Dom Murilo: Tomé e as Chagas de Jesus
Dom Murilo S.R. Krieger, scj - Arcebispo Emérito de São Salvador da Bahia
"Estando trancadas as portas, veio Jesus, pôs-se no meio deles e disse: ‘A paz esteja convosco!’ Depois disse a Tomé: ‘Introduz aqui o teu dedo, e vê as minhas Mãos. Põe a tua mão no meu lado. Não sejas incrédulo, mas homem de fé’. Respondeu-lhe Tomé: ‘Meu Senhor e meu Deus!’" 20, 26b-28)
Seria interessante uma pesquisa sobre o que as pessoas pensam a respeito do apóstolo São Tomé. Creio que, sem muito refletir, a maioria diria que ele é aquele apóstolo que duvidou, que não acreditou na ressurreição de Jesus. ​Realmente, Tomé, um dos doze apóstolos de Jesus, demonstrou que não acreditava facilmente em qualquer afirmação que lhe faziam. Queria provas concretas para crer no que lhe diziam. Seria injusto, contudo, transformá-lo em sinônimo de incredulidade, como se sua vida tivesse se resumido a isso.
Antes de tudo, é preciso lembrar sua generosidade e seu amor pelo Mestre. Quando soube da doença e morte de Lázaro, Jesus tomou a decisão de “acordá-lo†de seu sono. Os apóstolos mostraram-se, então, preocupados, pois pouco tempo antes os habitantes da Judéia haviam manifestado o desejo de apedrejar o Senhor. Nesse momento, “Tomé (cujo nome significa Gêmeo) disse aos companheiros: ´Vamos nós também, para morrer com ele!´â€ (Jo 11,16)
Quem é Jesus Cristo? Uma das respostas a essa pergunta foi dada pelo próprio Jesus, graças a esse apóstolo. O Senhor preparava seus discípulos para o momento em que eles não mais o teriam junto de si e lhes disse: “Não se perturbe o vosso coração!... Na casa de meu Pai há muitas moradas... Vou preparar um lugar para vós... Voltarei e vos levarei comigo... E para onde eu vou, conheceis o caminho!†Tomé não guardou para si a curiosidade que, provavelmente, estava também no coração dos demais apóstolos: “Senhor, não sabemos para onde vais. Como poderemos conhecer o caminho?†Foi a ocasião propícia para Jesus se apresentar: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida†(Jo 14, 1-6).
Chegamos, enfim, ao acontecimento que fez sua fama. Ao anoitecer do domingo da ressurreição, os apóstolos e discípulos, dominados pelo medo, encontravam-se em uma sala fechada. Jesus surgiu no meio deles, desejou-lhes a paz, mostrou-lhes as mãos e o lado, e deu-lhes o Espírito Santo e o poder de perdoar os pecados. Tomé não se encontrava ali. Quando chegou e ouviu os demais falarem da aparição de Jesus ressuscitado, observou: “Se eu não vir a marca dos pregos em suas mãos, se eu não puser o dedo nas marcas dos pregos, se não puser a mão no seu lado, não acreditarei!†Uma semana depois, Jesus voltou a encontrá-los. Dessa vez, Tomé estava presente. Jesus, então, lhe dirigiu a palavra: “Põe o teu dedo aqui e olha as minhas mãos. Estende a tua mão e coloca-a no meu ladoâ€. Graças a Tomé, temos uma confirmação: no corpo de Jesus ressuscitado estão impressas, eternamente, suas chagas.
Devemos-lhe, também, uma das mais belas provas da misericórdia infinita de Jesus. Embora tivesse sido grande a falta cometida por esse apóstolo, que não acreditou nem nas palavras de Jesus, que tinha predito sua morte e ressurreição, nem no testemunho de seus colegas, o Mestre não o condenou, mas também não deixou de adverti-lo: “Não sejas incrédulo, mas crê!†Mais do que uma advertência, essa observação passaria a ser um programa de vida para esse apóstolo e para toda a Igreja. Fruto desse episódio, nasceu a mais bela herança que Tomé nos deixou, ao se dirigir a Jesus e proclamar a frase que é repetida por milhões de pessoas, diariamente, ao longo dos séculos: “Meu Senhor e meu Deus!â€
Por fim, mais uma lição que o Ressuscitado nos deixou, graças a esse apóstolo – lição imprescindível para nós, que precisamos viver a fé no meio de desafios e decepções, de notícias tristes e injustiças – e, por que não dizer? – no meio, também, dos silêncios de Deus. Dirigindo-se a Tomé, Jesus lhe disse: “Creste porque me viste? Felizes os que, sem terem visto, creram!†(Jo 20,19-29)
Só nos resta agradecer a Tomé suas preciosas intervenções e sua espontaneidade, sua humildade e sua amizade com Jesus. Dentre as muitas formas que temos para lhe demonstrar nossa gratidão, creio que nenhuma será tão adequada como a de fazermos nossa, e repetirmos continuamente, sua solene proclamação: “Meu Senhor e meu Deus!†E, por que não pedir sua intercessão para que também nós tenhamos, um dia, a graça e o privilégio de colocar o dedo nas chagas de Jesus Ressuscitado?...
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