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Jornadas Pastorais do Episcopado Português (CEP) - foto Agência Ecclesia Jornadas Pastorais do Episcopado Português (CEP) - foto Agência Ecclesia  (Rui Saraiva - Porto (Portugal))

Portugal: bispos refletiram sobre sinodalidade

As Jornadas Pastorais do Episcopado português foram vividas em modo alargado, envolvendo organismos diocesanos, órgãos nacionais da Conferência Episcopal e também membros dos Movimentos e dos Institutos Religiosos e Seculares.

Rui Saraiva – Portugal

Entre os dias 16 e 18 de junho decorreram em Fátima as Jornadas Pastorais do Episcopado português. Uma atividade habitual nesta altura do ano que desta vez envolveu também representantes das equipas sinodais diocesanas e dos órgãos nacionais da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), bem como membros dos Movimentos e dos Institutos Religiosos e Seculares. O tema foi “O processo sinodal nas dioceses e na Conferência Episcopal Portuguesa”.

Em comunicado, a CEP assinala que este foi “um tempo fecundo de escuta, partilha e discernimento comum sobre o caminho sinodal que a Igreja em Portugal tem vindo a trilhar”.

Aprender a caminhar juntos

“Mais do que um encontro de balanço, estas jornadas procuraram ser um verdadeiro exercício de sinodalidade, onde cada voz, a partir do seu batismo, foi chamada a contribuir para a construção de uma Igreja que caminha junta, em permanente conversão e aberta ao Espírito”, diz a nota final destas Jornadas Pastorais.

Especial relevo neste encontro para a reflexão sobre a implementação do processo sinodal nas dioceses, momento no qual foram partilhadas “as experiências, os avanços e os desafios vividos em cada realidade local”.

“Constatou-se com alegria que todas as dioceses estão envolvidas no caminho sinodal, com ritmos e metodologias próprias, mas unidas por uma vontade comum de conversão pastoral”, diz o comunicado da CEP.

Foi destacada também a importância da prática da “conversação no Espírito” que “tem gerado frutos de escuta” e de “discernimento partilhado”.

Contudo, existem e persistem ainda muitas dificuldades para a implementação real da sinodalidade nas dioceses: “resistências culturais, falta de tempo e de meios, dificuldades de comunicação e cansaço institucional”, são algumas das dificuldades citadas.

Também foi referida a importância de envolver mais os jovens, de reforçar a sinodalidade nos seminários e nas estruturas de governo pastoral.

“A sinodalidade, disseram vários participantes, só será verdadeira se passar das palavras aos gestos concretos de escuta, participação e decisão partilhada”, revela a nota da CEP.

Houve também tempo nestas Jornadas para uma análise ao “processo sinodal nos órgãos de comunhão nacional da Igreja em Portugal”. Tendo sido destacada “a importância crucial da comunicação”.

Sublinhada também “a urgência de maior transparência e prestação de contas” e a “simplificação das estruturas existentes”.

De destacar que neste encontro foi sublinhada a importância de serem fomentadas “redes interdiocesanas” que promovam “espaços de cooperação, partilha de boas práticas e construção conjunta de projetos pastorais”.

Destas Jornadas Pastorais do Episcopado, vividas em modo alargado, emerge a ideia de que a sinodalidade “está viva em Portugal, em processo e em construção”, refere a nota da CEP.

“Estamos a aprender a caminhar juntos”, conclui a nota.

A Igreja é Sínodo e o Sínodo é Igreja

Neste sentido de gerar processo e de construir caminho em conjunto, teve forte impacto no período entre as duas sessões do Sínodo, um encontro que reuniu em Roma, em 2024, quase duas centenas de sacerdotes. Foi a Assembleia Mundial “Párocos pelo Sínodo” subordinada ao tema “Como ser uma Igreja local sinodal em missão”.

Participou com grande entusiasmo nesta assembleia mundial de párocos, o padre António Bacelar que é pároco da Maia, na diocese do Porto. Em entrevista à Rádio Vaticano publicada no Vatican News em final de maio de 2024, o padre António Bacelar assinalou que “não há caminho sinodal, sem a contínua conversão de cada um”. Porque “a Igreja é Sínodo e o Sínodo é Igreja”, declarou.

“O andamento do Sínodo é o andamento da Igreja, porque a Igreja é Sínodo e o Sínodo é Igreja. Aquilo que partilhei com os colegas que faziam parte do meu grupo, é que não há Igreja, não há caminho sinodal, sem a contínua conversão de cada um. Isto é, sem o irmos à fonte e a fonte é Deus. No caminho sinodal toca-se algo, que às vezes, pode ficar distante do nosso quotidiano, é que a Igreja é de Deus. É povo de Deus. E este de Deus não é um ornamento. É aquele que a conduz, que a inspira que a leva. E o caminho sinodal parece-me que traz este fruto. Eu vejo sempre este reconduzir-nos à fonte e celebrar e construir a Igreja por aquele que de facto a conduz e que é Deus. E isto desdobra-se na história, nas culturas diferentes, nas dificuldades que muitas vezes uma Igreja muito em volta da hierarquia e dos padres, pode constituir uma dificuldade. Quando se fala do clericalismo, fala-se da tentação por parte dos padres, mas também da parte dos leigos. Trata-se de uma conversão de mentalidade de que o Sínodo é um passo muito importante”, sublinhou o padre António Bacelar.  

Da assembleia mundial de párocos, o sacerdote português assinalou a partilha de sonhos, de visões e dificuldades, mas sobretudo a experiência do método da conversação no Espírito.

“Poder participar com párocos de todo o mundo, neste contexto do caminho do Sínodo, poder partilhar experiências, partilhar sonhos, visões e dificuldades, foi absolutamente extraordinário. Extraordinária também a experiência do método que se está a desenvolver e aprofundar na Igreja com o Sínodo e de que este encontro foi parte, este método de discernimento usando a conversação no Espírito nos diversos grupos onde o encontro se desenrolou”, assinalou o sacerdote.   

A Assembleia Mundial “Párocos pelo Sínodo” recolheu em 2024 a reflexão de cerca de duzentos párocos em ritmo de oração, de escuta e de partilha de experiências.

Neste mês de junho de 2025, a CEP sublinha a importância do caminho sinodal afirmando que as “Jornadas Pastorais do Episcopado 2025 foram um sinal concreto de que este caminho sinodal é possível”.

Recordemos que sobre o processo sinodal que está em fase de aplicação, foi publicada uma Carta a 15 de março de 2025 pela Secretaria Geral do Sínodo, aprovada pelo Papa Francisco, que propõe um “processo de consolidação do caminho já percorrido” entre 2021 e 2024.

Um documento que vem no seguimento da publicação das conclusões do Sínodo em outubro de 2024 e que propõe um trabalho a iniciar em 2025 nas igrejas locais e que terá conclusão numa Assembleia Eclesial que deverá decorrer em Roma no ano 2028.

Laudetur Iesus Christus

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23 junho 2025, 10:25