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Paulo VI ¨¤s Na??es Unidas (4 de outubro de 1965): "Se voc¨ºs querem ser irm?os, tirem as armas de suas m?os." Paulo VI ¨¤s Na??es Unidas (4 de outubro de 1965): "Se voc¨ºs querem ser irm?os, tirem as armas de suas m?os." 

Os Papas e o pesadelo das armas, um monstro que devora a humanidade

Num tempo em que os planos de rearmamento na Europa continuam sendo elaborados com cada vez mais detalhe, incluindo a reconvers?o de f¨¢bricas para produzir armas e drones, propomos novamente algumas reflex?es dos Papas sobre estes instrumentos de morte que n?o podem trazer nem garantir a paz. As armas ¨C afirmou Paulo VI ¨C geram ¡°maus sonhos, alimentam maus sentimentos, criam pesadelos, desconfian?as e sombrias resolu??es. Exigem enormes despesas. Det¨ºm os projetos de solidariedade¡±.

Amedeo Lomonaco ¨C Vatican News

¡°É com a força da razão, não com a das armas, que a Justiça abre caminho¡± (Pio XII, mensagem radiofónica dirigida aos governos e aos povos, 24 de agosto de 1939). ¡°Os caminhos da paz são os caminhos de Deus¡± (João XXIII, mensagem radiofônica ao mundo inteiro pela harmonia dos povos, 10 de setembro de 1961). ¡°A resposta para a guerra não é outra guerra, a resposta para as armas não são mais armas.¡± (Francisco, Audiência Geral de 10 de março de 2021). No magistério pontifício, as palavras dos Papas, em muitos casos, vão além do contexto histórico em que foram pensadas e pronunciadas. Ao estreitar o foco para reflexões sobre a guerra, pode-se ver um horizonte amplo e aberto: elas não estão ancoradas apenas em datas marcantes nos livros de história ou num evento bélico específico. Os apelos dos Papas para evitar o uso de armas transcendem o tempo: podem ser referidos ao passado, ao futuro e, sobretudo, ao presente. De fato, é no momento contemporâneo, também nesta época abalada por guerras dilacerantes não apenas na Ucrânia e no Oriente Médio, que as palavras dos Pontífices sobre o uso e a posse de armamentos devem ser acolhidas e ouvidas: são vozes, sempre atuais, que exortam o homem a desmantelar as lógicas fratricidas e a viver as da fraternidade.

Pio XII: usemos a força da razão

Os caminhos da justiça não são os das armas. Quando o mundo está à beira da guerra, com exércitos prontos para usar suas armas, as palavras dos Papas se tornam um sincero grito pela paz. Em 1º de setembro de 1939, tropas alemãs cruzaram a fronteira polonesa, marcando o início da II Guerra Mundial. Poucos dias antes, em 24 de agosto daquele ano, o Papa Pio XII dirigiu estas palavras aos governos e povos numa mensagem de rádio:

É com a força da razão, não com a das armas, que a Justiça abre caminho. Os impérios não fundados na Justiça não são abençoados por Deus. A política emancipada da moral trai exatamente aqueles que a querem assim. O perigo é iminente, mas ainda há tempo. Nada se perde com a paz. Tudo pode acontecer na guerra. Que os homens voltem a entender-se. Que voltem a negociar. Ao tratar com boa vontade e respeito pelos direitos recíprocos, eles perceberão que as negociações sinceras e factíveis nunca são impedidas de um sucesso honroso.

João XXIII: palavras de paz dos Papas enquanto há tempo

Na esteira da história, as palavras dos Pontífices são um testemunho, transmitido à história, ¡°de preocupação e de chamado ansioso¡±. É o que recorda João XIII, referindo-se aos seus antecessores, na mensagem radiofónica dirigida ao mundo inteiro pela concórdia dos povos, em 10 de setembro de 1961.

Temos diante de nós a memória dos Papas predecessores mais próximos de nós, cujo testemunho de solicitude e de apelo ansioso foi entregue à história. Das Exortações de Pio X na véspera da primeira conflagração europeia, poucos dias antes da sua santa morte, à Encíclica de Bento XV «Pacem, Dei Munus pulcherrimum»; da advertência de Pio XI, que esperava uma paz verdadeira «non tam tabulis inscriptam, quam in animis consignatam», ao apelo comovido e extremo de Pio XII, em 24 de agosto de 1939: «É com a força da razão, não com a das armas, que a justiça abre caminho», temos toda uma sucessão de convites, às vezes sinceros e veementes, mas sempre paternos ao mundo inteiro para que se previna contra todo perigo enquanto ainda é tempo, e assegurando que nada jamais se perderá com a paz. Os caminhos da paz são os caminhos de Deus e das verdadeiras conquistas.

Paulo VI: as armas criam pesadelos

A transmissão da mensagem radiofônica do Papa Pacelli, vibrante de força e angústia, em 1939, contou também com a presença de um dos seus colaboradores mais próximos, que contribuiu para a redação daquele texto. Trata-se de dom Giovanni Battista Montini que, após sua eleição à Cátedra de Pedro, tomará o nome de Paulo VI. Como Pontífice, num tempo abalado pelos ventos ameaçadores da Guerra Fria - que em 1962, com a crise dos mísseis cubanos, estavam para desencadear a Terceira Guerra Mundial - Paulo VI pronuncia estas palavras dirigidas aos governos. A ocasião é a visita histórica, em 4 de outubro de 1965, às Nações Unidas:

Se vós quereis ser irmãos, deixai cair as armas das vossas mãos. Não se pode amar com armas ofensivas nas mãos. As armas, sobretudo as terríveis armas que a ciência moderna vos deu, antes mesmo de causarem vítimas e ruínas, engendram maus sonhos, alimentam maus sentimentos, criam pesadelos, desconfianças, sombrias resoluções. Exigem enormes despesas. Detêm os projetos de solidariedade e de útil trabalho. Falseiam a psicologia dos povos. Enquanto o homem permanecer o ser fraco, inconstante, e mesmo mau como se mostra tantas vezes, as armas defensivas serão, infelizmente, necessárias. Mas vós, a vossa coragem e o vosso valor levam-vos a estudar os meios de garantir a segurança da vida internacional sem recorrer às armas; eis uma finalidade digna dos vossos esforços, eis o que os povos esperam de vós. Eis o que é preciso obter.

