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Segundo o Banco Mundial, a produ??o agr¨ªcola dever¨¢ crescer 70% at¨¦ 2050 para alimentar 10 bilh?es de pessoas Segundo o Banco Mundial, a produ??o agr¨ªcola dever¨¢ crescer 70% at¨¦ 2050 para alimentar 10 bilh?es de pessoas

Santa S¨¦: mundo precisa de l¨ªderes pol¨ªticos e sociais guiados pela ¨¦tica

O observador permanente da Santa S¨¦ junto ¨¤ Fao, Mons. Arellano, evidencia que os atores internacionais muitas vezes acobertam a falta de uma ¨¦tica adequadamente s¨®lida. Da¨ª, a evoca??o ¨¤ responsabilidade dos l¨ªderes pol¨ªticos e sociais, ¡°chamados a avaliar o impacto moral das a??es das quais se fazem promotores¡±, conscientes de que ¡°toda iniciativa de amplo alcance que se queira levar adiante, al¨¦m de incidir na vida concreta de milh?es de pessoas, contribui significativamente para difundir uma determinada mentalidade¡±

Cidade do Vaticano

Os dilemas que incidem o setor agrícola e alimentar são muitos, e são poucas as certezas sobre como evitar riscos catastróficos para o ambiente ¨C ventilados pela comunidade científica ¨C, que colocam em risco a saúde humana e comprometem um futuro de prosperidade e paz para toda a humanidade. Nesse cenário é necessário refletir e agir segundo princípios éticos que possam dar respostas capazes de dominar os eventos e não ser submetidos pelos mesmos.

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Desenvolvimento sustentável exige sistema alimentar équo

Essa premissa não declarada, mas subentendida, esteve presente nos pronunciamentos dos relatores no Seminário, esta quarta-feira (13/11) em Roma na sede da Fao ¨C Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação - , centralizado na ideia de um desenvolvimento sustentável a partir de um sistema equânime produtivo e distributivo dos recursos alimentares.

Introduzido pelo presidente da Fundação Ratzinger, Pe. Federico Lombardi, S.J., e pela vice-diretora geral da Fao, Maria Helena Semedo, o encontro teve as intervenções do presidente da Pontifícia Academia das Ciências Sociais, Stefano Zamagni; do embaixador da Itália junto à Santa Sé, Pietro Sebastiani; do reitor da Pontifícia Universidade Lateranense, Vincenzo Buonomo; e do observador permanente da Santa Sé junto à Fao, Mons. Fernando Chica Arellano.

Zamagni: não a uma cultura de aceitação acrítica

Entre os perigos à espreita em nosso tempo, encontra-se, advertiu o prof. Zamagni em sua relação-guia, aquela espécie de ¡°aceitação acrítica do que está ocorrendo¡±. ¡°Bastam poucos dados para dar-nos conta da medida do que está em jogo¡±: a população mundial passará dos atuais 7 bilhões e 200 milhões para quase 10 bilhões em 2050. Por conseguinte, segundo o Banco Mundial, a produção agrícola deverá crescer 70%, com um aumento de 30% das terras cultivadas.

Gerir aumento de produção agrícola e consumos de carne

Deve-se acrescentar a isso ¨C recordou Zamagni ¨C, o aumento do consumo de carne, determinado pelo crescimento das rendas. Hoje, o consumo médio de carne na América do Norte é de 83Kg anuais por pessoa, na União Europeia é de 62Kg, na Ásia é de 28Kg e na África é de 11Kg.

A Fao previu que, em 2050, os consumos de carne aumentarão 76% a nível global, consequência dos aumentos previsíveis das rendas na Ásia e África. Isso terá um impacto enorme no consumo de água, considerando que para se produzir um Kg de cereais é preciso um metro cúbico de água e para um Kg de carne são necessários 15 metros cúbicos.

¡°[Se, de algum modo, não intervirmos, 'o desmatamento e o esgotamento das reservas de água serão as consequências trágicas e imediatas'.]¡±

Outros estudos documentam que se a humanidade renunciasse à criação de animais para abatimento, o uso dos terrenos agrícolas se reduziria em mais de 75%, porque grande parte dos cultivos é destinada à forragem para os animais, gerando cerca de 60% das emissões de gases responsáveis pelo efeito estufa.

