Arquidiocese do Rio de Janeiro abre Jubileu pelos 450 anos da Prelazia
Carlos Moioli - Arquidiocese do Rio de Janeiro
A Santa Missa, presidida pelo arcebispo metropolitano, Cardeal Orani João Tempesta, foi realizada na Catedral de São Sebastião, no Centro, com a participação de bispos auxiliares, sacerdotes, diáconos, religiosos, seminaristas e fiéis de diversos vicariatos.
A comemoração jubilar começou logo cedo com a Liturgia das Horas na Igreja de Nossa Senhora de Bonsucesso, também no Centro, de onde partiu uma peregrinação até a Catedral, uma das igrejas jubilares da arquidiocese, passando pela Praça do Expedicionário.
A caminhada, na qual Dom Orani seguiu em um carro-andor com a imagem peregrina de São Sebastião, reuniu milhares de leigos com bandeiras nas cores de seus vicariatos, marcando o Jubileu dos Leigos e dos Missionários Digitais na arquidiocese
Durante a missa, Dom Orani lembrou o valor histórico e missionário da data: “O Evangelho foi semeado em nossa cidade do Rio de Janeiro para que Jesus Cristo se fizesse presente no coração de cada pessoa. A semeadura foi generosa e uma abundância de frutos foi colhida.”
No presbitério da Catedral estavam expostas a histórica imagem de São Sebastião, que por tradição foi trazida por Estácio de Sá ao fundar a cidade do Rio de Janeiro, acompanhada de uma relíquia do santo mártir padroeiro da Catedral, da arquidiocese, da cidade e do Estado fluminense.
Também o decreto da Penitenciária Apostólica, que concede Indulgência Plenária aos fiéis presentes, desde que arrependidos, confessados e comungados. Ao fim da celebração, o arcebispo impartiu a bênção com a indulgência plenária em nome do Santo Padre Leão XIV.
Unidade e a missionariedade
Em sua homilia, Dom Orani refletiu sobre os desafios e as esperanças da missão evangelizadora na atualidade, e destacou dois pilares do jubileu: a unidade e a missionariedade.
“Nós herdamos uma caminhada de uma bela história e nos inserimos nela. Queremos caminhar juntos, no mesmo passo, dar continuidade ao trabalho missionário, evangelizador que faz parte da nossa vida. Louvamos e bendizemos a Deus pela história do passado, por todos os trabalhos realizados, ao mesmo tempo pedimos que Ele nos impulsione a ir para frente, abertos à ação do Espírito Santo. Mesmo diante dos desafios hoje, de encontrar a melhor maneira de servir o povo de Deus”, disse Dom Orani, convidando os fiéis a viverem o Jubileu com espírito de missão, que se estenderá até 2026, com ampla programação pastoral, cultural e celebrativa.
O arcebispo também enfatizou a necessidade de encontrar formas de servir a comunidade diante dos desafios do mundo de hoje, de se adaptar e utilizar as ferramentas digitais na evangelização, de lidar com os impactos e oportunidades que a inteligência artificial apresenta e responder a ideologias que vão e voltam.
“O mundo de hoje exige de nós uma fidelidade criativa. Diante de realidades como a digitalização, a inteligência artificial e novas ideologias, devemos permanecer fiéis ao Evangelho e atentos à ação do Espírito Santo”, disse.
Dom Orani destacou que a unidade na diversidade é um dos principais chamados do Jubileu Arquidiocesano, tarefa contínua da Igreja, especialmente em tempos desafiadores. Ele apontou que a diversidade de dons, carismas e serviços na Igreja deve ser valorizada como expressão da beleza da comunhão em Cristo.
Segundo o arcebispo, a unidade não significa uniformidade, mas a convivência harmoniosa entre as diferenças, sempre com o olhar voltado para a missão. “Somos chamados a viver a unidade em Cristo Jesus, e a caminhar juntos na evangelização, na catequese e no trabalho pastoral.”
Hino do Jubileu Arquidiocesano
Foi apresentado durante a celebração pelo Coral Arquidiocesano o Hino do Congresso Eucarístico Internacional, de 1955, e cantado pela primeira vez o Hino Oficial do Jubileu Arquidiocesano, com letra de Dom Orani e música do maestro Marcos Paulo Mendes. Intitulado “450 anos de graça e missão”, acompanhará toda a programação jubilar ao longo do ano.
