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Papa Francisco na Biblioteca do Palácio Apostólico Papa Francisco na Biblioteca do Palácio Apostólico 

Papa aos media: ir aonde mais ninguém vai

Na sua Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2021 o Santo Padre elogia a coragem dos jornalistas na denúncia de guerras e perseguições. Assinala a importância da comunicação digital e sublinha o valor da experiência pessoal para noticiar a realidade.

Rui Saraiva - Porto

O Papa Francisco publicou a sua Mensagem para o LV Dia Mundial das Comunicações Sociais. Como sempre nas proximidades do dia 24 de janeiro, memória litúrgica de S. Francisco de Sales, padroeiro da imprensa católica.

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O Santo Padre dá como título à sua mensagem aos media: “Comunicar encontrando as pessoas onde estão e como sãoâ€. É o encontro aquilo que mais marca o desafio lançado pelo Papa aos jornalistas. Serem capazes de assumir a frase do Evangelho de João: “Vem e verásâ€, tal como “a fé cristã se comunicou a partir dos primeiros encontros nas margens do rio Jordão e do lago da Galileia†– escreve o Papa.

Ir ao encontro com a coragem dos jornalistas

 

Para o Papa Francisco existe uma “crise editorial†que “corre o risco de levar a uma informação construída nas redações, diante do computador, nos terminais das agências, nas redes sociais, sem nunca sair à ruaâ€. Desta forma, é importante os jornalistas estarem abertos ao encontro procurando verificar “com os próprios olhosâ€. “Se não nos abrimos ao encontro, permanecemos espectadores externos†– escreve o Papa na sua Mensagem.

“O próprio jornalismo, como exposição da realidade, requer a capacidade de ir aonde mais ninguém vai: mover-se com desejo de ver†– lembra Francisco enaltecendo a coragem de muitos jornalistas que se esforçam por narrar a realidade, mesmo que tenham que correr riscos:

“Temos que agradecer a coragem e determinação de tantos profissionais (jornalistas, operadores de câmara, editores, cineastas que trabalham muitas vezes sob grandes riscos), se hoje conhecemos, por exemplo, a difícil condição das minorias perseguidas em várias partes do mundo, se muitos abusos e injustiças contra os pobres e contra a criação foram denunciados, se muitas guerras esquecidas foram noticiadas†– frisa Francisco.

Para o Papa “seria uma perda não só para a informação, mas também para toda a sociedade e para a democracia, se faltassem estas vozes: um empobrecimento para a nossa humanidade†– salienta.

Atenção mediática aos mais pobres

 

O Santo Padre na sua Mensagem refere-se, em particular, ao tempo de pandemia que estamos a viver, sublinhando que “há o risco de narrar a pandemia ou qualquer outra crise só com os olhos do mundo mais ricoâ€. Ou seja, o risco de que a atenção mediática possa ser regida pelos interesses dos mais ricos e poderosos. E o Papa exemplifica:

“Por exemplo, na questão das vacinas e dos cuidados médicos em geral, pensemos no risco de exclusão que correm as pessoas mais indigentes. Quem nos contará a expetativa de cura nas aldeias mais pobres da Ásia, América Latina e África? Deste modo as diferenças sociais e económicas a nível planetário correm o risco de marcar a ordem da distribuição das vacinas anti-Covid, com os pobres sempre em último lugar; e o direito à saúde para todos, afirmado em linha de princípio, acaba esvaziado da sua valência real†– diz o Papa não esquecendo quem sofre “no mundo dos mais afortunadosâ€, sobretudo “o drama social das famílias decaídas rapidamente na pobreza†e que “fazem a fila à porta dos centros da Cáritasâ€.

Na web oportunidades e perigos

 

O Papa refere que a web “pode multiplicar a capacidade de relato e partilha†apontando que com a internet há “muitos mais olhos abertos sobre o mundoâ€.

“A tecnologia digital dá-nos a possibilidade duma informação em primeira mão e rápida, por vezes muito útil; pensemos nas emergências em que as primeiras notícias e mesmo as primeiras informações de serviço às populações viajam precisamente na web. É um instrumento formidável, que nos responsabiliza a todos†– assinala Francisco.

O Santo Padre lembra que “potencialmente, todos podemos tornar-nos testemunhas de acontecimentos que de contrário seriam negligenciados pelos meios de comunicação tradicionaisâ€. Ressalta que “graças à rede, temos a possibilidade de contar o que vemos, o que acontece diante dos nossos olhos, de partilhar testemunhosâ€.

Mas, existem também perigos e riscos como o de uma “comunicação social não verificávelâ€. As imagens podem ser manipuláveis sendo necessária “uma maior capacidade de discernimento†e “um sentido de responsabilidade mais maduro, seja quando se difundem seja quando se recebem conteúdosâ€.

“Todos somos responsáveis pela comunicação que fazemos, pelas informações que damos, pelo controlo que podemos conjuntamente exercer sobre as notícias falsas, desmascarando-as. Todos estamos chamados a ser testemunhas da verdade†– escreve Francisco.

Nada substitui o ver pessoalmente

 

Na sua Mensagem dedicada aos media, o Papa salienta que “algumas coisas só se podem aprender, experimentando-asâ€. “O intenso fascínio de Jesus sobre quem O encontrava dependia da verdade da sua pregação, mas a eficácia daquilo que dizia era inseparável do seu olhar, das suas atitudes e até dos seus silêncios. Os discípulos não só ouviam as suas palavras, mas viam-No falar†– escreve o Papa.

O Santo Padre denuncia a “quantidade de eloquência vazia que abunda no nosso tempo†e lança o desafio de que os comunicadores cristãos usem o método utilizado na difusão da “boa nova do Evangelho†através de “encontros pessoa a pessoa, coração a coração: homens e mulheres que aceitaram o mesmo convite – «vem e verásâ€.

“Todos os instrumentos são importantes, e aquele grande comunicador que se chamava Paulo de Tarso ter-se-ia certamente servido do e-mail e das mensagens eletrónicas; mas foram a sua fé, esperança e caridade que impressionaram os contemporâneos que o ouviram pregar e tiveram a sorte de passar algum tempo com ele, de o ver durante uma assembleia ou numa conversa pessoal†– escreve o Papa lembrando S. Paulo.

O Papa Francisco conclui a sua mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais neste ano de 2021 com uma oração:

Senhor, ensinai-nos a sair de nós mesmos, e partir à procura da verdade.

Ensinai-nos a ir e ver, ensinai-nos a ouvir, a não cultivar preconceitos, a não tirar conclusões precipitadas.

Ensinai-nos a ir aonde não vai ninguém, a reservar tempo para compreender, a prestar atenção ao essencial, a não nos distrairmos com o supérfluo, a distinguir entre a aparência enganadora e a verdade.

Concedei-nos a graça de reconhecer as vossas moradas no mundo e a honestidade de contar o que vimos.

O Dia Mundial das Comunicações Sociais foi estabelecido pelo Concílio Vaticano II através do decreto “Inter Mirifica†em 1963 e assinala-se no domingo antes do Pentecostes. Este ano será a 16 de maio.

Laudetur Iesus Christus

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25 janeiro 2021, 10:01