ÐÓMAPµ¼º½

Busca

Monsenhor Jordi Bertomeu e Paola Ugaz durante a leitura da mensagem do Papa Le?o XIV por ocasi?o do espet¨¢culo "Projeto Ugaz"" (Foto: Francisco Rodriguez Torres) Monsenhor Jordi Bertomeu e Paola Ugaz durante a leitura da mensagem do Papa Le?o XIV por ocasi?o do espet¨¢culo "Projeto Ugaz"" (Foto: Francisco Rodriguez Torres) 

Le?o XIV: nenhuma forma de abuso seja tolerada na Igreja e agradecimento a jornalistas

Um forte apelo contra toda forma de abuso: sexual, de poder, de consci¨ºncia, na mensagem enviada por Le?o XIV ao Peru, por ocasi?o do espet¨¢culo teatral "Proyecto Ugaz", dedicado a jornalista Paola Ugaz, conhecida por seu trabalho investigativo sobre o movimento Sodal¨ªcio, agora suprimido, e por isso no centro de persegui??es. Inspirando-se em seu trabalho, o Papa encoraja a liberdade de imprensa: "Onde um jornalista ¨¦ silenciado, a alma democr¨¢tica de um pa¨ªs se enfraquece".

Salvatore Cernuzio - Cidade do Vaticano

Ouça e compartilhe

Uma mulher, sua coragem contra os abusos e a corrupção, um testemunho para o mundo e para a Igreja, o convite à sacrossanta liberdade de imprensa ¨C porque se os jornalistas forem amordaçados, a democracia de um país está em jogo ¨C, mas acima de tudo um apelo:

Consolidar em toda a Igreja uma cultura da prevenção que não tolere nenhuma forma de abuso: nem de poder ou de autoridade, nem de consciência ou de espiritualidade, nem de abuso sexual.

A realidade inspira a ficção que amplifica o trabalho jornalístico que é celebrado e encorajado pelo Papa. Tudo acontece entre Roma e Lima, onde, no Teatro Plaza, de 3 a 29 de junho, está em cartaz o Proyecto Ugaz, um espetáculo teatral que tem entre seus principais espectadores (ainda que à distância) o Papa Leão XIV, que quis enviar uma mensagem para reiterar a importância dos dois temas centrais de toda a peça: a luta contra os abusos e a importância do trabalho jornalístico realizado com verdade e liberdade.

Proyecto Ugaz é, de fato, dedicado a Paola Ugaz, conhecida no país sul-americano por seu trabalho investigativo contra um dos movimentos mais poderosos de toda a América Latina, o Sodalício de Vida Cristã, mais comumente chamado de "Sodalício". Um movimento suprimido pelo Papa Francisco em 14 de abril, em um de seus últimos atos de governo, devido a casos de abusos de vários tipos e corrupção ¨C a começar pelos próprios líderes e pelo fundador Luis Figari ¨C que, após uma cuidadosa investigação pela Santa Sé, destacou a "falta de carisma fundador".

Paola Ugaz foi uma das primeiras a lançar uma denúncia contra um movimento gigante e ramificado. E o fez, ao assinar um livro em 2015, juntamente com seu colega Pedro Salinas, que reunia os testemunhos das vítimas. Dessas páginas surgiram diversas medidas do Ministério Público peruano e investigações internas dentro da própria Associação, até a intervenção do Papa Francisco, que sempre prestou grande atenção ao caso. Essas mesmas páginas custaram à mulher anos de denúncias, perseguições e ataques contra sua vida privada e profissional, especialmente nas redes sociais. Em novembro de 2022, Ugaz havia, de fato, pedido ajuda e proteção ao Papa Bergoglio, para ela e outros três jornalistas, que os recebeu no início de dezembro do ano passado, encorajando também seu trabalho.

Paola Ugaz
Paola Ugaz

Um apoio que continua e se fortalece ainda mais agora com o Papa Leão XIV, que conhece profundamente a realidade peruana e o caso Sodalício, bem como o trabalho da própria Paola Ugaz, abraçada em maio por ocasião da primeira audiência com os representantes da mídia que trabalharam durante o Conclave (memorável a foto dela entregando ao Pontífice uma chalina, o lenço feito à mão dos Andes peruanosl).

O Papa se refere àquela audiência realizada na Sala Paulo VI quatro dias após sua eleição na mensagem lida no auditório por monsenhor Jordi Bertomeu, oficial do Dicastério para a Doutrina da Fé, comissário apostólico no Peru para o caso Sodalício, com outros jornalistas e vítimas do movimento presentes na plateia.

Antes, porém, o Pontífice quer dizer três vezes ¡°obrigado¡±. Em primeiro lugar, àqueles que idealizaram e realizaram o Proyecto Ugaz, que não é somente uma peça teatral, mas ¡°memória, denúncia e, sobretudo, ato de justiça¡±, dando ¡°voz e rosto a uma dor silenciada por muito tempo¡±.

