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Comunidade de Canabrava - MG Comunidade de Canabrava - MG 

“Povos tradicionaisâ€: a canção da luta dos povos às margens do Velho Chico

Composição de Antônio Cardoso para a série documental “Povos da Beira D'águaâ€, da Articulação das Pastorais do Campo, transforma-se em símbolo de esperança para comunidades do Norte de Minas Gerais.

Cláudia Pereira -  APC

As vozes e as lutas dos Povos e Comunidades Tradicionais do Norte de Minas Gerais reverberam denunciando e anunciando sua ancestralidade e identidade  através da série documental “Povos da Beira D'águaâ€. A iniciativa é da Articulação das Pastorais do Campo (APC) — uma força constituída pelas pastorais irmãs, Comissão Pastoral da Terra (CPT), Conselho Pastoral dos Pescadores e Pescadoras (CPP), Serviço Pastoral do Migrante (SPM), Pastoral da Juventude Rural (PJR), Cáritas Brasileira e Conselho Indigenista Missionário (Cimi). A comunicação da APC percorreu cinco territórios produzindo registros audiovisuais sobre a resistência e a identidade desses povos que esperam a regularização fundiária de suas terras.

A narrativa das cinco reportagens é embalada também pela trilha sonora emocionante, que transcende o papel de fundo musical. Como um complemento especial à produção, ao final de cada filme, após os créditos, o espectador é presenteado com o clipe da  do compositor e cantor Antônio Cardoso. A canção, é um hino de força e sensibilidade, foi composta exclusivamente para a série.

Antonio Cardoso
Antonio Cardoso

A causa e a memória de um povo como inspiração para a canção 

Antônio Cardoso, conhecido no universo da música cristã católica por sua arte e seu trabalho como catequista, foi uma peça essencial no projeto que surgiu de forma quase ocasional. Cláudia Pereira da equipe de reportagem da APC, enquanto a produção da série era decupada e roteirizada, em um diálogo por telefone contatou com o cantor. A ideia inicial era modesta: solicitar a cessão de um solo de violão para compor a trilha.

No entanto, ao ouvir os relatos sobre as comunidades, suas dores e sua teimosia na resistência de luta, a memória afetiva de Cardoso foi ativada. Ele se recordou de conversas com o saudoso Dom Luciano Pedro Mendes de Almeida e de um momento de vivências junto a essa realidade do povo mineiro. A empatia transbordou em inspiração. O que seria um simples solo de violão floresceu em uma canção completa.

Lagoa - comunidade quilombola Gameleira
Lagoa - comunidade quilombola Gameleira

Sensibilizado, Cardoso enviou a melodia em poucos dias. Para a surpresa da equipe, em menos de um mês, a música estava inteiramente produzida, gravada e generosamente cedida para se tornar a alma sonora da série.

“A letra é praticamente uma oração, um acalanto que nutre o ‘Esperançar’ não apenas das cinco comunidades retratadas, mas de todos os povos tradicionais do país, especialmente os quilombolasâ€, disse Cláudia Pereira que produziu a série. A composição traduz em notas tanto a dor da violação de direitos quanto a sublime beleza da ancestralidade. O clip da música está disponível no canal do YouTube da Articulação das Pastorais do Campo. A produção audiovisual utiliza imagens captadas durante a realização das reportagens nas comunidades, um registro autêntico e próximo da realidade dos povos. A edição e o roteiro são de Humberto Capucci, com cinematografia de Cláudia Pereira e João Victor Rodrigues.

A iniciativa da Articulação das Pastorais do Campo (APC)
A iniciativa da Articulação das Pastorais do Campo (APC)

Uma trilha sonora plural

Além da obra de Cardoso, a trilha de “Povos da Beira D'água†é enriquecida pelos talentos dos músicos André Luiz Souza e Ewerton de Oliveira. Os artistas assinam composições originais que enriquecem a imersão e as mensagens nos documentários. Ewerton criou solos de piano que ilustram as denúncias de violência vividas pelas comunidades. Para dar o tom da cultura local, o cantor e compositor Zé Pinto, um dos principais cronistas musicais da luta popular, integrou aos filmes a sonoridade dos povos pescadores e quilombolas com seus acordes de viola, o que enriquece a cultura e a beleza das comunidades que praticam a agroecologia.

    

As histórias de luta e resistência contadas na Série "Povos da Beira D'água"

As composições ilustram as cinco histórias de resistência documentadas no Norte de Minas. Conheça cada episódio:

  1. O primeiro filme aborda a realidade de 30 famílias de vazanteiros e pescadores que vivem às margens do Rio São Francisco. Ameaçados pela pressão de órgãos estatais e pela cobiça de grileiros, eles lutam pelo direito fundamental de manter o modo de vida de seus antepassados, intrinsecamente ligado às águas do Velho Chico.

2.                  O segundo documentário expõe um histórico de violência que remonta à década de 1970. Expulsões, invasões e incêndios criminosos, orquestrados por latifundiários e pela especulação imobiliária, marcam a trajetória desta comunidade, que reafirma sua  identidade de quilombolas, pesqueira e vazanteira, como ato de resistência.

3.                  A terceira reportagem é um convite para conhecer o elo sagrado de um povo com o rio. Para os moradores, as margens do São Francisco são o espaço sagrado onde plantam, colhem, pescam e vivem, celebrando uma existência comunitária que resiste em conexão com a natureza e por ser a primeira comunidade tradicional de Minas Gerais a conquistar o Termo de Autorização de Uso Sustentável  (TAUS). 

4.                  A quarta reportagem aborda reforça a resistência de mulheres, homens e jovens  da comunidade na defesa de seu território, suas águas sagradas e sua cultura. A produção destaca os desafios e as conquistas de um povo que luta incansavelmente pela preservação ambiental, reconhecimento de sua identidade, a luta contra a perseguição de latifundiários e a especulação imobiliária. Sem falar de seus direitos básicos a comunidade luta para manter seu legado ancestral.

5.                  Encerrando a série, o documentário narra a luta da comunidade pesqueira e vazanteira de Canabrava. Há mais de 20 anos, o território enfrenta perseguições e tentativas de despejo forçado, chegando a ser expulsos de suas terras há quase oito anos. O filme se torna mais um instrumento na luta pela retomada e permanência em seu território.

Fotos: Cláudia Pereira - APC

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23 agosto 2025, 08:59