Cardeal Sako: entre Francisco e al-Sistani, ‘diálogo de vida'
Vatican News com Asianews
"Em outubro, a última vez que o encontrei pessoalmente, ele me disse que o Iraque está em seu coração. Uma frase que me tocou muito, porque falou de todo o país, dos cristãos e dos iraquianos em geral.
Esta é a recordação do Papa Francisco confiada à AsiaNews pelo Patriarca de Bagdá dos Caldeus, cardeal Louis Raphael Sako, segundo o qual “a memória e a presença†do Pontífice argentino, falecido em 21 de abril, continuam vivas no país árabe. A nação, martirizada por guerras e violência confessional, foi .
“As palavras de Francisco continuou o cardeal - são um chamado rambém para o futuro Papa: deve ser para todos, não somente para os cristãos, mas também para aqueles que não creem. Deve ser um mensageiro de paz e fraternidade. O Papa Francisco soube ler e compreender os sinais dos tempos melhor do que ninguém.â€
Quando de sua viagem ao Iraque, o mundo ainda sofria com a pandemia da Covid-19 e poucas semanas haviam se passado desde o início da campanha de vacinação que, depois de mais de um ano, teria devolvido uma aparência de normalidade ao planeta.
Não obstante tudo, o Pontífice realizou uma visita de significado histórico a um país que ainda carregava as cicatrizes do conflito interno que se seguiu à invasão dos EUA em 2003, que levou à queda do ditador Saddam Hussein. A isso se soma a gravíssima violência sectária nas mãos de grupos jihadistas, em particular o Estado Islâmico (Daesh, em árabe), com seu legado de sangue e brutalidade.
Superados os medos e as incertezas, o Papa viajou para diversas regiões do país, visitando a capital, Bagdá, e também Mosul, a metrópole do norte que por muito tempo foi o “coração†do califado de al-Baghdadi. Outras estapas incluíram Ur dos Caldeus, onde recentemente foi inaugurada uma igreja dedicada a Abraão, o pai comum das três grandes religiões monoteístas.
Por fim, a cidade de Najaf, onde se encontrou com o Grão Aiatolá Ali al-Sistani, a mais alta autoridade do islã xiita iraquiano, que divulgou uma mensagem de condolências em memória do Pontífice. “Ele era tido em alta estima espiritual e desfrutava de grande respeito entre muitas pessoas ao redor do mundo, pelo seu distinto papel, na promoção de questões de paz, tolerância e solidariedade com os oprimidos e perseguidos ao redor do mundoâ€, escreveu o líder xiita.
Com sua presença, o Papa restituiu dignidade e visibilidade a uma população cristã que nos últimos 20 anos foi dizimada por causa das guerras, deslocamentos e emigrações forçadas, passando de quase 1,5 milhão de fiéis para pouco mais de 300.000 atualmente.
“Vindo entre nós - enfatizou o purpurado - ele enviou uma mensagem aos iraquianos e a todas as nações do Oriente Médio: chega de guerras, chega de violência. E ainda a necessidade de respeitar a dignidade humana e a liberdade das pessoas, juntamente com o encorajamento à minoria cristã, exortando-a a permanecer em sua própria terra. Para nós, ele foi um profeta que veio nos dizer: Coragem, não tenham medo!â€
O Patriarca Caldeu partirá na sexta-feira, 25 de abril, para Roma, para concelebrar o funeral do Pontífice e participar do Conclave como cardeal eleitor. “No Iraque, como em todo o mundo, as pessoas estão comovidas e tristes com esta morte†que, apesar das precárias condições de saúde do Pontífice, “ainda assim a notícia de sua morte nos pegou de surpresaâ€.
Em Erbil, antes de partir para Roma, o cardeal Sako participou de uma conferência, na presença de quase mil ministros e líderes religiosos. "Ao falar - contou - quis recordar o bem que o Papa fez à Igreja e ao mundo. Todos ficaram chocados com a sua morte; para nós, é como ter perdido uma voz profética: de paz, esperança, humildade e sensibilidade, de proximidade com as pessoas e, em particular, com aqueles que sofrem. Uma voz que se levantou contra as guerras, contra o extremismo religioso, a favor do diálogo, visitando seis países de maioria muçulmana e assinando o Documento sobre a Fraternidade."
Por fim, um último pensamento é reservado para o histórico encontro com al-Sistani, que não ficou apenas uma foto no álbum de memórias, mas soube traduzir-se em ocasiões — e eventos — concretos na continuação do diálogo, das relações e da fraternidade.
“Al-Sistani enviou uma carta de condolências ao Papa - concluiu o cardeal - recordando que era uma pessoa ‘muito grande’, um mensageiro de esperança. O encontro com al-Sistani foi a origem de uma relação, porque esta era uma das grandes qualidades do Papa Francisco: ter ido além do diálogo acadêmico para criar um diálogo vivo e real entre as pessoas.â€
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