Segundo o presidente da Pontifícia Academia das Ciências Sociais, uma ajuda poderia ser dada, além da contribuição oferecida por corretos estilos alimentares, também pelas novas biotecnologias aplicadas aos alimentos, para a produção direta de carne em laboratório; embora essas práticas experimentais ¨C bem o sabemos ¨C ainda suscitem muitas dúvidas e resistências¡±.

Reduzir desperdícios e perdas alimentares

Outro tema urgente diz respeito aos desperdícios e às perdas alimentares, em que um terço da produção mundial de alimento se perde ou se desperdiça ao longo da fileira alimentar: 32% na fase de produção, 22% nas fases sucessivas à colheita, 13% na fase de distribuição, 22% na fase do consumo. 56% desses desperdícios se verifica nos países desenvolvidos, o restante 44% nos países emergentes e em desenvolvimento.

Mercado dominado por pouquíssimas multinacionais

Ademais, há os aspectos financeiros e econômicos do mercado a ser avaliados, que direcionam as políticas agrícolas e condicionam a volatilidade dos preços dos gêneros alimentícios.

Entre os aspectos mais inquietantes, o prof. Zamagni indicou a progressiva concentração nas mãos de um restrito grupo de multinacionais que detém o controle das sementes e da agricultura mundial.

¡°[Em 1981 mais de 7 mil empresas atuavam neste setor, ao passo em que hoje 4 grupos (Bayer-Monsanto, Dow-Dupon, Chem China-Syngenta, Basf) controlam quase 90% do mercado em sua totalidade.]¡±

Além disso, 10 empresas de transformação controlam 70% do mercado de alimento. Enquanto se evoca a livre concorrência em economia, se toleram processos de concentração de empresa e do capital jamais vistos precedentemente.

Outra questão também importante diz respeito aos fenômenos do ¡®land grabbing¡¯, o açambarcamento de terras, verificado em países em desenvolvimento por parte de sujeitos terceiros, que especulam em detrimento das populações locais.

Arellano: falta uma ética sólida nas relações internacionais

A esse propósito, o observador permanente da Santa Sé junto à Fao, Mons. Arellano, evidenciou que os atores internacionais muitas vezes acobertam a falta de uma ética adequadamente sólida, capaz de conferir-lhe um lúcido domínio de si, bem como da própria missão¡±.

Daí, a evocação à responsabilidade dos líderes políticos e sociais, ¡°chamados a avaliar o impacto moral das ações das quais se fazem promotores¡±, conscientes de que ¡°toda iniciativa de amplo alcance que se queira levar adiante, além de incidir na vida concreta de milhões de pessoas, contribui significativamente para difundir uma determinada mentalidade¡±.

Líderes humildes, prudentes, empáticos, abertos e coerentes

Mas quais são os traços de um líder com dotes éticos? Segundo o representante vaticano, são, em primeiro lugar, a humildade e a consciência dos próprios limites; a prudência, ou seja, a capacidade de discernimento, de antecipação das consequências; a empatia aos problemas e aos sofrimentos dos outros; a abertura à novidade, saber ler os sinais dos tempos; a coerência.

O futuro de cada um depende dos outros

¡°Disso aprendemos que o líder deve ser alguém que age e não somente fala. E no mundo globalizado de hoje, a ação se torna cooperação, na solidária consciência de que o futuro de um depende dos outros¡±, concluiu Mons. Arelano.

A liderança, portanto, ¡°não é questão de habilidade na ars oratoria, nem de ostentação da cultura, mas de testemunho. Disso se dão conta muito bem e o exigem de modo direto, os jovens, que vivem numa fase da vida em que os grandes sonhos e os ideais não devem deixar espaço para a resignação diante de uma realidade que se apresenta de modo decepcionante e aquém de suas expectativas¡±.

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14 novembro 2019, 19:40