“Devemos estar pacientes, atentos e rezando sempre pelo Papa”
Rui Saraiva – Portugal
Desde o passado dia 14 de fevereiro que as atenções mediáticas em todo o mundo passaram a olhar com insistência diária para o estado de saúde do Papa Francisco.
O Santo Padre regista uma “ligeira melhoria”, mas continua em “estado crítico” e com “prognóstico reservado”. Está internado no Policlínico Agostino Gemelli desde 14 de fevereiro, após uma nova crise asmática. A 18 de fevereiro, Francisco foi diagnosticado com uma pneumonia bilateral, na sequência de uma infeção polimicrobiana.
Oração e paciência
Na noite de 24 de fevereiro teve lugar na Praça de S. Pedro um momento de oração com a recitação do Terço, numa celebração que foi presidida pelo cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano e na qual estiveram presentes os cardeais residentes em Roma, juntamente com os colaboradores da Cúria Romana e da diocese de Roma. Uma oração que se repetirá nos próximos dias.
Também a “Conferência Episcopal Portuguesa acompanha, com esperança e confiança em Deus, a situação de maior fragilidade da saúde do Papa Francisco” pedindo “oração particular e comunitária”, revela nota de imprensa.
Neste contexto de grande preocupação com a saúde do Papa, o jornalista e biógrafo do Santo Padre, Austen Ivereigh, aceitou formular uma analise desta situação. O autor de títulos como “Francisco, o Grande Reformador” e “O Pastor Ferido”, considera que “a terapia necessária para o Papa requer tempo”. “Devemos estar pacientes, atentos e rezando sempre pelo Papa”, assinala.
“Esta terapia necessária para o Papa requer tempo, portanto, é uma questão de paciência. Houve aqui em Roma uma especulação sobre a possibilidade de uma renúncia, mas eu acho que é bastante claro que o Papa está a lutar pela sua vida e estas semanas serão chave neste sentido. E devemos estar pacientes, atentos e rezando sempre pelo Papa”, salienta.
Reforma da Cúria pela comunhão e serviço
É com confiança na recuperação do Santo Padre deste problema de saúde que Austen Ivereigh refere alguns aspetos do pontificado de Francisco, assinalando, desde logo, a reforma da Cúria Romana.
“Eu acho que a reforma da Cúria tem tido bom acolhimento e a prova disso é que os bispos quando vêm a Roma dizem que a forma como são tratados é muito diferente de há quinze anos. Os Dicastérios que têm sido reorganizados por Francisco têm outra cultura: eles escutam os bispos e há um respeito e um trato muito mais eclesial. Ou seja, o Vaticano não atua como se fosse a sede de uma multinacional corporativa, mas é mais um centro de comunhão e de serviço à Igreja. E as reformas concretas estruturais e financeiras também têm tido êxito, já não temos os escândalos que tivemos no passado, mas há sempre mais para se fazer”, declara.
Clareza sobre meio ambiente e migrações
O meio ambiente e as migrações são temas sociais aos quais o Papa Francisco tem dado destaque numa atitude profética, refere Ivereigh, assumindo a importância de que a Igreja tenha uma posição muito clara sobre estes dois desafios.
“O destaque social do Papa sobre as migrações e o meio ambiente tem sido profético, como estamos a ver com o nacional-populismo, que estes são os dois temas transcendentes do mundo e é muito importante que a Igreja tenha uma posição muito clara sobre estes dois desafios”, salienta.
Sinodalidade, conversão da cultura interna da Igreja
Ivereigh, afirma, em particular, que a sinodalidade, promovendo uma cultura interna de fazer decisões, através da consulta, do envolvimento e da participação dos fiéis, é o grande legado de Francisco.
“Sobre a Igreja em geral eu acho que o grande legado de Francisco será a sinodalidade. A sinodalidade é uma conversão da cultura interna da Igreja que vai requerer muito tempo. É uma conversão que vai recuperar uma cultura e modo de atuação que era característica da Igreja na época apostólica e primitiva. E que Francisco tem recuperado para esta época de uma forma muito profética. Acho que não é fácil esta conversão de cultura. Tem tido resistências, mas eu acho que vai ser muito importante num conclave futuro, na eleição do sucessor de Francisco. A continuação deste projeto vai ser muito importante, sobretudo como sinal neste tempo de exaltação do poder. É muito importante que a Igreja represente uma outra forma de ser, uma cultura interna, uma forma de tratar-se mutuamente e de fazer decisões, através da consulta, do envolvimento e da participação dos fiéis”, sustenta.
Liderar dando espaço ao outro
O biógrafo do Papa Francisco sublinha também o estilo de liderança do Santo Padre que dá espaço ao outro, escutando e acompanhando.
“Eu diria que a forma como Francisco tem liderado a Igreja e tem interagido com o mundo, com o estilo de dar espaço ao outro, de escutar, de acompanhar, toda esta forma de tratamento humano, para mim, é muito importante”.
Austen Ivereigh lançou esta semana o livro “Antes de tudo pertencer a Deus. Exercícios espirituais com o Papa Francisco”. Uma obra com prefácio do próprio Papa.
Continuemos em oração pela saúde do Santo Padre.
Laudetur Iesus Christus
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