A imagem da Igreja como a nova Eva
Jackson Erpen - Cidade do Vaticano
"No termo desta missão do Espírito, Maria torna-se a «Mulher», a nova Eva «mãe dos vivos», Mãe do «Cristo total». É como tal que Ela está presente com os Doze, «num só coração, assíduos na oração», no alvorecer dos «últimos tempos», que o Espírito vai inaugurar na manhã do Pentecostes, com a manifestação da Igreja." (CIC 726).
A Igreja como Esposa de Cristo, como Mãe, como Povo de Deus: estes foram alguns temas aprofundados neste nosso espaço pelo Pe. Gerson Schmidt*, que no último programa nos propôs a reflexão Maria, Mãe da Igreja. Seguindo este percurso de aprofundamento dos conhecimentos sobre a nossa Igreja e os documentos conciliares, vamos ouvir hoje a explanação do sacerdote gaúcho sobre "A imagem da Igreja como a nova Eva":
"A Lumen Gentium nos aponta a fundação da Igreja do lado aberto de Jesus na cruz. Diz assim o número 3 da Constituição Dogmática sobre a Igreja: ¡°A Igreja, ou seja, o Reino de Cristo já presente em mistério, cresce visivelmente no mundo pelo poder de Deus. Tal começo e crescimento exprimem-nos o sangue e a água que manaram do lado aberto de Jesus crucificado (cfr. Jo. 19,34), e preanunciam-nos as palavras do Senhor acerca da Sua morte na cruz: «Quando Eu for elevado acima da terra, atrairei todos a mim» (Jo. 12,32 gr.). Sempre que no altar se celebra o sacrifício da cruz, na qual «Cristo, nossa Páscoa, foi imolado» (1 Cor. 5,7), realiza-se também a obra da nossa redenção¡± (LG, 3).
Muitos santos Padres e Doutores da Igreja veem na mulher, anunciada no proto-Evangelho, a Mãe de Cristo, Maria, como «nova Eva» (Catecismo da Igreja Católica, 411; 511;726; 975). Os antigos notaram que a saudação de Gabriel, Ave, era o contrário de Eva, nome latino da esposa perfeita que Deus criou para Adão. Mas, essa imagem de Nova Eva, é também atribuída à Igreja, nascida na cruz de Cristo. Como diz o Catecismo: ¡°A Igreja nasceu primeiramente do dom total de Cristo para nossa salvação, antecipado na Eucaristia e realizado na cruz¡± (CIC, 766).
São João Crisóstomo, nas ¡°homilias sobre algumas passagens do Novo Testamento¡±, traduz de forma bem clara essa realidade, dizendo que ¡°assim como Eva saiu do lado de Adão, também nós saímos do lado de Cristo. É isto que quer dizer a expressão ¡°carne da minha carne e osso dos meus ossos¡± (Gn 2,23). Todos sabemos que Eva foi modelada do lado de Adão, e na Escritura se lê claramente que Deus fez cair sobre Adão um torpor, tirou-lhe uma costela e com ela formou a mulher.
De onde, pois, podemos nós apreender que a Igreja nasceu do lado de Cristo? É ainda a Escritura que nos revela. Depois que Cristo, elevado e pregado na cruz, expirou, um dos soldados golpeou-lhe o lado com a lança e dali imediatamente brotou sangue e água (Jo 19,34): daquela água e daquele sangue nasce a Igreja toda. Ele mesmo nos testemunha isso dizendo: Se alguém não nasce da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus (Jo 3,5); e aqui chama de Espírito o sangue. Na realidade, nós viemos à luz graças à água do batismo, e depois somos sustentados vivos pelo sangue. Vê, portanto, de que maneira somos carne da sua carne e osso dos seus ossos, a partir do momento em que daquele sangue e daquela água fomos gerados e mantidos em vida?
Como a mulher foi modelada enquanto Adão estava imerso num profundo torpor, num sono pesado, assim a Igreja nasce do lado de Cristo imerso na morte. Mas a mulher não deve ser amada somente pelo fato de ser membro do nosso corpo, e que de nós deriva a sua origem, mas sim e ainda mais porque Deus nos deu um mandamento explícito dizendo: Por isso o homem deixará seu pai e sua mãe; e se unirá à sua mulher e os dois serão uma só carne (Gn 2,24). Também Paulo nos recorda esta lei para levar-nos de todos os modos a tal amor.
E continua o Bispo São João Crisóstomo nessa comparativa: ¡°depois de ter confirmado esta lei, o apóstolo exclama: Este mistério é grande (Ef 5,32). Dize-me tu, por que é grande? Porque se refere a Cristo e à Igreja. Como o esposo, depois de ter deixado o pai, se apressa a ir ao encontro da esposa, assim Cristo, depois de ter deixado a casa paterna se pôs a caminho do encontro com a sua esposa: não nos chamou a subir às alturas sublimes dos céus, mas ele próprio desceu até nós. Quando então ouves falar da sua vinda, não penses numa mudança de lugar, mas sim numa adequação: ou seja, mesmo estando conosco permanecia com o Pai. Por isso o Apóstolo diz: Este mistério é grande (Ef 5,32). É grande também no que se refere aos homens; no entanto, quando o considero com referência a Cristo e à sua Igreja, então, verdadeiramente, a grandeza do mistério me enche de grande encanto e admiração. Por isso, depois de ter dito: Este mistério é grande (o apóstolo) acrescenta em seguida: refiro-me a Cristo é à Igreja (Ef 5,32)¡±. "
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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