Migrantes e refugiados em busca da Paz
Rui Saraiva - Lisboa
A Mensagem do Papa Francisco para o 51º Dia Mundial da Paz que se celebrou no dia 1 de janeiro de 2018 tem como título: ¡°Migrantes e refugiados: homens e mulheres em busca de paz¡±. Nela o Santo Padre faz uma forte chamada de atenção para o drama de quem é forçado a migrar. Francisco considera que os migrantes não são uma ameaça mas uma ¡°oportunidade para construir um futuro de paz¡± e propõe uma ¡°estratégia que combine quatro ações: acolher, proteger, promover e integrar¡±.
No passado dia 1 de janeiro, Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus o Papa referiu-se explicitamente a este problema pedindo que não apaguemos a esperança no coração dos migrantes e refugiados:
¡°Por favor, não apaguemos a esperança no seu coração; não sufoquemos as suas expectativas de paz! É importante que da parte de todos, instituições civis, realidades educativas, assistenciais e eclesiais, haja o empenho para assegurar aos refugiados, aos migrantes, a todos um futuro de paz. O Senhor nos permita operarmos neste novo ano com generosidade para realizar um mundo mais solidário e acolhedor.¡±
¡°Convido-vos a rezar por isto, ao mesmo tempo que convosco confio a Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe, o 2018 há pouco iniciado. Os velhos monges russos, místicos, diziam que num tempo de tribulações espirituais era necessário recolher-se sob o manto da Santa Mãe de Deus. Pensando a tantas tribulações de hoje e sobretudo aos migrantes e aos refugiados, rezemos como eles nos ensinaram a rezar: «Sob a tua proteção procuramos refúgio, Santa Mãe de Deus: não desprezeis as súplicas de nós que estamos na provação, mas liberta-nos de cada perigo, ó Virgem gloriosa e bem-aventurada».¡±
Em particular, Francisco recorda o texto de S. João Paulo II para o Dia Mundial da Paz do Grande Jubileu do ano 2000, no qual era referido ¡°o número crescente de refugiados¡± devido às guerras, conflitos, genocídios e limpezas étnicas. A este numero de migrantes em crescimento devido a situações limite de sofrimento e de ¡°desespero¡± existem também aqueles que ¡°partem para se juntar à própria família, para encontrar oportunidades de trabalho ou de instrução¡± ¨C diz o Papa não esquecendo aquilo que ele próprio apontou na sua Encíclica ¡°Laudato Si¡± referindo que ¡°é trágico o aumento de migrantes em fuga da miséria agravada pela degradação ambiental¡±.
A migração nem sempre segue a via legal e são cada vez mais os que tomam ¡°outros caminhos¡± ¨C escreve o Santo Padre ¨C ¡°por causa do desespero, quando a pátria não lhes oferece segurança nem oportunidades, e todas as vias legais parecem impraticáveis, bloqueadas ou demasiado lentas¡±.
No entanto, nos países de destino da migração tem-se vindo a generalizar ¡°uma retórica que enfatiza os riscos para a segurança nacional ou o peso do acolhimento dos recém-chegados, desprezando, assim, a dignidade humana que se deve reconhecer a todos, enquanto filhos e filhas de Deus¡± ¨C assinala o Papa afirmando que ¡°quem fomenta o medo contra os migrantes¡± não constrói a paz mas ¡°semeia violência¡±. E o Papa convida todos na sua mensagem a terem ¡°um olhar repleto de confiança¡± sobre as migrações globais afirmando que estas são uma ¡°oportunidade para construir um futuro de paz¡±.
Olhar os migrantes
Citando a Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2011 escrita por Bento XVI, o Papa Francisco declara que pertencemos ¡°a uma só família, migrantes e populações locais que os recebem, e todos têm o mesmo direito de usufruir dos bens da terra, cujo destino é universal, como ensina a doutrina social da Igreja. Aqui encontram fundamento a solidariedade e a partilha¡± ¨C assinala.
A ¡°nova Jerusalém¡± como nos apresenta o livro do profeta Isaías e também o Apocalipse é referida pelo Papa como ¡°uma cidade de portas abertas para deixar entrar gente de todas as nações¡±. Uma cidade em que ¡°a paz é o soberano que a guia e a justiça o princípio que governa a convivência dentro dela¡±.
Para construir esta cidade de portas abertas é preciso em primeiro lugar, segundo Francisco, desenvolver ¡°um olhar de fé que descubra Deus¡± que habita nas nossas casas, ruas e praças. Um olhar que descubra que os migrantes ¡°não chegam de mãos vazias¡± mas trazem uma ¡°bagagem cheia de coragem, capacidades, energias e aspirações¡± ¨C escreve o Papa.
Este olhar deve ser de registo ¡°contemplativo¡± ¨C diz-nos o Papa ¨C para ¡°guiar o discernimento dos responsáveis governamentais¡± a desenvolverem ¡°políticas de acolhimento¡± baseadas na solidariedade e na fraternidade que cumpram ¡°o desejo de bem, de verdade, de justiça¡±.
Acolher, proteger, promover e integrar
Na mensagem do Papa é proposta uma ¡°estratégia¡± para oferecer aos migrantes e refugiados a ¡°possibilidade de encontrar aquela de que andam à procura¡±. ¡°Uma estratégia que ¡°combine quatro ações: acolher, proteger, promover e integrar¡± ¨C assinala o Santo Padre.
Para Francisco acolher significa ¡°ampliar as possibilidades de entrada legal¡± permitindo a hospitalidade. Proteger é ¡°tutelar a dignidade inviolável¡± dos que ¡°fogem de um perigo real¡±. Especial atenção para as mulheres e crianças. ¡°Promover alude ao apoio para o desenvolvimento humano integral de migrantes e refugiados¡±, em particular a instrução aos mais jovens. Integrar significa ¡°permitir que refugiados e migrantes participem plenamente na vida da sociedade que os acolhe¡±.
Na sua Mensagem o Papa faz votos para que sob a égide das Nações Unidas sejam aprovados em 2018 dois pactos internacionais: ¡°um para migrações seguras, ordenadas e regulares, outro referido aos refugiados¡± ¨C escreve Francisco.
O Santo Padre recorda ainda que a Secção Migrantes e Refugiados do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral produziu em 2017 um documento com vinte pontos de ação que apresenta ¡°pistas concretas para a implementação¡± dos verbos acolher, proteger, promover e integrar nas ¡°políticas públicas e também na conduta e ação das comunidades cristãs¡±.
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