Beirute: em meio aos bombardeios, a proximidade das Irmãs do Bom Pastor aos doentes
Marco Guerra - Cidade do Vaticano
No Líbano é cada vez mais dramática a situação das populações deslocadas pelos bombardeamentos e de todos os civis de forma geral. Neste contexto, a prestação de assistência sanitária e social proporcionada pelas realidades cristãs também é prejudicada. Em particular, na capital Beirute, as pessoas que ficaram sem abrigo somam-se aos milhares de refugiados sírios que procuraram refúgio no país durante anos.
Irmã Youssef: arriscamos nossas vidas todos os dias
Um panorama desta difícil situação social é oferecido pelo testemunho das religiosas da Congregação de Nossa Senhora da Caridade do Bom Pastor, que administram o Dispensário de Saúde St. Antoine, na área de Roueisset-Jjdeideh, em Beirute. O serviço oferecido à população foi totalmente interrompido com o início dos bombardeios, afirma Irmã Hanan Youssef, diretora do dispensário: “Encontramo-nos em uma área de maioria xiita, a comunidade alvo dos bombardeios, e isso nos preocupa muito, há muita tensão."
Os profissionais de saúde e os médicos arriscam a vida todos os dias para vir trabalhar, assim como os pacientes que – prossegue a religiosa – são obrigados a vir até nós porque não existe outro centro de saúde que lhes possa dar medicamentos ou realizar consultas médicas de urgênciaâ€. Irmã Youssef sublinha que agora só é possível acompanhar as emergências e a distribuição de medicamentos, tudo o resto está parado neste momento, como por exemplo, a vacinação infantil: “Estamos sobrecarregados de pessoas que vêm pedir consultas de urgência e medicamentosâ€.
Beirute está paralisada
Nestes dias cresce também a necessidade de apoio psicológico às crianças e às mulheres, porque, explica a diretora do dispensário, “vivem em espaços amplos onde dormem todos juntosâ€. Suas vidas mudaram completamente e apesar de terem fugido das áreas atingidas, eles têm um medo terrível de serem bombardeadosâ€. “Eles também precisam de produtos de higiene pessoal porque faltamâ€, acrescenta a religiosa, que depois descreve o dia a dia dos habitantes de Beirute.
Beirute é uma cidade “paralisadaâ€, onde “as pessoas só saem para emergências por medo de ataques aéreosâ€. “A capital libanesa está vivendo algo nunca antes visto. Há muitos refugiados sírios que não têm para onde ir, por isso permanecem nas ruas. A atmosfera é muito tenso, há conflitos entre libaneses e sírios, entre sírios e a polícia. As pessoas estão dormindo nas calçadas, o lixo está espalhado por toda parteâ€.
O esforço das comunidades cristãs
Arriscando as suas vidas, os cristãos estão na linha da frente no acolhimento das pessoas e isto contribui para manter unido o tecido social do Líbano. A diretora do centro de saúde St. Antoine diz que a comunidade xiita se refugia em áreas cristãs, sente-se mais segura dos bombardeios. Por exemplo, “no dispensário há uma médica que foi acolhida na casa de outra médica porque cedeu a sua casa ao seu amigo muçulmano xiita e a toda a sua famíliaâ€. Tudo isto “mantém a unidade social, os cristãos são sempre uma comunidade que doa enormemente, expressam uma solidariedade exemplarâ€.
Irmã Youssef também se refere aos povoados cristãos do sul do Líbano atingidos pelos bombardeios. Ali muitas famílias têm o que a religiosa define como “uma experiência de conflito contínuo com Israelâ€, portanto “muitas destas comunidades têm outra casa e, precisamente ali, a Igreja libanesa não desistiu." “Há sempre uma pequena comunidade cristã – destaca a religiosa – que continua a garantir a presença cristã na zona onde o conflito é mais forteâ€.
A presença cristã em zonas de guerra
“A comunidade cristã e a Igreja libanesa sempre tiveram uma presença particular no sul do Líbano, na fronteira com Israelâ€, recorda a diretora do dispensário, “obviamente, muitos partiram porque têm medo dos bombardeamentosâ€. Mas há aqueles que sempre permaneceram nas suas casas e decidiram não sair, especialmente as pessoas da igreja, os sacerdotes, os religiosos e as religiosas, que decidiram ficar, em solidariedade com a população que ali está e permanece. “Eles fazem isso sobretudo para deixar uma mensagem de paz e de esperança – conclui Irmã Youssef – de que um novo dia chegará, que um dia a paz e a capacidade de viver juntos retornarão a esta Terra Santaâ€.
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