“Um tempo para celebrar e evangelizar”
Ao final da missa, o arcebispo assinou e promulgou a Carta Pastoral “Jubileu Arquidiocesano – Um tempo para celebrar e evangelizar”, marcando o início das comemorações jubilares. A data de 19 de julho remonta exatamente à criação da Prelazia do Rio de Janeiro, em 1575, por decreto do Papa Gregório XIII, como sinal do compromisso missionário da Igreja num país ainda em formação. A nova circunscrição eclesiástica abrangia o território desde a Capitania de Porto Seguro, na Bahia, até o Rio da Prata.
Leitura da Bula
Para fazer memória da criação da Prelazia, o padre Eraldo Leão Filho, doutorando em História Social pela UFRJ e professor de História da Igreja, fez a leitura resumida da Bula “In supereminenti militantis Ecclesiae”, de 19 de julho de 1575, pela qual o Papa Gregório XIII, a pedido do rei de Portugal D. Sebastião, criou a vigararia ou administração eclesiástica do Rio de Janeiro, por desmembramento de territórios pertencentes à Diocese de Salvador da Bahia, então com a sede vacante.
Na época, o Pontífice determinou que o território da supradita vigararia fosse governado por um vigário ou administrador, a quem caberia toda a jurisdição que anteriormente cumpria ao bispo de Salvador, com a exceção de poder celebrar o Sacramento da Ordem, vigário que seria escolhido e nomeado pelo rei de Portugal, após avaliação e aprovação pelos deputados da Mesa da Consciência e Ordens, sem que a decisão régia tivesse que ser confirmada por qualquer autoridade romana.
Exposição sobre Congresso Eucarístico de 1955
Encerrando a manhã celebrativa, foi inaugurada no Museu Arquidiocesano de Arte Sacra, no subsolo da Catedral, a Exposição dos 70 anos do 36º Congresso Eucarístico Internacional, ocorrido no Rio de Janeiro, em 1955, o primeiro e único realizado no Brasil. A mostra, organizada pelo diretor artístico do Museu, padre Fernandes Elias Junior, reúne documentos, paramentos, objetos e imagens que retratam o evento que marcou profundamente a vida da Igreja no país.
Carta Pastoral
A Carta Pastoral “Jubileu Arquidiocesano: Celebrar e Evangelizar”, do Cardeal Orani João Tempesta, assinada em 19 de julho de 2025, marca o início do Ano Jubilar Arquidiocesano. A motivação central é celebrar os 450 anos da criação da Prelazia do Rio de Janeiro (1575) e os futuros 350 anos de sua elevação a diocese (em novembro do ano seguinte). É um tempo para celebrar, evangelizar, resgatar a história, renovar a identidade eclesial e reacender o ardor missionário, inserido no contexto do Ano Santo do Jubileu Ordinário de 2025, um “tempo de esperança”.
A carta aborda diversos assuntos. Primeiramente, detalha a história de fé da arquidiocese, desde a fundação da Prelazia em 1575 e elevação a diocese em 1676, até se tornar arquidiocese metropolitana, em 1892. Destaca a constante presença da Igreja em meio às transformações sociais e culturais, atuando em diversos ambientes e relembrando marcos como o Congresso Eucarístico Internacional de 1955 e as visitas dos Papas São João Paulo II e Francisco, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude, em 2013.
A Carta Pastoral aprofunda a compreensão da Igreja como o Povo de Deus e Corpo Místico de Cristo. Explora termos bíblicos como “ekklesia” e “corpo de Cristo”, sublinhando a íntima comunhão com Cristo e a unidade dos fiéis. Salienta que a Igreja universal se manifesta e atua plenamente em cada Igreja particular (diocese), e que a Eucaristia é a manifestação privilegiada dessa unidade.
Por fim, a carta explica o sentido do Jubileu na tradição judaico-cristã (Lv 25), como um tempo de graça, perdão, libertação e restituição. Anuncia a concessão de indulgência plenária pelo Papa Leão XIV para o período de 19 de julho de 2025 a 19 de julho de 2026, mediante condições como confissão, comunhão, oração pelo Papa e peregrinação a igrejas jubilares designadas. O tema do Jubileu é “No Cristo, somos um para que todos sejam um!”, e o lema é “Alegres na esperança, fortes na tribulação, perseverantes na oração e enviados em missão”, orientando a unidade e a missão em meio aos desafios.
A carta conclui com um convite à oração contínua, ao estudo e à participação ativa nas atividades pastorais para uma evangelização audaciosa, com o logotipo do Jubileu simbolizando a cruz, o mártir São Sebastião e os fiéis como “pedras vivas”.
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