalistas, foi publicada a Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial das Comunicações Sociais que se celebra no domingo dia 13 de maio. O título é:â âA verdade vos tornará livresâ (Jo 8, 32). Fake news e jornalismo de pazâ.
O Santo Padre aborda a particularidade jornalística das notícias falsas (fake news), assumindo a atualidade deste tema e sublinhando os seus danos. Francisco exorta os media a viverem a liberdade da verdade.
No preâmbulo da sua mensagem deixa claro o seu grande objetivo: âcontribuir para o esforço comum de prevenir a difusão das notícias falsas e para redescobrir o valor da profissão jornalística e a responsabilidade pessoal de cada um na comunicação da verdadeâ â escreve o Papa.
Notícias falsas revelam atitudes intolerantes
Está no Livro do Génesis a âprimeira fake newsââ diz-nos o Santo Padre na sua mensagem propondo um âdiscernimento profundo e cuidadosoâ. Desde logo, essa fake news apresenta uma específica técnica de implementação: âcamuflar e morder em qualquer lugarâ â escreve Francisco. Trata-se da estratégia utilizada âpela serpenteâ: â⊠a qual se tornou, nos primórdios da humanidade, artífice da primeira fake news, que levou às trágicas consequências do pecadoâ â assinala o Papa recordando o texto bíblico.
Apresentando uma argumentação com uma âaparência credívelâ â sublinha o Papa â âo tentadorâ do episódio do texto sagrado demonstra que ânenhuma desinformação é inofensiva; antes pelo contrário, fiar-se daquilo que é falso produz consequências nefastas. Mesmo uma distorção da verdade aparentemente leve pode ter efeitos perigososâ â escreve Francisco.
Na sua mensagem o Papa Francisco sublinha as notícias falsas como sendo âhábeis a capturar a atenção dos destinatáriosâ baseando-se em âestereótiposâ e âexplorando emoções imediatasâ. Notícias que podem ter objetivos económicos ou até políticos.
Em particular, o Santo Padre destaca a difusão de fake news em âambientes digitais homogéneosâ, nos quais é difícil desvendar e erradicar a sua eficácia devido ao facto de serem ambientes, muitas vezes, âimpermeáveis a perspetivas e opiniões divergentesâ.
Desta forma, as notícias falsas podem promover uma âlógica de desinformaçãoâ que provoca âo descrédito do outroâ apresentando-o como âinimigoâ dando espaço ao fomento de âconflitosâ â salienta o Papa concluindo que âas notícias falsas revelam a presença de atitudes simultaneamente intolerantes e hipersensíveis, cujo único resultado é o risco de se dilatar a arrogância e o ódio. É a isto que leva, em última análise, a falsidadeâ â escreve Francisco.
A liberdade da verdade
âO antídoto mais radical ao vírus da falsidade é deixar-se purificar pela verdadeâ â afirma o Papa assinalando que âna visão cristã, a verdade não é uma realidade apenas conceptualâ, não é apenas âdesvendar a realidadeâ, mas âa verdade tem a ver com a vida inteiraâ â diz o Santo Padre na sua mensagem â âa verdade é aquilo sobre o qual nos podemos apoiar para não cairâ.
Único âverdadeiramente fiável e digno de confiançaâ â lembra Francisco â é Jesus âo Deus vivoâ que nos diz: âEu sou a verdadeâ. âSendo assim, o homem descobre sempre mais a verdade, quando a experimenta em si mesmo como fidelidade e fiabilidade de quem o ama. Só isto liberta o homemâ â afirma o Papa.
âLibertação da falsidade e busca do relacionamento: eis aqui os dois ingredientes que não podem faltar, para que as nossas palavras e os nossos gestos sejam verdadeiros, autênticos e fiáveisâ â escreve o Santo Padre sublinhando que âpara discernir a verdade, é preciso examinar aquilo que favorece a comunhão e promove o bem e aquilo que, ao invés, tende a isolar, dividir e contrapor.â A verdade nasce â segundo o Papa â âde relações livres entre as pessoas, na escuta recíprocaâ.
Jornalismo de paz
Francisco, na sua mensagem centra a sua atenção no jornalista chamando-lhe âguardião das notíciasâ. âNo mundo atualâ â escreve o Papa â o jornalista desempenha não apenas âuma profissãoâ, mas uma âverdadeira e própria missãoâ. âNo meio do frenesim das notíciasâ â diz Francisco â o jornalista âtem o dever de lembrar que, no centro da notícia, não estão a velocidade em comunicá-la nem o impacto sobre a audience, mas as pessoasâ â afirma.
Desta forma, o Papa Francisco na sua mensagem aos media salienta a âprecisão das fontesâ e a âcustódia da comunicaçãoâ como verdadeiros âprocessos de desenvolvimento do bem, que geram confiança e abrem vias de comunhão e de pazâ.
Francisco propõe, assim, um âjornalismo de pazâ que não seja âbonzinhoâ mas âhostil às falsidadesâ. Um jornalismo que ânão se limite a queimar notíciasâ, que assuma as causas dos que ânão têm vozâ, desenvolva um registo de compromisso âna busca das causas reais dos conflitosâ e que seja âfeito por pessoas para as pessoasâ propondo âsoluções alternativasâ à âviolência verbalâ.
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