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Raquel Ribeiro acompanha ao Jubileu jovens das paróquias de Cascais e do Estoril (Portugal) - foto Rádio Renascença Raquel Ribeiro acompanha ao Jubileu jovens das paróquias de Cascais e do Estoril (Portugal) - foto Rádio Renascença 

No Jubileu dos Jovens mais de 11 mil são portugueses

Raquel Ribeiro é da diocese de Lisboa e acompanha um grupo de paróquias de Cascais e do Estoril. Considera que uma delegação portuguesa com um número tão grande de jovens é algo de fantástico e incrível.

Rui Saraiva – Portugal

Está a decorrer esta semana em Roma o “momento mais esperado” do Ano Santo 2025. Quem o disse, em conferência de imprensa, foi D. Rino Fisichella, pro-prefeito do Dicastério para a Evangelização, a propósito do Jubileu dos Jovens que por estes dias anima a cidade de Roma, de 28 de julho a 3 de agosto.

Presentes peregrinos de 146 países, sendo aguardados cerca de 500 mil jovens. Desses mais de 11 mil chegam de Portugal, segundo dados do Departamento Nacional da Pastoral Juvenil. Uma das maiores delegações é da diocese de Lisboa com 4 mil peregrinos.

Um dos maiores grupos da diocese que acolheu a JMJ 2023, chega das paróquias de Cascais e do Estoril. Raquel Ribeiro é uma das responsáveis por este grupo. Tem 37 anos, é educadora social e está ligada aos Escuteiros de Cascais. Foi a convidada de uma entrevista conjunta conduzida por Ângela Roque da Rádio Renascença, e Octávio Carmo da Agência Ecclesia. Começou por identificar os vários grupos de jovens que acompanha ao Jubileu em Roma.

R: “Nós temos jovens dos escuteiros, da catequese, dos grupos de jovens, dos campos de férias, das paróquias, a proposta foi-se alargando. Por exemplo, temos muitos jovens do colégio do Ramalhão (Sintra), e alguns jovens de Lisboa, a palavra foi passando, e a proposta de estar uma semana em Roma com jovens católicos de todo o mundo, num período mais contido (do que a proposta de 10 dias, da Pastoral Juvenil) e com um valor a pagar bastante razoável – que esse era também um ponto de esforço da organização – era muito apelativo. Então, acaba por ser um grupo de jovens Cascais/Estoril alargado.”

P: São atividades muito ligadas às paróquias e aos escuteiros. Ser escuteira também tem facilitado estar à frente desta organização?

R: “Claro, sem dúvida. Isto é o nosso ADN, o método do projeto, colocarmos os jovens na frente destas iniciativas. É o nosso ADN. Na verdade, quando criámos a proposta do Jubileu dos Jovens dentro dos escuteiros foram eles que a propuseram, é assim que funciona, e depois em grupo aprovamos e dizemos que sim. Aqui também nos fazia sentido que os jovens liderassem esta iniciativa, tanto na lógica da preparação mais espiritual e do grupo, de nos conhecermos todos uns aos outros, porque somos muitos, como na lógica da angariação de fundos.

Temos cinco pessoas mais crescidas na equipa de organização central, incluindo dois padres. Todos os outros animadores têm até aos 26 anos, assumindo a responsabilidade de ajudarem a liderar o grupo, mas são todos eles jovens, porque isso faz parte. O ser escuteira acho que trouxe também essa natureza para a forma como lidamos e estamos a lidar com este grupo.”

P: É uma estrutura de cinco pessoas, com ajuda desses tais animadores. No seu caso já participou nestes grandes eventos antes…

R: “Já participei em alguns, sim. Enquanto escuteira participei nos Jamboree – os acampamentos mundiais – no Japão e nos Estados Unidos. Enquanto grupo mais alargado, não necessariamente dos escuteiros, fui à Jornada Mundial da Juventude de 2011 em Madrid, enquanto jovem.”

P: Aí também eram quase 10 mil portugueses…

R: “Sim, éramos muitos. Mesmo assim fico surpreendida com este número este ano, porque Madrid foi uma viagem de autocarro, foi uma noite, até se fez relativamente bem. E 11 mil agora, é fantástico, é incrível!

Tivemos essa experiência em Madrid, preciosa e que guardo com muito carinho na minha vida, e isso também é algo que me faz querer ajudar a que mais jovens vivam este tipo de atividades.

Na Jornada Mundial da Juventude de Lisboa, no âmbito do levantamento de voluntários do Corpo Nacional de Escutas, fui voluntária dos escuteiros. Tínhamos um grupo de jovens integrados no grupo da paróquia a viver a JJM e eu estava como voluntária para aquilo que fosse preciso a nível central.”

P: O convite para este Jubileu foi lançado precisamente na JMJ Lisboa. Estes momentos são sempre balões de oxigénio para os jovens, para o resto do ano? 

R: “Sem dúvida, para o ano que olhamos para a frente. Quando começamos a preparar o ano, no caso escutista, e também o ano da Igreja, em setembro, olhamos sempre para agosto (do ano seguinte) com uma esperança, porque, na verdade, estamos a ser puxados pela âncora até lá. Mas, depois o bichinho fica: fica para os irmãos mais novos que ficam em casa, a rezar para que corra tudo bem, mas também já a olhar, se calhar, para a Coreia, quem sabe, para os eventos futuros, e fica para quem viveu esta experiência e depois pretende partilhar.

