Cardeal Spengler: ¡°fortalecer nosso compromisso com a justi?a socioambiental¡±
Óscar Elizalde Prada | ADN Celam
¡°A Igreja se deixa perturbar pela história, e o momento atual parece indicar que o mundo está desmoronando e talvez se aproxime de um ponto de ruptura¡±. Com essas palavras, o cardeal Jaime Spengler, presidente do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), iniciou sua palestra neste dia 11 de junho, na jornada de reflexão sobre transições justas e o papel da Igreja na construção de uma visão latino-americana de desenvolvimento social, econômico e ambientalmente sustentável, um evento acadêmico promovido pela Embaixada da Colômbia junto à Santa Sé, por ocasião da celebração dos 190 anos de relações entre a Colômbia e a Santa Sé.
Em seu discurso de abertura, proferido na Aula Magna da Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma, o presidente do Celam destacou que "a crise ecológica nos desafia a repensar o bem comum e a cultivar o diálogo social em torno da ecologia integral", em uma época em que "há muito pouco diálogo ao nosso redor, muitas vezes substituído por gritos", como disse o Papa Leão XIV, e na qual o cardeal Spengler lembrou que "há muito pouco diálogo ao nosso redor, muitas vezes substituído por gritos", como disse o Papa Leão XIV. Spengler lembrou os muitos homens e mulheres que foram martirizados em todo o continente por seu trabalho "para a promoção do bem comum, para o cuidado da Casa Comum e para a frágil planta da democracia em diferentes contextos sociopolíticos e econômicos".
"A vida está em jogo"
Por isso, "ao refletir sobre as transições justas, não se pode deixar de contemplar esses rostos e testemunhos concretos", afirmou o cardeal brasileiro, evocando a campanha "a vida está por um fio", lançada pelo Celam e outras instituições, com o objetivo de cuidar e proteger a vida ameaçada de tantos líderes sociais e eclesiais que defendem os direitos humanos e ambientais, e lembrando que quem sofre as maiores consequências das mudanças climáticas são os pobres que vivem em lugares particularmente afetados pelos fenômenos relacionados ao aquecimento global.
Portanto, do ponto de vista da Igreja latino-americana, "assumir as transições justas necessárias é reconhecer que a mudança climática é uma realidade que está se expandindo exponencialmente em nossa região". Essa não é uma questão teórica ou especulativa. "É um problema social global que está intimamente relacionado à dignidade da vida humana", como afirmou o Papa Francisco na época, e "os indicadores ambientais e as informações científicas indicam que estamos nos aproximando de um colapso climático sem retorno", como evidenciado pelo aumento da temperatura média global do ar em 1,5ºC em comparação com o período anterior à industrialização. "Os efeitos já podem ser sentidos na saúde, na biodiversidade e na economia", disse o Cardeal Spengler. Os efeitos já podem ser sentidos na saúde, na biodiversidade e na economia", disse o Cardeal Spengler, lembrando com dor as enchentes que sua arquidiocese de Porto Alegre e toda a região do Rio Grande do Sul sofreram no ano passado.
São necessárias mudanças urgentes!
Diante disso, "são necessárias mudanças estruturais urgentes!", enfatizou o presidente do Celam, e tendo em vista a COP30 que será realizada na Amazônia brasileira, em Belém do Pará, ele propôs "a necessidade de reforçar especialmente no Sul Global uma posição profética ancorada em nosso compromisso com a justiça socioambiental e denunciando falsas soluções climáticas". Está claro que "as medidas atuais não estão à altura da tarefa e não correspondem à velocidade dos impactos climáticos", disse ele.
"É essencial buscar soluções holísticas que considerem as interações dos sistemas naturais entre si e com os sistemas sociais", como propôs o Papa Francisco na Laudato si'. Portanto, na perspectiva do representante do episcopado latino-americano, "o diálogo social é urgentemente necessário para encontrar uma maneira de garantir um ambiente limpo, sem deixar um rastro de violência socioambiental nas comunidades e sem cair nos lugares comuns daqueles que alertam sobre os impactos econômicos e 'desenvolvimentistas' das transições de energia".
Compromissos inadiáveis
"Esta visão corresponde a uma resposta ética, espiritual e social às injustiças ambientais, exigindo uma conversão de estilos de vida, padrões de consumo e políticas econômicas, já que o cuidado da casa comum é um compromisso essencial e constitui o ponto de partida para a nossa participação na próxima COP30", disse o cardeal brasileiro, propondo explicitamente cinco compromissos inadiáveis para tornar possíveis algumas das transições necessárias para viver uma ecologia integral com justiça: (1) sobriedade como resistência ao consumismo; (2) educação para a conversão ecológica; (3) fortalecimento das comunidades locais; (4) diálogo permanente com a comunidade científica; e (5) promoção de narrativas de esperança e cuidado com a "casa comum".
O evento, organizado pela Embaixada da Colômbia junto à Santa Sé, sob a liderança de seu Encarregado de Negócios, Dr. Oscar Iván Echeverry, também contou com a presença do Reitor da Pontifícia Universidade Gregoriana, Pe. Mark A. Lewis, da Secretária da Pontifícia Comissão para a América Latina (PCAL), Dra. Emilce Cuda, e de vários representantes do corpo diplomático acreditado junto à Santa Sé, bem como de um painel de discussão entre a Igreja, a academia e o Estado, moderado pela Dra. Cuda. Cuda, no qual interagiram o vice-ministro de assuntos multilaterais do Ministério das Relações Exteriores da Colômbia, Dr. Mauricio Jaramillo Jassir, a vice-reitora acadêmica da Pontifícia Universidade Javeriana da Colômbia, Dra. María Adelaida Farah, uma das acadêmicas mais ilustres da Pontifícia Universidade Gregoriana, Pe. Adelson Araújo dos Santos, e o próprio Cardeal Jaime Spengler. O próprio Jaime Spengler.
Paz com justiça social
Esse painel colocou sobre a mesa "as necessidades e os sonhos de todo um continente, com a consciência de que a diplomacia nasce para defender a vida e que a paz passa pela justiça social", como mencionou o secretário do PCAL, que também é doutor em teologia com especialização em teologia moral. Relembrando o legado do Papa Francisco em Laudato Si' e Fratelli tutti, Cuda destacou o papel dos povos, universidades e organizações que "se organizam para se salvar diante dessa crise social e ambiental".
Em suas intervenções, os membros do painel concordaram com a necessidade de adotar uma postura crítica em relação ao paradigma econômico atual, assumindo que as "transições justas" em torno da ecologia integral devem ser abordadas a partir da perspectiva da pluralidade, da inclusão, do diálogo de conhecimentos e do multilateralismo. "Essas são transições irreversíveis", disse o Vice-Ministro Jaramillo. Na verdade, "tudo está conectado", como observou o Padre Araújo, e "as ações coletivas daqueles que habitam os territórios devem ser consideradas", como afirmou o Dr. Farah. "O planeta pode sobreviver sem nós, mas nós não podemos sobreviver sem o planeta", acrescentou o Card. Spengler acrescentou.
"Na busca de soluções, a Igreja tem tido uma posição transcendental, e a Laudato si' é prova disso, na busca de maior equidade econômica e social, de modelos sustentáveis para reduzir as desigualdades com uma perspectiva democrática e restaurar os ecossistemas", concluiu o Dr. Echeverry.
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