Por meio dele, ¡°as vítimas da falecida família espiritual do Sodalício e os jornalistas que as acompanharam ¨C com coragem, paciência e fidelidade à verdade ¨C iluminam o rosto ferido, mas cheio de esperança da Igreja¡±, escreve o Papa. ¡°A vossa luta pela justiça é também a luta da Igreja¡±, acrescenta, porque ¡°uma fé que não toca as feridas do corpo e da alma humana é uma fé que ainda não conheceu o Evangelho¡±.

Hoje reconhecemos essa ferida em tantas crianças, jovens e adultos que foram traídos onde buscavam conforto; e também naqueles que arriscaram a sua liberdade e o seu nome para que a verdade não fosse sepultada.

O outro agradecimento do Papa Leão XIV é dirigido àqueles que perseveraram nesta causa, "mesmo quando foram ignorados, desqualificados ou até mesmo perseguidos judicialmente". Cita, neste sentido, a Carta ao Povo de Deus de agosto de 2018, escrita pelo Papa Francisco após a difícil viagem ao Chile e o encontro com as vítimas de abuso: "A dor das vítimas e de suas famílias é também a nossa dor, e por isso é urgente reafirmar o nosso compromisso de garantir a proteção de menores e adultos vulneráveis".

A peça teatral "Proyecto Ugaz" (© Francisco Rodriguez Torres)
A peça teatral "Proyecto Ugaz" (© Francisco Rodriguez Torres)

Leão XIV faz seu o apelo do seu predecessor que, na mesma carta, falando da diferença entre "crime e corrupção", convidava todos "a uma profunda conversão eclesial". "Não é retórica, mas um caminho concreto de humildade, verdade e reparação - sublinha o Papa - a prevenção e o tratamento não são uma estratégia pastoral: são o coração do Evangelho".

Por fim, o Papa expressa sua mais profunda gratidão à própria Paola ¡°pela coragem demonstrada no aproximar-se do Papa Francisco em 10 de novembro de 2022 e pedir proteção contra os ataques injustos que ela e outros três jornalistas - Pedro Salinas, Daniel Yovera e Patricia Lachira -, sofreram por terem denunciado os abusos cometidos por um grupo eclesial com sede em diferentes países, mas originário do Peru¡±.

Entre as numerosas vítimas de abusos, havia também vítimas de abusos econômicos, os membros das comunidades de Catacaos e Castilla, que tornaram o que foi noticiado ainda mais intolerável.

Retornam, portanto, as palavras dirigidas à mídia em 12 de maio: não ¡°uma saudação formal¡±, mas ¡°uma reafirmação da sagrada missão daqueles que, por meio de sua profissão jornalística, se tornam pontes entre os fatos e a consciência das pessoas. Mesmo diante de grandes dificuldades¡±.

A verdade não é propriedade de ninguém, mas é responsabilidade de todos buscá-la, protegê-la e servi-la.

Por meio de um texto escrito e lido em um teatro, o Papa Leão XIII faz ouvir sua voz em alto e bom tom, repleta de "preocupação e esperança", pelo povo peruano. Seu "amado" povo peruano. "Neste momento de profundas tensões institucionais e sociais, defender um jornalismo livre e ético não é apenas um ato de justiça, mas um dever de todos aqueles que aspiram a uma democracia forte e participativa."

A cultura do encontro não se constrói em discursos vazios ou histórias manipuladas, mas em fatos narrados com objetividade, rigor, respeito e coragem.

O Papa se dirige às próprias autoridades peruanas, bem como à sociedade civil e também a todos os cidadãos, para proteger aqueles que, das rádios comunitárias à mídia tradicional, das áreas rurais à capital, contam a realidade "com integridade e coragem".

Onde um jornalista é silenciado, a alma democrática de um país se enfraquece.

¡°A liberdade de imprensa é um bem comum inalienável. Quem exerce conscientemente esta vocação não pode ver sua voz silenciada por interesses mesquinhos ou pelo medo da verdade¡±, afirma o Pontífice. E deixa uma mensagem repleta de ¡°afeição pastoral¡± a todos os comunicadores peruanos: ¡°Não tenham medo. Por meio do seu trabalho, vocês podem ser arquitetos de paz, unidade e diálogo social. Sejam semeadores de luz entre as sombras¡±.

Que possa  despertar os corações, sacudir as consciências e nos ajudar a construir uma Igreja onde ninguém jamais tenha que sofrer em silêncio e onde a verdade não seja vista como uma ameaça, mas como um caminho para a libertação.

Cartaz da peça "Proyecto Ugaz"
Cartaz da peça "Proyecto Ugaz"

Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp

21 junho 2025, 08:30