João Paulo II: não armas, mas canções de fraternidade

As armas cegam os olhos do homem. Em 1991, foi impressionante ver, ao vivo e por meio de reportagens dos principais canais de televisão, a quantidade de armamentos utilizados na guerra que assolava a região do Golfo. O Papa João Paulo II, em 2 de fevereiro de 1991, elevou esta oração pela paz, para que o barulho das armas fosse silenciado.

(...) Receba, Pai, a súplica que se eleva a Vós de toda a Igreja, que reza com Maria, Rainha da Paz: derrame sobre os governantes de todas as nações o Espírito de unidade e concórdia, de amor e paz, para que chegue logo a todas as fronteiras o anúncio há muito esperado: a guerra acabou! E, reduzido ao silêncio o barulho das armas ressoam por toda a terra canções de fraternidade e paz.

Bento XVI: importar ideias de paz, não armas

As armas endurecem o coração do homem e a corrida armamentista leva os governos a sempre pedirem mais, a fornecer aos exércitos metralhadoras, tanques, drones, aviões de combate e até bombas atômicas. São necessárias armas cada vez mais poderosas para travar a guerra. E armamentos cada vez mais sofisticados são necessárias, argumentam os defensores da lógica da dissuasão, também para evitar a eclosão de um conflito. Armas, mesmo aquelas que estão "adormecidas", mas imediatamente disponíveis, são "pavios" que podem ser acesos a qualquer momento. Para garantir a paz, não se deve equipar os exércitos, mas esvaziar os arsenais. Bento XVI indicou essa direção ao responder perguntas de jornalistas durante o voo para o Líbano em 14 de setembro de 2012.

Eu também diria que a importação de armas deve finalmente parar: porque sem a importação de armas a guerra não poderia continuar. Em vez de importar armas, o que é um pecado grave, deveríamos importar ideias de paz, criatividade, encontrar soluções para aceitar cada um na sua alteridade. Devemos, portanto, tornar visível no mundo o respeito pelas religiões, umas pelas outras, o respeito pelo homem como criatura de Deus, o amor ao próximo como fundamental para todas as religiões.

Francisco: não armas, mas fraternidade

As armas são semeadoras de morte e devastam o que Deus criou. Durante a II Guerra Mundial, por exemplo, elas causaram sérios danos ao meio ambiente, incluindo poluição, destruição de ecossistemas e contaminação do solo e da água. São linguagens contrárias ao que Francisco deseja na Laudato si', que nesta encíclica também destaca como os riscos podem se tornar "enormes quando se pensa em armas nucleares e biológicas". O recurso ¡°contínuo e espasmódico¡± às armas não pode garantir um futuro de paz. Esta é uma das chaves do discurso proferido pelo Papa Francisco em frente ao Memorial da Paz em Hiroshima durante sua viagem apostólica ao Japão em 2019: ¡°O uso da energia atômica para fins bélicos é imoral, assim como a posse de armas atômicas é imoral¡±. A guerra é um monstro e as armas são suas ferramentas. Na Audiência Geral de 10 de março de 2021, Francisco falou deste gigante musculoso e sem coração, alimentado todos os anos no mundo por gastos militares exorbitantes, que continua ¡°devorando a humanidade¡±.

A guerra é sempre o monstro que, na medida em que os tempos mudam, se transforma e continua a devorar a humanidade. Mas a resposta à guerra não é outra guerra, a resposta às armas não são outras armas. E perguntei-me: quem vendia as armas aos terroristas? Quem vende hoje as armas aos terroristas (¡­)? É uma pergunta à qual gostaria que alguém respondesse.  A resposta não é a guerra mas a resposta é a fraternidade. Eis o desafio (...) é o desafio para muitas regiões de conflito e, definitivamente, é o desafio para o mundo inteiro: a fraternidade. Seremos capazes de fazer fraternidade entre nós, de fazer uma cultura de irmãos? Ou continuaremos com a lógica iniciada por Caim, a guerra? Irmandade, fraternidade.

Que o mundo escute as vozes dos Papas

Nesta era marcada pelo avanço, entre luzes e sombras, da Inteligência Artificial, os maiores receios, segundo vários especialistas não infundados, dizem respeito às possíveis aplicações destas tecnologias no campo militar. O risco é ver a Inteligência Artificial em ação, de forma cada vez mais dramática e relevante, mesmo em cenários de guerra. Depois do homem, que já demonstrou amplamente quanta devastação as armas podem trazer, a Inteligência Artificial também está pronta para entrar em cena tragicamente, no destino da humanidade. Provavelmente, no futuro, algum historiador poderá escrever que a Inteligência Artificial demonstrou sua ¡°brutalidade artificial¡±. Mas enquanto há tempo, escutemos as vozes dos operadores de paz e dos Papas. Escutemos o grito do Papa Francisco, em 2019, no Japão: ¡°Chega de guerra, chega do barulho das armas, chega de tanto sofrimento¡±.

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21 mar?o 2025, 14:01