A ajuda do bispo Prevost ¨¤s pessoas que morriam de fome durante a pandemia
Salvatore Cernuzio - enviado ao Peru
Callao, Ventanilla, Pachacútec. As placas indicam o caminho. À medida que se avança em direção à periferia de Lima, deixando para trás boticas, bodegas e os numerosos Chifa, os restaurantes de cozinha fusion peruana e chinesa que fazem sucesso no país, o cenário parece cada vez mais desolador. Callao, ¡°província constitucional¡±, na verdade um subúrbio que se chega após meia hora de carro, entre estradas esburacadas e um slalom entre cabras e cães vadios. Nesta zona portuária, a criminalidade ¨C segundo quem lá vive ¨C duplicou nos últimos anos; segundo alguns, após a pandemia, segundo outros, após o esvaziamento das prisões venezuelanas. O distrito de Ventanilla, um dos pueblo nuevo (expressão eufemística para indicar uma verdadeira favela) tenta seguir em frente e ¡°sobreviver¡±, como se lê nos murais ao longo da estrada.
Segue em frente, salvo aqueles imprevistos e tragédias da vida que em pouco tempo colocam de joelhos toda uma população. Foi o que aconteceu em Pachacútec, bairro de pedreiros, comerciantes, agricultores e motoristas de mototáxi, e há alguns anos também de migrantes. Todos trabalhadores informais que ganham o sustento dia a dia. A Covid-19 causou uma carnificina entre mortos, doentes e aqueles que se viram fechados em casa sem saber onde ir para ganhar dinheiro e, portanto, comprar comida. ¡°Um caos, um caos total¡±, conta o Pe. Christophe Ntaganzwa. Ele é o pároco da Virgén de Fatima, uma pequena igreja no deserto que até 2021 não tinha nem meia pedra. Graças a benfeitores e à empresa Coprodeli, que financiou as obras do telhado e das janelas, agora é um edifício sólido, ponto de encontro e reunião para a população das barracas vizinhas distribuídas como um presépio ao longo de uma única descida.
Pe. Cristophe, com menos de 40 anos, ruandês, lembra-se dos tempos do lockdown nesta zona ¡°pobre, muito pobre¡±. Mas o faz com o sorriso de quem, como diz, ¡°viu manifestar-se a glória de Deus¡± na concretude e na providência. Ou seja, na ajuda coordenada e enviada por um homem que chegou em 2020 como administrador apostólico de Callao: o bispo Robert Francis Prevost. Impossibilitado pelas restrições de visitar Pachacútec, o bispo manteve-se próximo, telefonando continuamente ao pároco: ¡°Como vai? Como estão? Amanhã vou enviar algo a vocês¡±. E uma semana depois chegavam caminhões da Caritas com 4 mil frangos vivos ou porcos e, na semana seguinte, 150 kg de medicamentos, roupas e água mineral. O Padre Cristophe mostra as fotografias dele, com máscara, levando sacolas e caixas para as pessoas.
Ricardina, uma mulher solteira que mora em uma casinha em frente à paróquia com sua prima viúva Hilde e sua sobrinha Lisette, se beneficiou dessa onda de solidariedade. Ela oferece café quente em sua cozinha verde, com decoração e cores desarmônicas, mas limpa, organizada e com cheiro de batatas cozinhando. Sentada no sofá, ela conta a vida deste bairro onde ¡°as pessoas lutam todos os dias para seguir em frente¡±: ¡°Durante a pandemia, vivemos na desolação, na preocupação, no medo¡±. E na fome: ¡°havia pessoas que passavam fome, porque não tinham nada. Havia idosos totalmente sozinhos¡±, ecoa da casa em frente Wilder Guadalupe, 30 anos. Ele fala do lado de fora de sua casa, em frente a uma parede de metal que serve de porta, ao lado de sua mãe e de dois cachorrinhos que latem para quem se aproxima. Eles não abrem a casa, talvez por vergonha da miséria em que vivem. ¡°Graças a Deus alguém nos ajudou¡±, diz o jovem.
No desespero, a esperança. ¡°Houve uma resposta às nossas orações¡±, afirma Ricardina, ¡°uma resposta que vimos vir de Deus através daquele que agora é o Papa¡±. Nelson e sua esposa Milagros, algumas casas adiante, do pátio onde criam galinhas e cuy (uma espécie de porquinho-da-índia cuja carne é comestível), contam como, graças ao ¡°padre¡±, não só tiveram o que comer, mas ¡°comemos mais do que comeríamos em um dia normal¡±. ¡°Uma força terrível¡± a do então Prevost que, lembra o pároco, após o fim do lockdown, ficou 15 dias em Chiclayo e outros 15 em Callao. Oito horas e meia de carro cada vez. É por isso que os residentes de Pachacútec vivem hoje a eleição de Leão XIV como um presente para eles: ¡°aqui há muito sofrimento, muito abandono. Ele conhece essa realidade. Todos os peruanos se sentem abençoados¡±.
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