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Antifonário do Missal valoriza, com canto bíblico. Antifonário do Missal valoriza, com canto bíblico. 

Antifonário do Missal valoriza, com canto bíblico, a participação na liturgia

O projeto musical e pastoral foi reconhecido e acolhido pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que agora disponibiliza o material em formato impresso e digital.

Fernando Geronazzo —  O São Paulo

No momento em que a assembleia se reúne para a celebração eucarística, um elemento litúrgico rompe o silêncio com profundidade e sentido: as antífonas de entrada. Mais do que simples cantos iniciais, são trechos bíblicos – geralmente dos Salmos – que abrem a missa com a força da Escritura cantada, unindo rito, música e oração em um gesto espiritual que já anuncia o mistério que será celebrado.

As antífonas compõem parte essencial da liturgia prevista no Missal Romano. No entanto, ainda são pouco conhecidas e valorizadas em muitas comunidades. Foi para tornar essa riqueza acessível ao povo de Deus que surgiu o Antifonário do Missal Romano, publicado pelas Edições CNBB.

Esta iniciativa nasceu da experiência pastoral na Arquidiocese de São Paulo e foi gradualmente acolhida por diversas dioceses, como Brasília (DF) e a Campanha (MG). É resultado de mais de quatro anos de trabalho do maestro Delphim Rezende Porto, doutor em Musicologia e diretor de Música da Catedral da Sé, e do Padre José Weber, SVD, compositor, em diálogo com diversas comunidades eclesiais do Brasil.

O projeto musical e pastoral foi reconhecido e acolhido pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que agora disponibiliza o material em formato impresso e digital, com mais de 120 faixas gravadas e partituras acessíveis pelo site .

A proposta musical do Antifonário é marcada pela simplicidade melódica, acessível à assembleia, com apoio do coro e do órgão, “e não apenas por solistas e coros especializados”, como frisou Delphim ao O SÃO PAULO. “Trata-se de uma música que não busca embelezar a missa com canções devocionais, mas que brota do próprio rito e o serve com arte, simplicidade e profundidade”, acrescentou o maestro.

REPERTÓRIO ACESSÍVEL

O Antifonário foi oficialmente apresentado pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, que concedeu o Nihil Obstat à publicação. Em sua apresentação, o Purpurado enfatizou o valor espiritual e pastoral das antífonas de entrada e Comunhão que, segundo ele, “com frequência, são ignoradas na celebração da missa”.

Dom Odilo também ressaltou o caráter acessível do repertório: “As melodias são simples e facilmente cantáveis pelo povo. A mesma melodia pode até ser usada para vários textos, facilitando a sua execução pastoral. As antífonas já foram provadas com a participação do povo na Catedral de São Paulo”.

PALAVRA CANTADA

O prefácio da obra, assinado por Dom Jerônimo Pereira Silva, monge beneditino e docente do Pontifício Ateneu Santo Anselmo, em Roma, aprofunda o valor litúrgico e espiritual do projeto. Ele destacou que a música do Antifonário “acompanha a mais antiga tradição musical litúrgica cristã de palavra cantada e não música palavreada”.

Dom Jerônimo descreve o canto processional como uma verdadeira “entrada da salvação e da graça no mundo”, o que confere às antífonas não apenas função estética, mas sacramentalidade simbólica. Ele afirma que a procissão com canto na missa “indica a entrada da salvação e da graça no mundo, o ‘advento dançante’ de Cristo escoltado pelos dois Testamentos e cercado pelo coro dos santos”.

Do ponto de vista musical, as antífonas de entrada foram compostas com base na linguagem acessível e viva da tradição coral congregacional. Já as antífonas de comunhão foram cedidas pela Abadia da Ressurreição, no Paraná, nascidas da tradição monástica, em fidelidade ao estilo do canto gregoriano. Juntas, representam uma síntese entre tradição e pastoralidade, forma canônica e beleza acessível.

As gravações das antífonas contaram com a participação dos seminaristas da Arquidiocese de São Paulo e dos membros da São Paulo Schola Cantorum.

INCULTURAÇÃO LITÚRGICA

Inspirado pelos princípios do Concílio Vaticano II, o Antifonário também se insere no esforço de inculturação litúrgica, entendida como um caminho que vai além do uso de elementos da cultura popular.

“É importante lembrar que inculturação não se resume a usar arranjos musicais folclóricos, mas fazer com que a Palavra de Deus se torne carne na cultura do povo – no nosso caso, com a língua portuguesa, o ritmo e a melodia que o povo brasileiro pode cantar com naturalidade e fé”, explicou Delphim.

Esse ideal motivou também a pesquisa acadêmica que fundamenta o projeto. O trabalho de conclusão de curso do próprio Delphim na graduação em Teologia na PUC-SP foi sobre o tema do canto de entrada, aprofundando o papel das antífonas como expressão do povo sacerdotal, profético e celebrante.

A SERVIÇO DA IGREJA

Com a recente implementação da terceira edição típica do Missal Romano no Brasil, o Antifonário chega em hora oportuna. Ele oferece um repertório musical fiel aos textos do Missal, já traduzidos e aprovados para o uso litúrgico, em linguagem melódica clara e profundamente eclesial.

Mais que uma publicação, o Antifonário é um convite: para que cada paróquia, cada assembleia e cada fiel redescubra o canto litúrgico como oração cantada da Palavra de Deus, e não como mero “enfeite sonoro”. É a concretização daquilo que o Concílio desejou e a tradição confirma: que o povo cante sua fé com sentido, beleza e verdade.

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31 julho 2025, 16:21