Para mim ter jovens que viveram a Jornada Mundial da Juventude em 2023 e que hoje são animadores, acho que faz todo o sentido. Porque eles viveram, experienciaram, e querem agora partilhar com os mais novos, ajudando a liderar o grupo. Estas são as sementinhas que estes grandes eventos vão acabando por criar nos nossos jovens.”

P: Falamos há pouco da surpresa perante o facto de irem a Roma mais jovens ainda, a nível nacional, do que foram, por exemplo, a Madrid, em 2011. O que aconteceu há dois anos aqui em Lisboa ajuda a explicar esse sucesso? 

R: “Penso que sim, sem dúvida! Se calhar quem nunca tinha tido oportunidade de experienciar de forma tão próxima o que é uma Jornada Mundial da Juventude, via o encontro fora, pela televisão, pelas redes sociais, mas não sentia aqui presencialmente, na minha rua, na minha escola, na minha paróquia, peregrinos a passar. O ver na vida real, no nosso mês de julho e de agosto, que acabou por ser aquele verão de 2023, é diferente de ver num écran. E depois, claro que deixa um ‘bichinho’.

Mas, queria também dizer uma coisa que acho relevante, na qual pensei quando me lançaram este convite para vir aqui conversar: temos alguns jovens de 14 e 15 anos, e que na altura não tinham idade, mas que agora querem, são os primeiros ali da fila!”

P: Os mais novos têm 14 anos?

R: “Temos uns quantos. E depois temos jovens de 18, 19, 20 anos, que na altura viveram a JMJ ainda como adolescentes, e que agora já são jovens adultos e continuam a ter vontade de participar, aqui com uma experiência alargada, que é estar num outro país, com outra cultura.”

P: Para a maioria este será o primeiro grande encontro com o Papa Leão XIV. Qual é a expectativa que sente no grupo, nos jovens que vão, sobre este encontro? E também em termos pessoais…

R: “Do novo Papa, o Papa Leão, ainda não senti falarmos muito. Ainda vai começar a surgir, porque é um Papa novo… vai ser preciso esta aproximação, conhecer melhor. Claro que gostamos todos do Papa Leão, obviamente, mas o Papa Francisco já o conhecíamos, já o tínhamos visto se calhar na JMJ, e queríamos revê-lo.”

P: Aliás, as inscrições no Jubileu tinham de ser entregues até março, e nessa altura o Papa ainda era Francisco…

R: “Exatamente. Claro que ninguém se inscreve só para ver o Papa, e também não é só essa experiência e essa oportunidade de fé que queremos proporcionar, mas claro que motiva. Agora, no primeiro dia em que estivermos no meio daquela multidão a ver o Papa chegar, eu acho que aí se calhar dizem ‘olha, já o conheço, está aqui à minha frente’. Acho que isso pode fazer diferença. O facto de ser em Roma é um grande apelo: a Praça de São Pedro, o Vaticano. Já temos bilhetes para ir ao Museu do Vaticano, à Capela Sistina, às Portas Santas todas. Este apelo especial que só surge no Jubileu acaba por ser aqui o grande atrativo para termos tantos jovens inscritos.”

P: Há uma curiosidade: o primeiro grande encontro do Papa Bento XVI após a sua eleição foi a Jornada Mundial da Juventude em Colónia, e o primeiro grande encontro do Papa Francisco foi a JMJ no Rio de Janeiro. Vocês vão fazer história. 

“É verdade! E espero que seja marcante para todos, e que a juventude continue a marcar o pontificado do Papa Leão. Vai ser especial para todos.” 

P: Este jubileu coincide com o segundo aniversário da JMJ Lisboa. Que balanço faz destes dois anos? Este evento que aqui acolhemos deixou marcas para a Pastoral Juvenil? Causou mudanças na forma como a Igreja também mobiliza e conta com os jovens?

R: “Penso que sim, e aqui vou-me focar nos escuteiros: na Jornada Mundial da Juventude de 2023 estava a acontecer em simultâneo o Jamboree, na Coreia. Nós tivemos um grupo que dois anos antes tinha estado a decidir o que é que ia fazer. Depois a data da JMJ foi alterada, o ano em que ia acontecer, por causa da pandemia, e houve uma sobreposição. Houve um grupo de 20 escuteiros que foram ao Jamboree e não à JMJ. Eles gostaram muito do Jamboree, o acampamento mundial, mas na altura ficaram a achar que se calhar deviam ter ficado em Lisboa a viver a Jornada Mundial da Juventude, exatamente porque existe um sentido de Igreja universal, que é dos jovens – não é para os jovens, mas é dos jovens também – e estes são os momentos de pico desta vida espiritual que os jovens têm em Igreja.

Eles na altura não se sentiram parte, porque só viram a JMJ num retângulo do écran, e a partir daqui vão-se sentir parte para sempre. Começa agora, esta é a porta, já se abriu. Abriu-se em setembro quando decidimos que íamos, e a porta está aberta e fica escancarada para momentos futuros. Estas âncoras na vida espiritual de cada um acabam por marcar a experiência de fé dos atuais jovens, futuros adultos, que depois vão também espalhar essa experiência.”

No programa do Jubileu dos Jovens, especial destaque para os encontros com o Santo Padre em Tor Vergata, local histórico e simbólico onde S. João Paulo II encontrou jovens de todo o mundo durante o Jubileu do ano 2000 em Roma. Na noite de sábado 2 de agosto será a Vigília com o Papa e no domingo de manhã, 3 de agosto, a Missa presidida por Leão XIV.

Laudetur Iesus Christus

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28 julho 2025, 11:24