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Dom Oriolo- Bispo da Igreja Particular de Leopoldina MG Dom Oriolo- Bispo da Igreja Particular de Leopoldina MG 

Dom Oriolo: Criação divina e a era dos algoritmos

Ao nos conceder a capacidade de conhecer, Deus nos deu uma responsabilidade de não nos contentarmos apenas em entender o mundo, mas atuar sobre ele.

Dom Oriolo- Bispo da Igreja Particular de Leopoldina MG

O texto bíblico mais antigo que atribui a Deus a criação do homem e das coisas criadas é a narrativa javista, assim como consta no livro do Gênesis. Essa descrição vai além, manifestando que o ser criado por Deus é constituído de um princípio material, espiritual e vital. É um ser material porque Deus o modelou com a argila do solo (Gn 2,7) e espiritual e vital, porque Deus soprou em suas narinas um hálito de vida, e o homem tornou-se um ser vivente (cf. Gn 2,7).

Ao criar o homem à sua imagem e semelhança, Deus lhe concedeu a capacidade do conhecimento do bem e do mal (cf. Gn 2,17). Desse modo, o cuidado divino, o seu zelo e sua providência em relação às necessidades do homem (cf. Gn 2,17), requerem a adesão humana. Essa adesão permite que a manifestação do verdadeiro amor divino seja fonte de autêntica amizade com Deus. (cf. Gn 3,8-9).

O conhecimento do bem e do mal era algo reservado somente a Deus. O autor javista deixa a situação bem explícita: “podes comer de todas as árvores do jardim”. Mas, da árvore do bem e do mal não comerás, porque no dia em que dela comeres terás que morrer” (Gn 2,16b-17).

Reconhecemos, assim, que a faculdade do conhecimento foi concedida por Deus a todos nós, manifestando‑se na própria criação, a qual se realiza pela graça divina. Por outro lado, o homem, criado a imagem e semelhança do bom Deus, criou o algoritmo que tem impactado a vida dos seres criados.

Esse princípio fundamental demonstra que a faculdade do conhecimento, como dom divino, está intrinsecamente ligada à responsabilidade moral do homem e à sua cooperação com a providência divina, exigindo assim um livre exercício da razão ao serviço do amor e da verdade.

A medida que as tecnologias de Inteligência Artificial (IA) se tornam mais sofisticadas e presentes em nossas vidas, as decisões e ações humanas têm um impacto crescente na sociedade, levantando questões cruciais sobre ética, responsabilidade, justiça e transparência. Esse sistema está comprometendo a legitimidade e a confiabilidade na maneira de agir e pensar do ser humano.

Algoritmos processam dados para produzir outputs (resultados). Os dados de entrada — que podem ser números, textos, imagens ou qualquer outra forma de informação — servem como matéria-prima que os sistemas computacionais utilizam para encontrar correlações e gerar resultados.

Os Sistemas são alimentados com dados específicos para processar grandes volumes de informação. A lógica desses sistemas, muitas vezes, se adapta e evolui conforme eles aprendem com os dados de treinamento. As falhas algorítmicas, no entanto, surgem quando os dados de entrada são insuficientes, não estão bem estruturados ou não refletem de forma precisa a realidade.

Apesar de seus desafios, os algoritmos de IA, trazem inúmeros benefícios que estão moldando o ser humano e a sociedade. Eles não operam isoladamente, mas estão inseridos em diversos setores, como a saúde, onde aceleram diagnósticos e o desenvolvimento de novos remédios e o transporte, onde aprimoram o melhor deslocamento e a segurança. Eles são projetados, treinados e implementados para influenciar as estruturas do conhecimento e as normas culturais da sociedade.

Nossos hábitos de busca, uso de e-mail, aplicativos e interações em redes sociais são constantemente monitorados, e esses dados alimentam algoritmos que, por sua vez, estão moldando nossa maneira de viver e os nossos comportamentos. Eles estão influenciando nossas decisões de compra e até mesmo as informações às quais somos expostos. É fundamental que o homem, imagem e semelhança do bom Deus, entenda como esses algoritmos funcionam e qual é o seu impacto em nossas vidas, garantindo que o progresso tecnológico seja acompanhado de responsabilidade e de uma proteção eficaz de nossa privacidade e autonomia.

Ao nos conceder a capacidade de conhecer, Deus nos deu uma responsabilidade de não nos contentarmos apenas em entender o mundo, mas atuar sobre ele. A partir desse dom, somos chamados a nos capacitar e transformar o ser humano e a sociedade cada vez mais regida por algoritmos.

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09 setembro 2025, 14:08