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Catedral S?o Jos¨¦ em Bucarest, durante a Divina Liturgia Catedral S?o Jos¨¦ em Bucarest, durante a Divina Liturgia 

A M¨²sica Sacra na Liturgia

S?o Tom¨¢s diz: ¡°Mediante o louvor de Deus, o homem se eleva at¨¦ Deus¡±. Louvar ¨¦ elevar-se, ¡°tocar aquele que habita no louvor dos anjos¡±. Tal eleva??o arranca o homem do que est¨¢ contra Deus. ¡°Sabe-o bem quem experimentou a forma transformadora de uma grande liturgia, de uma grande arte, de uma grande m¨²sica. O louvor que ressoa melodicamente induz todos n¨®s a uma profunda rever¨ºncia, observa al¨¦m disso S?o Tom¨¢s"

Jackson Erpen ¨C Cidade do Vaticano

No nosso espaço Memória Histórica ¨C 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos falar hoje sobre a Música Sacra na Liturgia.

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Dentro do tema da reforma litúrgica, padre Gerson Schmidt (incardinado da Arquidiocese de Porto Alegre), tem nos proposto algumas reflexões sobre os Cantos na Liturgia. A Igreja Católica, de fato, desde a Idade Média, sempre dispôs por meio de documentos orientações sobre a Música Sacra. A Constituição Conciliar sobre a Sagrada Liturgia, por exemplo, dedica seu Capítulo VI à Música Sacra, onde fala sobre ¡°Importância para a Liturgia¡±, sobre a ¡°Adaptação às diferentes culturas¡±, os ¡°Instrumentos músicos sagrados¡±,  chegando a indicar até mesmo ¡°Normas para os compositores¡± .

¡°A tradição musical da Igreja é um tesouro de inestimável valor, que excede todas as outras expressões de arte, sobretudo porque o canto sagrado, intimamente unido com o texto, constitui parte necessária ou integrante da Liturgia solene¡±, diz no n. 112.

Mas quem nos explica melhor sobre ¡°A Música Sacra na Liturgia" é padre Gerson Schmidt:

 

"O Concílio Vaticano II recomendou que o ¡°tesouro da música sacra seja conservado e favorecido com suma diligência. Promovam-se com empenho, sobretudo nas igrejas catedrais, as ¡°Scholae cantorum¡± (SC, 114). Essa conservação e favorecimento da música sacra, porém, não diz que seja necessariamente dentro da liturgia. Na orientação acima frisada, o Concílio dá a entender que ela seja incentivada sobretudo nas catedrais e tende a querer aludir que seja apenas nas catedrais e com a reserva de que não sejam obstáculo à participação ativa do povo. Reforça a criação dos Institutos Superiores de Música Sacra (SC, 115), recomendando o canto gregoriano, a polifonia, o uso de órgão de tubos e segundo condições formuladas pela tradição, também outros instrumentos (SC, 120).

O Concílio faz uma abertura incondicional da Liturgia a todos. ¡°Deseja-se a participação ativa comum de todos no evento litúrgico e, portanto, também no canto litúrgico, e, com isso, adquirem elementos que obstaculizam a afirmação do aspecto artístico¡±[1]. Ou seja, nem todos os fiéis possuem a arte e o jeito certo de cantar, de forma que o aspecto artístico do canto se empobrece. Torna-se clara uma tensão entre a exigência da arte e a simplicidade da liturgia, o embelezamento do canto com a participação de todos[2]. O excesso da preocupação pastoral ocasiona um empobrecimento no canto e no aprimoramento da música sacra. ¡°...o equilíbrio se torna uma receita muito cômoda: música utilitária para a liturgia, enquanto a música sacra verdadeira pode ser cultivada em outro lugar ¨C ela não se adaptaria mais a liturgia¡±[3]. Seria isso uma conclusão precipitada e descompassada.

Na obra preciosa traduzida no Brasil pelas edições da CNBB, de Joseph Ratzinger sobre a Teologia da Liturgia, o autor diz assim: ¡°Nos anos transcorridos desde então (depois do Concilio), tornou-se cada vez mais claramente perceptível o espantoso empobrecimento que se verifica na Igreja lá onde se fecha a porta à beleza sem finalidade e tudo se submete, ao contrário, exclusivamente ao ¡®uso¡¯. Mas os calafrios que a liturgia pós-conciliar privada de esplendor incute ou simplesmente o tédio provoca com o seu gosto pela banalidade e com a sua falta de exigência artística, não esclarecem o problema¡±[4]. Ratzinger afirma ainda que ¡°o recuo na utilidade não tornou a liturgia mais aberta, mas apenas mais pobre. A necessária simplicidade não é realizada por meio do empobrecimento¡±[5]. Segundo Ratzinger, percebe-se aí perceptível ¡°a miséria de uma época ferida, cuja racionalidade criou o dilema entre especialização e banalidade, e cujo funcionalismo, minando o sentido de totalidade, tira, amplamente, o terreno também para uma expressão artística original e vital¡±[6].

Segundo São Tomás de Aquino, o louvor não é necessário para Deus, mas para a própria pessoa que louva[7]. São Tomás ainda diz: ¡°Mediante o louvor de Deus, o homem se eleva até Deus¡±. Louvar é elevar-se, ¡°tocar aquele que habita no louvor dos anjos¡±[8]. Tal elevação arranca o homem do que está contra Deus. ¡°Sabe-o bem quem experimentou a forma transformadora de uma grande liturgia, de uma grande arte, de uma grande música. O louvor que ressoa melodicamente induz todos nós a uma profunda reverência, observa além disso São Tomás¡±[9]."

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[1] RATZINGER, Joseph., ¡°Teologia da Liturgia ¨C o fundamento sacramental da existência Humana¡± ¨C Obras completas, Volume XI, edições da CNBB, Editor em Lingua alemã: Cardeal Gerhard Muller e Editor em Lingua Portuguesa Antonio Luiz Catelan Ferreira, Brasilia-DF, 2019, p.468.

[2] Idem, 468.

[3] Ibidem.

[4] Idem, 469.

[5] Idem, 470.

[6] Ibidem.

[7] Summa Theologiae II-IIae q 91 a 1 resp.

[8] RATZINGER, Joseph., ¡°Teologia da Liturgia ¨C o fundamento sacramental da existência Humana¡± ¨C Obras completas, Volume XI, edições da CNBB, Editor em Lingua alemã: Cardeal Gerhard Muller e Editor em Lingua Portuguesa Antonio Luiz Catelan Ferreira, Brasilia-DF, 2019, p.482.

[9] Ibidem. 

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22 julho 2020, 08:51