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Papa ao saudar migrantes durante Audi¨ºncia Geral na Pra?a S?o Pedro (junho/18) Papa ao saudar migrantes durante Audi¨ºncia Geral na Pra?a S?o Pedro (junho/18) 

Em defesa dos imigrantes: ONU conta com Papa Francisco

O discurso do Papa Francisco de segunda-feira (7) aos membros do corpo diplom¨¢tico junto ¨¤ Santa S¨¦ sobre o combate aos nacionalismos e a busca por solu??es comuns entre as na??es foi analisado pelo Observador Permanente da Santa S¨¦ na ONU, Dom Bernadito Auza: Pont¨ªfice ¡°pode influenciar pa¨ªses que t¨ºm postura dura em rela??o a quem deveria ser ajudado e n?o rejeitado¡±.

Federico Piana, Andressa Collet ¨C Cidade do Vaticano

Do estado de saúde do multilateralismo à emersão de tendências nacionalistas e populistas, passando pela guerra na Síria, os pactos globais sobre refugiados e migrantes, assim como a reforma da ONU. Dom Bernadito Auza, núncio apostólico e Observador Permanente da Santa Sé nas Nações Unidas, comentou o recente discurso do Papa Francisco ao corpo diplomático junto à Santa Sé, em audiência na segunda-feira (7), no Vaticano.

Nacionalismos: os inimigos da ONU

Os nacionalismos crescentes e a busca ansiosa por soluções unilaterais que geram opressão do mais fraco pelo mais forte, como recordou o Pontífice, não podem deixar a ONU indiferente. Porque, sem o multilateralismo, a ONU não teria porque existir, já que está no seu DNA. Dom Auza explica que a maioria dos membros das Nações Unidas estão ¡°conscientes das problemáticas levantadas pelo Santo Padre e que sentem na própria pele¡±.

No ano passado, a presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas, María Fernanda Espinosa, realizou uma consulta com os chefes das missões para verificar as condições de saúde do multilateralismo: ¡°foi revelado que, mesmo com dificuldades, a ONU promove a política plurilateral. E a fará sempre com mais vigor no futuro¡±, afirma o observador.

O que serve, porém, são reflexões profundas sobre os mecanismos que, na prática, podem dificultar a busca de soluções compartilhadas entre os Estados-membros. Dom Auza descreve como ¡°os desafios integrais às estruturas da ONU¡±. Basta citar, em se tratando da paz e da segurança internacional, ¡°o veto dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança¡±, explica ele: ¡°é aqui que emergem os interesses nacionais e regionais, as rivalidades. Quanto mais sério e amplo é um conflito, mais prováveis são os vetos cruzados. Esse é um dos grandes desafios das Nações Unidas¡±.

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Repensar políticas de ajuda internacional

No discurso aos embaixadores, o Papa Francisco denunciou a pressão de grupos de interesse e poder que impõem as próprias ideias e visões do mundo, gerando ¡°novas formas de colonização ideológica¡±. O desenvolvimento e a ajuda internacional são terrenos férteis para esse condicionamento.

Dom Auza, em acordo com a análise do Pontífice, acrescenta que ¡°há uma imposição da vontade e dos projetos dos países doadores, em vez de considerar as verdadeiras necessidades das nações que deveriam se beneficiar com os recursos. Os ricos doadores, normalmente europeus e da América do Norte, dão dinheiro para determinados programas que querem realizar naquele país. Penso à saúde reprodutiva e sexual, aos ¡®objetivos para o desenvolvimento 2030¡¯".

¡°É imposição ideológica. Papa tem razão. É preciso repensar a política internacional de ajuda ao desenvolvimento.¡±

Reforma ONU: grande vontade perante extrema dificuldade

Dom Auza acredita que a ONU seja uma caixa de ressonância para os países mais pobres e menos ouvidos. O próprio Papa Francisco pediu claramente à comunidade internacional para ser a voz de quem não tem voz: ¡°a ONU tenta fazer isso, mesmo com inúmeras dificuldades¡±, afirma o observador.

Ao entrar no mérito da ambiciosa reforma da instituição, assumida pelo secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, Dom Auza comenta: ¡°o sistema atual, segundo o secretário-geral, não funcionou e a estrutura não está mais adequada aos nossos tempos. Procura-se se criar uma capaz de ajudar realmente os países marginalizados e que sofrem. Vejo uma grande vontade, mas também uma extrema dificuldade¡±.

O Observador Permanente da Santa Sé adverte que não serve multiplicar as estruturas quando ¡°os recursos econômicos necessários não existem. O dinheiro destinado ao desenvolvimento é uma parte muito pequena em relação àquele investido para resolver os conflitos armados. Seria necessário reequilibrar os fundos disponíveis do sistema da ONU¡±.

ONU e Papa em defesa da Síria e refugiados

As prioridades do Papa para resolver a crise na Síria e as dificuldades dos refugiados rejeitados do ocidente também são as prioridades da ONU. Essa é uma garantia de Dom Auza, partindo justamente da Síria: ¡°é um conflito em que podemos ver claramente o confronto entre as rivalidades regionais e internacionais. Não se diz nunca que a Síria é uma vítima, sozinha. Os poderes regionais deveriam poder encontrar um acordo por uma saída com dignidade¡±.

Sobre os migrantes, então, Dom Auza faz menção ao pacto global adotado neste ano por muitas nações e diz: ¡°a Santa Sé contribuiu em modo substancial ao pacto global sobre as migrações. As Nações Unidas teriam desejado a participação do Papa na conferência de Marrakech (aquela onde foi lançado o documento), mas talvez não tenha sido possível. Mesmo assim, a ONU conta muito com a voz do Papa em defesa dos refugiados, porque é certo que pode influenciar os países que têm uma postura dura em relação a quem deveria ser ajudado e não rejeitado¡±.

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10 janeiro 2019, 11:41