Em mem¨®ria de Klaus Gamber
Jackson Erpen ¨C Cidade do Vaticano
No nosso espaço Memória Histórica ¨C 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos falar hoje sobre o tema, ¡°Em memória de Klaus Gamber¡±.
Este é o terceiro programa deste nosso espaço que dedicamos ao grande liturgista católico alemão Klaus Gamber (1919-1989), muito admirado por Bento XVI. Autor do ¡°Die Reform der römischen Liturgie¡±, posteriormente traduzido para o inglês e publicado como ¡°A Reforma da Liturgia Romana: Problemas e Antecedentes¡±, ele foi um dos principais intelectuais críticos das reformas litúrgicas trazidas sob o Pontificado de Paulo VI. Seu trabalho crítico foi elogiado pelo cardeal Joseph Ratzinger e ele é reconhecido por ser uma das inspirações acadêmicas por trás do Motu Proprio Summorum Pontificum, permitindo um uso mais amplo da liturgia tradicional.
¡°E veio um outro anjo que se colocou perto do altar, com um turíbulo de ouro. Ele recebeu uma grande quantidade de incenso, para oferecê-lo com as orações de todos os santos, no altar de ouro que está diante do trono.¡± (Apocalipse 8,3) Segundo a concepção da Epístola aos hebreus, o templo terrestre de Jerusalém e seu altar eram a imagem do santuário que está no céu e no qual Cristo, o sacerdote eterno, entrou (9, 24)¡±.
Com estas palavras tem início uma coletânea de textos sobre Monsenhor Klaus Gamber, intitulado ¡°O altar de frente para o povo - Perguntas e respostas (12 perguntas)¡±.
¡°A liturgia celeste e a liturgia terrena são uma só. Assim, de acordo com a passagem do Apocalipse citado na epígrafe, um anjo está diante do altar de ouro do céu, com um turíbulo de ouro na mão, a fim de oferecer as orações dos fiéis na presença de Deus. Também a nossa oferta terrena não se torna totalmente válida diante de Deus, se não for "conduzida pela mão de um anjo no altar celestial", como é dito no cânon da Missa romana.
A concepção segundo a qual o altar aqui embaixo é uma imagem do arquétipo celestial que se encontra diante do trono de Deus, sempre determinou quer a organização do altar, como a posição do sacerdote em relação a ele: e vimos que o anjo que segura o turibulo de ouro está em pé diante do altar. Por outro lado, as prescrições que Deus deu a Moisés (ver Êxodo 30, 1-8) certamente também desempenharam um papel importante.
Essas observações preliminares eram necessárias para fazer compreender em que ponto as concepções atuais sobre o altar mudaram. Essa mudança não foi realizada abruptamente, mas pouco a pouco; começou há vários anos, antes do Concílio Vaticano II.¡±
Na edição de hoje deste nosso espaço, padre Gerson Schmidt nos traz a reflexão ¡°Em memória de Klaus Gamber¡±, inspirado na obra bibliográfica de Joseph Ratzinger agora traduzida no Brasil pelas edições da CNBB, intitulada ¡°Teologia da Liturgia ¨C o fundamento sacramental d existência Humana¡± ¨C Obras completas, Volume XI:
Comentamos no encontro passado a preciosa colaboração de Klaus Gamber no Movimento Litúrgico preconciliar que fez resultar o documento da renovação e atualização litúrgica prevista pela Sacrosanctum Concilium. Na obra bibliográfica agora traduzida no Brasil pelas edições da CNBB, de Joseph Ratzinger, disponível nas editoras brasileiras, intitulada ¡°Teologia da Liturgia ¨C o fundamento sacramental d existência Humana¡± ¨C Obras completas, Volume XI há um título de Ratzinger ¡°em memória de Klaus Gamber¡±.
Diga-se de passagem que é uma obra alemã traduzida para o português do Brasil, de grande valia, que resume tudo o que nós temos de mais precioso sobre liturgia. Segundo o autor, o texto central desse livro agora em nossas mãos, provêm de uma obra alemã ¡°Der Geist Liturgie. Eine Einführung¡± (Uma introdução ao Espírito da Liturgia), que constitui o texto central deste livro, que vamos em nosso estudo citar muitas vezes, intercalando com outras aspectos importantes.
Segundo Ratzinger, nesse livro que é um tesouro litúrgico, Monsenhor Klaus Gamber participou, ¡°com todo o coração e seu entusiasmo e esperança do antigo movimento litúrgico, antes do concilio Vaticano II"[1]. Joseph Ratzinger vê nele um grande expoente que nos mostrou a estrada, o caminho, não só com palavras.
¡°Provavelmente ¨C diz Ratzinger ¨C porque cindo de uma escola não alemã, ele ficou com o panorama alemão de um outsider que não queria aceitar; ainda recentemente, por ocasião de uma tese de mestrado, foi levantado uma forte dificuldade pelo fato de que o jovem estudante (que Ratzinger menciona nesse capítulo) tinha ousado citar Gamber de modo muito detalhado e muito ao seu favor¡±[2]. Nesse seu livro, Ratzinger aponta que deveríamos voltar a um novo movimento litúrgico, porque depois do concilio ao invés de uma ¡°liturgia amadurecida¡± se colocou uma ¡°liturgia fabricada¡±.
Vindo de um dos teólogos mais seguros da atualidade, que se tornou Papa Bento, agora já emérito, descrevemos aqui o que Ratzinger pensou de Gamber e da liturgia. Preste atenção nessa declaração de Ratzinger: ¡°Do processo de crescimento e desenvolvimento, passou-se a criar. Não queria mais continuar com uma evolução orgânica e com uma maturidade que, no decorrer dos séculos, foram experimentadas, mas colocou, justamente no seu lugar, - segundo o modelo de produção técnica ¨C o fazer, o produto feito no momento. A essa deturpação Gamber se contrapõe com a vigilância de quem está em grau de ver verdadeiramente e com a intrepidez de uma autêntica testemunha.
A esse respeito, ele (falando de Gamber), com base em um conhecimento extraordinário das fontes, ensinou-nos incansavelmente, a viver a abundância da verdadeira liturgia. Como um homem que conhecia e amava a história, nos mostrou as múltiplas configurações de sua formação e do seu envolver-se; como alguém que vê e cria a história por dentro, viu, na sua formação e crescimento, o reflexo intangível da liturgia eterna que não é objeto do fazer, mas pode maravilhosamente progredir na sua maturidade e evolução, se nós internamente nos sintonizarmos com o seu mistério.
A morte desse grande homem e sacerdote deveria despertar a nossa atenção; a sua obra poderia nos ajudar a um novo recomeço¡±[3]. Essa é a importância do Monsenhor Klaus Gamber para a liturgia. Uma lástima que morreu cedo demais para continuar a inspirar o movimento litúrgica, que segundo Ratzinger, deveria retornar, com novo entusiasmo.
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[1] RATZINGER, Joseph., ¡°Teologia da Liturgia ¨C o fundamento sacramental d existência Humana¡± ¨C Obras completas, Volume XI, edições da CNBB, Editor em Lingua alemã: Cardeal Gerhard Muller e Editor em Lingua Portuguesa Antonio Luiz Catelan Ferreira, Brasilia-DF, 2019, p. 586.
[2] Ibidem.
[3] Idem, p. 586-587.
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