ÐÓMAPµ¼º½

Busca

Capa da nova edi??o da Rerum novarum publicada em junho de 2025 Capa da nova edi??o da Rerum novarum publicada em junho de 2025

Cazzullo: ¡°A Rerum novarum fala a n¨®s ainda hoje¡±

O jornalista e autor escreve a introdu??o ¨¤ nova edi??o da ±ð²Ô³¦¨ª³¦±ô¾±³¦²¹ social de Le?o XIII, republicada em coedi??o pela HarperCollins e Livraria Editora Vaticana. Em entrevista ao Vatican News, ele reflete sobre a atualidade do texto, suas resson?ncias na Constitui??o italiana e como o Papa Le?o XIV est¨¢ acolhendo seu legado no novo contexto global. Segundo Cazzullo, hoje mais do que nunca, precisamos de uma reforma da ¨¦³Ù¾±³¦²¹ social e de uma Igreja consciente de sua for?a e miss?o
Ouça e compartilhe

Fabio Colagrande ¨C Vatican News

Para Aldo Cazzullo, a Rerum novarum de Leão XIII é um texto "extraordinariamente atual", capaz de falar também ao nosso tempo, mais de 130 anos após sua publicação. A encíclica - explica o jornalista e escritor, autor da introdução à nova edição publicada pela Livraria Editora Vaticana em conjunto com a HarperCollins, em entrevista à mídia vaticana - conserva uma força profética em suas denúncias das crescentes desigualdades e em seu apelo à dignidade do trabalho. "Há frases - observa ele - que parecem escritas hoje ou amanhã", e que apresentam a doutrina social cristã como alternativa tanto à revolução quanto à indiferença, em nome do cuidado evangélico com os mais vulneráveis. O texto, prossegue, é também uma obra "muito agradável" do ponto de vista literário, escrita em latim claro e acessível até mesmo em outras traduções. Cazzullo enfatiza que Leão XIII antecipou muitos dos desafios da modernidade, e não é surpreendente que Leão XIV - que escolheu adotar seu nome inspirando-se no Papa Pecci ¨C tenha colhido seu legado.

A crise da política e o potencial da Igreja

Segundo Cazzullo, a crise da política e a crescente descristianização da era contemporânea não retiram o sentido ao ensinamento social da Igreja, condensado nesta famosa encíclica. Na verdade, tornam-no ainda mais necessário. Se o declínio da participação religiosa e a crise das vocações em comparação com o passado são evidentes, por outro lado - observa ele - "a Igreja nunca deve subestimar a enorme força que ainda possui". Para muitos, a fé cristã continua a representar uma esperança última, especialmente em tempos de crise. "Quando a pandemia, a guerra ou o sofrimento chegam", afirma, "o homem volta a buscar sentido na Igreja, porque só lá pode encontrar as palavras de vida eterna". Esta observação traduz-se num apelo para não dispersar a herança espiritual e cultural do cristianismo, precisamente num momento de desorientação global.

Ressonâncias com a Constituição italiana

Em sua introdução, intitulada "Dois Leões para duas revoluções", Cazzullo também identifica semelhanças surpreendentes entre a Rerum novarum e a Constituição Italiana, que entrou em vigor sessenta anos depois. Dois elementos em particular impressionam o autor: o valor fundamental do trabalho e o princípio da igualdade. O respeito ao trabalho, que permeia a encíclica de Leão XIII, é o mesmo que inspira o primeiro artigo da Constituição. E o mesmo se aplica à igualdade da pessoa humana perante Deus e a lei. "Não se trata de nivelar", esclarece Cazzullo, "mas de reconhecer a igual dignidade de todos, como filhos do mesmo Deus". Esse princípio também se reflete no pensamento franciscano, no desafio radical do Santo de Assis às hierarquias sociais.

Aldo Cazzullo entrevistado nos estúdios da Rádio Vaticano - Vatican News
Aldo Cazzullo entrevistado nos estúdios da Rádio Vaticano - Vatican News

Um novo Leão para novos desafios

Quando questionado sobre os desafios que aguardam o Papa Leão XIV, Cazzullo não esconde sua admiração pelo novo Pontífice. Ele o chama de Papa "extraordinário", apreciando sua linguagem, estilo e firmeza, mas também sua serenidade e visão espiritual. Enfatiza sua continuidade com o Papa Francisco, que o quis em Roma e o promoveu no governo da Igreja. Segundo o jornalista, se Leão XIII enfrentou a revolução industrial, Leão XIV, como ele mesmo explicou, está às voltas com uma transformação igualmente radical: a digital. "A inteligência artificial - alerta o jornalista - pode representar uma grande oportunidade, mas também uma ameaça ao trabalho humano, especialmente o da classe média. E pode até gerar formas pós-humanas, ciborgues capazes de nos dominar em vez de nos servir". O Papa, acrescenta, "previu esses perigos desde seu primeiro discurso; nos alertou sobre eles, e estou convencido de que empreenderá um grande trabalho espiritual e cultural para tentar nos mostrar o caminho certo".

Rumo a uma nova ética social

Cazzullo, no entanto, acredita que os desafios atuais exigem uma "refundação da ética social". O jornalista denuncia uma situação global em que "quanto mais rico você é, menos impostos você paga", em um sistema caracterizado pela disseminação de paraísos fiscais, desigualdades patológicas e pela concentração de poder econômico e digital em poucas mãos. Essa tendência, explica ele, priva a comunidade de recursos fundamentais, empobrecendo serviços essenciais como saúde, educação e segurança. Portanto, é essencial revalorizar o gasto público bem administrado. Mas "não me parece ¨C comenta - que a política, nem de direita nem de esquerda, esteja dando as respostas que os cidadãos precisam". "Os ricos ¨C acrescenta - estão ficando cada vez mais ricos, não pagam impostos e também concentram poder econômico e controle digital em suas mãos: eles sabem tudo sobre nós, conhecem os dados de nossas vidas, nossas preferências, nossas inclinações, nossos gostos, nossas opiniões". "Isso - acrescenta Cazzullo - apresenta um cenário muito inquietador que põe em questão a própria dignidade humana que levou Leão XIII a escrever a Rerum novarum e que certamente está no cerne das preocupações do Papa Leão XIV."

A firmeza do Papa e a responsabilidade pelo futuro

Concluindo, Cazzullo aponta para um gesto que o marcou particularmente nos primeiros meses do pontificado de Leão XIV: o diálogo com o primeiro-ministro israelense Netanyahu, que telefonou ao Papa no dia seguinte ao ataque militar à igreja da Sagrada Família em Gaza. Leão XIV, embora tenha aceitado o telefonema, não cedeu em sua exigência de pôr fim à guerra em Gaza. Isso é um sinal, diz ele, da "firmeza com que o Papa fala de paz, denuncia as desigualdades e clama pelo controle ético das novas tecnologias". Em um tempo marcado por guerras, crises ambientais e mudanças de época, Cazzullo conclui: "um Papa que indica uma direção clara é essencial não apenas para os fiéis, mas para toda a humanidade". Porque a tarefa do homem - reitera - continua a ser aquela que lhe foi confiada desde o princípio: cuidar da Criação, proteger a dignidade humana, salvaguardar a sua própria espécie.

Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp

25 julho 2025, 15:30