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Papa Leão XIV à Conferência Episcopal Italiana (CEI): "dignidade humana corre o risco de ser esquecida" Papa Leão XIV à Conferência Episcopal Italiana (CEI): "dignidade humana corre o risco de ser esquecida"  (ANSA)

Papa Leão: “Que a sinodalidade se torne uma mentalidade”

Falando aos bispos de Itália, o Santo Padre pediu-lhes para não terem medo de escolhas corajosas, tais como, estar próximos das pessoas, compartilhar a vida, caminhar com os últimos e servir os pobres.

Rui Saraiva – Portugal

No dia 17 de junho o Papa Leão recebeu em audiência a Conferência Episcopal Italiana. No discurso que proferiu na ocasião, fez um sublinhado muito intenso sobre a sinodalidade, pedindo, desde logo, unidade: “Avancem em unidade, pensando especialmente no Caminho Sinodal”, disse o Santo Padre.

Não tenham medo de escolhas corajosas

Leão XIV pediu aos bispos italianos para permanecerem unidos e abertos às “provocações do Espírito”, dizendo para não se defenderem dessas provocações. No fundo, para não terem uma atitude de recusa àquilo que é novo, mas de abertura.

E, assim, exortou os bispos de Itália a uma verdadeira mentalidade sinodal: “Que a sinodalidade se torne uma mentalidade, no coração, nos processos de tomada de decisões e nos modos de agir”, disse Leão XIV.

É oportuno registar que a II Assembleia Sinodal da Itália, que decorreu entre 31 de março e 3 de abril, chegou ao fim sem a aprovação do documento de conclusões, tendo essa decisão sido adiada para o próximo mês de outubro.

Na terça-feira, 17 de junho, o Santo Padre Leão lançou um desafio aos bispos italianos: “olhem para o amanhã com serenidade e não tenham medo de escolhas corajosas”, disse o Papa.

Escolhas corajosas que são “estar próximos das pessoas”, “compartilhar a vida”, “caminhar com os últimos” e “servir os pobres”, sublinhou Leão XIV.

Precisamente, para tornar a sinodalidade numa mentalidade que faça palpitar o coração, foi criada a Rede Sinodal em Portugal, um site com o objetivo de centralizar informações e conteúdos sobre o processo sinodal, facilitando a comunicação e assim, a participação, a comunhão e a missão.

Neste âmbito foi desenvolvida a iniciativa “No coração da esperança”, promovida em parceria com os seguintes meios de comunicação social: Diário do Minho, Voz Portucalense, Correio do Vouga, Correio de Coimbra, A Guarda, 7Margens, Rede Mundial de Oração do Papa e Folha do Domingo.

Libertar do clericalismo

O primeiro entrevistado deste podcast foi o teólogo checo Tomáš Halík, em dezembro de 2024, que sublinhou que o processo sinodal deve libertar-nos do clericalismo.

Fazendo uma primeira leitura sobre o Documento Final do Sínodo, Halík considera que não foi fácil produzir um texto após a escuta de tantas vozes. Assinalou que “não devemos ter expectativas irrealistas, mas sim assumir a nossa própria responsabilidade”. Porque há “muitas políticas boas para o futuro” no documento.

“Admiro os autores deste documento, porque não foi fácil resumir tantas vozes. E logo de seguida. Esperava que o documento chegasse dois meses depois da última sessão, mas foi no último dia da sessão. Portanto, não é fácil juntar todas estas vozes muito diferentes num só documento. Por isso, admiro essas pessoas.

Mas há muitas políticas boas para o futuro. Por isso, não podemos esperar que o Sínodo tenha a solução para todos os problemas. Não é um concílio. Penso que foi mais como um retiro espiritual para inspirar as pessoas, para dar alguma inspiração para dar alguns impulsos e para apoiar a energia para ir mais longe. Há muito boas ideias no documento do Sínodo, mas agora o caminho é como interpretá-lo e como pô-lo em prática.

Por isso, mesmo que as pessoas digam, porque é que não temos todas as respostas do Papa e do Vaticano? E criticam o Papa e o Sínodo, mas isto é o clericalismo: a expectativa de que será decidido de alguma forma pelas estruturas. Não! Agora temos a responsabilidade de o fazer a partir das bases. O Sínodo deve libertar-nos deste clericalismo, de apenas ouvir e esperar. As pessoas, estão desiludidas, devido a expectativas demasiado irrealistas. Para ficarem satisfeitas, tem de haver um equilíbrio entre as expectativas e a realidade e, por isso, não devemos ter expectativas irrealistas, mas sim assumir a nossa própria responsabilidade”, declarou.

O padre Tomáš Halík assinalou nesta entrevista à Rede Sinodal em Portugal a importância do método sinodal da conversação no Espírito.

“Antes de mais temos de ouvir e, depois deste silêncio, deste momento contemplativo, colocar para o exterior o que ouvimos, e também a voz do nosso subconsciente, do nosso coração, para juntar tudo e pensar sobre isso no Espírito. Por isso, penso que esta conversa no Espírito é tão importante que as reuniões sinodais são uma forma de oração, de oração contemplativa. Não se trata apenas de uma conferência científica. Esta é a minha sugestão para o Papa para a próxima reunião dos teólogos. Penso que o encontro ecuménico dos teólogos não deveria ser apenas um congresso científico, mas aplicar mais este método de sinodalidade, de ouvir, de refletir, de meditar, de rezar e depois juntar o fruto desta meditação”, afirmou.

Nesta entrevista, o sacerdote checo disse que para mudar a mentalidade de alguns clérigos seria necessário um milagre. Uma resposta à seguinte pergunta: como seria possível aplicar as conclusões do Sínodo sem correr o risco de fazer apenas uma transformação estética a uma Igreja clerical que continua a persistir?

“Pergunta difícil, penso que mudar a mentalidade de algumas pessoas, especialmente, de alguns clérigos, seria uma maravilha, um milagre. Acreditamos em milagres, mas não os podemos manipular. Podemos rezar, podemos discutir sobre isso, mas não podemos manipular milagres. Por isso, para mudar a mente de algumas pessoas, seria realmente um milagre. Eu acredito em milagres, mas não podemos contar com isso”, respondeu Tomáš Halík.

Um caminho para a aplicação do Sínodo

O Documento Final do Sínodo publicado no dia 26 de outubro foi aprovado nos seus 155 pontos e apresenta o fruto de 3 anos de escuta do povo de Deus. Um tempo que colocou em caminho milhões de pessoas em todo o mundo refletindo sobre o tema “Por uma Igreja sinodal: participação, comunhão e missão”.

Nesta segunda e última sessão da XVI Assembleia Geral do Sínodo dos bispos, participaram em Roma 368 membros com direito a voto, dos quais 272 eram bispos; à imagem do que aconteceu na primeira sessão em 2023, mais de 50 votantes foram mulheres, entre religiosas e leigas de vários países.

Recordemos que sobre o processo sinodal que está em fase de aplicação, foi publicada uma Carta a 15 de março de 2025 pela Secretaria Geral do Sínodo, aprovada pelo Papa Francisco, que propõe um “processo de consolidação do caminho já percorrido” entre 2021 e 2024.

Um documento que vem no seguimento da publicação das conclusões do Sínodo em outubro de 2024 e que propõe um trabalho a iniciar em 2025 nas igrejas locais e que terá conclusão numa Assembleia Eclesial que deverá decorrer em Roma no ano 2028.

Laudetur Iesus Christus

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18 junho 2025, 09:38