Terra Santa: o apelo do cardeal Aveline para que os peregrinos retornem
Delphine Allaire - Vatican News
Tanto em Taybeh, durante a missa dominical celebrada ao lado dos três párocos dessa aldeia de maioria cristã em um território controlado pelos colonos, quanto em Belém, na Basílica da Natividade deserta, e ainda na comunidade monástica beneditina de Abu Gosh, o cardeal Jean Marc Aveline, arcebispo de Marselha e presidente da Conferência Episcopal Francesa, em peregrinação à Terra Santa com um grupo de prelados, quis encontrar os fiéis locais para testemunhar apoio espiritual, material e fraterno. Conforme recomendado pelo Papa Leão XIV em uma breve mensagem, foi uma viagem que quis ser ¡°um forte testemunho de proximidade e misericórdia¡±, em um momento de dor e incerteza, que o próprio Santo Padre quis acompanhar com o espírito e a oração.
Um testemunho pela Terra Santa
¡°Não viemos para falar, mas para ouvir e compreender¡±, explicou o cardeal Aveline diante dos jornalistas reunidos na sede do Patriarcado Latino de Jerusalém. Acompanhado pelos dois vice-presidentes da Conferência Episcopal, dom Benoit Bertrand e dom Vincent Jordy, e por dom William Shomali, o arcebispo de Marselha falou da tristeza, da angústia e da desolação vividas nos últimos dias: ¡°é difícil viver nestes lugares sabendo o que está acontecendo aqui perto, em Gaza. Uma situação que temos constantemente em mente e no coração. Sabemos bem da gravidade do que está acontecendo¡±. Durante a ligação telefônica realizada na manhã desta quarta-feira, 19 de agosto, com o pároco do enclave palestino, Pe. Romanelli, o cardeal foi informado das operações de evacuação no bairro onde fica a paróquia da Sagrada Família. O cardeal Aveline, que se prepara para partir da Terra Santa nesta quarta-feira (20/08) à noite, definiu o Pe. Romanelli como um símbolo ¡°de força interior¡± e ¡°de fé em Deus em todas as circunstâncias¡±, acrescentando que, ao retornar, ¡°terá muito a dizer à Igreja da França e às igrejas da Europa¡±.
Repensar a peregrinação
É necessário, antes de tudo, incentivar um retorno progressivo dos peregrinos, em pequenos grupos e com uma nova mentalidade, capazes de se interessar realmente pelos cristãos e pelas outras pessoas que vivem nessas terras, destaca o presidente da Conferência Episcopal Francesa. ¡°Um peregrino que saiba compreender que há cristãos neste país que não podem empreender a mesma peregrinação que ele está realizando. Uma peregrinação que não tenha como objetivo melhorar a relação com a própria fé, mas viver um sentimento de profunda solidariedade eclesial, ou seja, uma conversão do peregrino¡±, deseja o cardeal.
O mistério da Paixão e a ligação com o judaísmo
Segundo o cardeal, trata-se de uma questão de responsabilidade de toda a Igreja perante a Igreja mãe de Jerusalém. ¡°A chave de leitura principal é política, mas há também uma chave de leitura espiritual e aplicá-la é uma responsabilidade dos cristãos. Essa diz respeito ao mistério da Igreja e da Paixão¡±, explica o presidente dos bispos franceses, que discutiu este assunto em Taybeh com o patriarca emérito de Jerusalém, Michel Sabbah, que por sua vez lhe confidenciou: ¡°estamos vivendo algo semelhante à perpetuação da Paixão de Cristo¡±.
O cardeal teólogo evocou também o mistério do judaísmo, refletindo sobre o vínculo ¡°vital, profundo e existencial¡± entre judeus e cristãos. ¡°Como conseguir viver a fé judaica como uma raiz para nós e para eles como um fruto? Especialmente em um momento como o atual, caracterizado pelas escolhas políticas do governo israelense e pela rejeição de qualquer crítica, que é acusada de antissemitismo; certamente precisamos de um confronto¡±, explica, evocando o ¡°grave¡± antissemitismo que voltou a crescer na Europa. Concluindo, o arcebispo de Marselha quis expressar publicamente a admiração pelo cardeal Pierbattista Pizzaballa, patriarca latino de Jerusalém, capaz de dar prova de ¡°paciência, coragem e desejo de dizer a verdade¡±, sem nunca ferir a dignidade de ninguém, onde quer que esteja. ¡°Um dos objetivos da nossa visita¡±, precisa o cardeal, ¡°é justamente ajudá-lo em sua missão¡±.
A esperança que renasce das ruínas
Apesar dos temas políticos e espirituais bastante complexos, o presidente dos bispos franceses destaca, por fim, a profunda alegria do Evangelho, da qual a pobreza faz parte, e que ele mesmo pôde perceber nos lugares sagrados. ¡°Não se trata de um entusiasmo superficial, mas de uma alegria profunda, pois está ligada à esperança. Quando todos os motivos de esperança desaparecem, resta no coração apenas a esperança daqueles que acreditam em Cristo e na Ressurreição¡±. E citando uma definição de esperança dada pelo monge trapista André Louf, ele disse: ¡°Deus sabe fazer obras-primas com as ruínas dos nossos sonhos. Aqui ¨C concluiu ¨C muitos sonhos se quebraram, mas eis a esperança que viemos compartilhar¡±.
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