Paul McCartney e aquele v¨ªdeo por um hino pacifista
Gaetano Vallini - Cidade do Vaticano
A referência de Leão XIV a uma música de Paul McCartney, em sua Mensagem em vídeo para a "Partita del Cuore" (¡°Partida do Coração¡±) foi uma verdadeira novidade para um bom entendedor. O Papa recordou o famoso episódio da "Trégua de Natal" de 1914, quando, durante a Primeira Guerra Mundial, perto de Ypres, na Bélgica, soldados inimigos depuseram as armas, temporariamente, para trocar presentes, cantar juntos e jogar futebol. Assim, o Pontífice mencionou o ex-Beatle, sem falar do título da música. Trata-se de "Pipes of Peace", do álbum homônimo de 1983, que, porém, não faz referência ao episódio. No entanto, tal episódio ¡ª e aqui a novidade ¡ª é o tema central do videoclipe gravado para lançar o disco (nos primeiros anos da TV musical).
No livro ¡°Paul McCartney. The Lyrics¡± (2021), onde se narra a gênese de cada um dos trechos musicais, o artista lembra: "Foi muito divertido gravar o videoclipe desta música. O diretor era um cara chamado Keith McMillan... Estávamos discutindo juntos sobre Pipes of Peace, e me lembrei de uma passagem de um filme, que passaram na TV, quando eu era criança". Um filme que falava precisamente sobre aquele episódio singular.
No vídeo, McCartney ¡ª que hoje tem oitenta e três anos ¡ª interpreta, simultaneamente, o papel de dois soldados inimigos, um inglês e outro alemão. Ambos, em suas respectivas trincheiras, receberam uma carta de suas esposas, com uma fotografia. Era véspera de Natal e não havia tiroteio na frente de batalha. Então, ambos, juntos com outros aliados, saem desarmados, com cautela, das suas trincheiras, e se encontram naquela "terra de ninguém": apertam as mãos, trocam fotos, enquanto os outros se confraternizam, chegando até a improvisar um jogo de futebol. Mas, a explosão inesperada de uma bomba interrompe o idílio. Os dois correm para suas próprias trincheiras, cada um segurando uma foto da esposa do outro.
As imagens acompanham um texto que, naturalmente, fala de paz. Referindo-se a um verso de Tagore, o autor convida o leitor a "acender uma vela" por amor e explica: "É o que todos nós desejamos: estar juntos, amar uns aos outros... fazer todo o possível para vencer a guerra, uma guerra que é vida, mas também aquela guerra, onde quer que seja, hoje, que destrói o nosso planeta". Depois, o autor cita os trechos ¡°Songs of joy instead of / Burn, baby burn¡± ("Canções de alegria, em vez de / queime, baby, queime"). Aqui, ele observa que esta segunda frase ¡°se tornou famosa após as desordens em Watts, que destruíram grande parte do centro de Los Angeles [motim por motivos raciais, que ocorreu de 11 a 17 de agosto de 1965, - nota o autor]. Por isso, esta canção, escrita muitos anos depois, tornou-se uma espécie de hino pacifista, algo que, realmente, tocou meu coração".
A inesperada citação da canção de McCartney, feita pelo Papa, bem como a subsequente referência ao valor da música, são, de certa forma, um reconhecimento da importância que também a Igreja atribui, hoje, à cultura Pop e seu enorme potencial de transmitir mensagens positivas.
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