Os cantos lit¨²rgicos na Missa
Jackson Erpen ¨C Cidade do Vaticano
No nosso espaço Memória Histórica ¨C 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos falar no programa de hoje sobre ¡°Os cantos litúrgicos na Missa¡±.
¡°A tradição musical da Igreja é um tesouro de inestimável valor, que excede todas as outras expressões de arte, sobretudo porque o canto sagrado, intimamente unido com o texto, constitui parte necessária ou integrante da Liturgia solene¡± (N 112). A Constituição Conciliar sobre a Sagrada Liturgia, dedica seu capítulo VI à Música Sacra, destacando sua importância para a Liturgia, a necessidade da promoção da música sacra, sua adaptação às diferentes culturas , as normas para os compositores. Ao falar sobre os instrumentos sagrados, destaca no número 120: ¡°Tenha-se em grande apreço na Igreja latina o órgão de tubos, instrumento musical tradicional e cujo som é capaz de dar às cerimónias do culto um esplendor extraordinário e elevar poderosamente o espírito para Deus.¡±
Neste sentido, dando continuidade às suas reflexões sobre a liturgia, padre Gerson Schmidt nos traz hoje o tema ¡°Os cantos litúrgicos dentro da Missa¡±:
¡°A renovação litúrgica prevista pela Sacrosanctum Concilium quer buscar também a valorização do canto litúrgico apropriado. Aqui cabe um comentário muito especial sobre a utilização em cada parte da missa dos cantos apropriados e que sejam de fato litúrgicos. A celebração litúrgica na sua forma mais nobre é acompanhada dos cantos. O Apóstolo Paulo, na carta aos colossenses aconselha os fiéis, que se reúnem em Assembleia para aguardar a vinda do Senhor, a cantarem juntos salmos, hinos e cânticos espirituais (cf.Cl 3,16), pois o canto constitui um sinal de alegria do coração (cf. At 2,46). A Igreja continua e desenvolve esta tradição: ¡°Recitai entre vós salmos, hinos e cânticos inspirados, cantai e louvai ao Senhor no vosso coração¡± (Ef 5,19). Por isso, dizia com razão Santo Agostinho: ¡°cantar é próprio de quem ama¡±. Há um provérbio antigo que reza que ¡°quem canta, reza duas vezes¡±[1]. A palavra cantar (ou seus derivados) aparece 309 vezes no AT e 36 no NT. A primeira menção bíblica do cantar encontramo-la após a passagem pelo mar vermelho, que recordamos, ano a ano, na solene programação da Vigília Pascal (Ex 15,1). Para Israel, o evento salvífico junto do mar permaneceu sempre a motivação maior para o louvor para o canto novo. Para os cristãos, a Ressurreição de Cristo que passou o ¡°o mar vermelho da morte¡±, quebrando as portas do cárcere da morte, é o verdadeiro êxodo. O batismo celebrado na vigília pascal integra essas duas realidades, razões para o nosso cantar.
A cada liturgia, cabe à equipe de liturgia de cada comunidade local a escolha de cantos apropriados a cada momento litúrgico, que ajudem o povo a rezar, que não dispersem nem destoem, mas, conforme afirma o Missal Romano, que os cantos tenham em vista ¡°a índole dos povos e as possibilidades de cada assembleia¡±[2].
A SC orienta assim sobre o canto litúrgico: 113. Os atos litúrgicos revestem-se de forma mais nobre quando os ofícios divinos são celebrados solenemente com canto, com a presença dos ministros sacros e a participação ativa do povo. 114. O tesouro da música sacra seja conservado e favorecido com suma diligência. Promovam-se com empenho, sobretudo nas igrejas catedrais, as ¡°Scholae cantorum¡±. Procurem os bispos e demais pastores de almas que a assembleia dos fiéis possa prestar sua participação ativa nas funções sagradas que se celebram com canto, de acordo com as normas dos arts. 28 e 30¡± (que falam do decoro e do justo ordenamento litúrgico de cada ação sagrada).
No oriente, se ficou ¡°fiel à musica puramente vocal em sua dignidade sacral como, também, com o seu conteúdo existente, tocam o coração e tornam a Eucaristia uma festa de f顱[3]. ¡°No Ocidente, o tradicional ¡°salmodiar foi desenvolvido, alcançando no canto gregoriano uma nova altura e uma nova pureza que constitui um critério permanente para a música sacra, a música para a liturgia da Igreja¡±[4]. Os padres conciliares reconhecem no canto gregoriano o canto próprio da liturgia romana, a ser reservado num lugar principal. Diz assim a SC no número 116: ¡°A Igreja reconhece como canto próprio da liturgia romana, o canto gregoriano; portanto, na ação litúrgica, ocupa o primeiro lugar entre seus similares¡±. Sobre a escolha apropriada dos cantos na liturgia, haveria muitas coisas a serem ditas sem termos aqui o tempo disponível. Os cantos, sobretudo na missa, renderiam um curso de liturgia a parte. Importante ainda dizer aqui que não cabe na escolha dos cantos o gosto ou os critérios pessoais de letra, música e ritmo, mas de seguirmos as orientações daqueles especialistas, os liturgistas que definem melhormente essa questão. Há critérios litúrgicos e orientações seguras para cada momento litúrgico.
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[1] Missal Romano, 19
[2] ibidem.
[3] RATZINGER, Joseph., ¡°Teologia da Liturgia ¨C o fundamento sacramental da existência Humana¡± ¨C Obras completas, Volume XI, edições da CNBB, Editor em Lingua alemã: Cardeal Gerhard Muller e Editor em Lingua Portuguesa Antonio Luiz Catelan Ferreira, Brasilia-DF, 2019, p.120.
[4] Ididem.
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