O Papa: vaticanista, contar a verdade, mas sem clamores desnecess¨¢rios
Mariangela Jaguraba - Vatican News
O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta segunda-feira (22/01), na Sala Clementina, no Vaticano, os membros da Associação Internacional de Jornalistas Credenciados junto ao Vaticano.
Atualmente, são 250 os membros da Associação Internacional de Jornalistas Credenciados junto ao Vaticano. Cento e cinquenta foram recebidos em audiência pelo Papa, esta manhã, guiados pelo presidente, o jovem correspondente do La Croix Loup Besmond de Senneville.
Ser jornalista é uma vocação
Este encontro "é uma oportunidade para agradecer a vocês, que são um pouco meus companheiros de viagem, pelo trabalho que realizam informando leitores, ouvintes e espectadores sobre a atividade da Santa Sé. Jornalistas, operadores, fotógrafos, produtores: vocês são uma comunidade unida por uma missão", disse o Pontífice no início de seu discurso.
É um chamado que nasce na juventude e leva a entender, a realçar e contar. Desejo que voltem às raízes dessa vocação, que se lembrem dela, que se lembrem do chamado que os une numa tarefa tão importante. Quanta necessidade de conhecer e contar, por um lado, e quanta necessidade de cultivar um amor incondicional pela verdade, por outro!
Construir pontes de conhecimento
Francisco manifestou sua gratidão aos jornalistas "não apenas pelo que escrevem e transmitem, mas também por sua perseverança e paciência em acompanhar todos os dias as notícias que chegam da Santa Sé e da Igreja, relatando uma instituição que transcende o "aqui e agora" e nossas próprias vidas".
"Obrigado também por seus sacrifícios em seguir o Papa pelo mundo e por trabalhar com frequência, mesmo aos domingos e feriados. Peço-lhes desculpas pelas vezes em que as notícias que me dizem respeito, de diferentes maneiras, os afastaram de suas famílias, de brincar com seus filhos, e também tiraram a vocês o tempo de passar com seus maridos ou esposas", sublinhou Francisco.
"O nosso encontro é uma oportunidade para refletir sobre o árduo trabalho de um vaticanista ao contar o caminho da Igreja, ao construir pontes de conhecimento e comunicação em vez de sulcos de divisão e desconfiança", disse ainda o Papa.
Os conselhos de um colunista histórico
Francisco usou as palavras de um decano e ponto de referência para a comunidade de vaticanistas, Luigi Accattoli, colunista histórico e editorialista de "Assuntos do Vaticano" do Corriere della Sera, que recentemente completou 80 anos, muitos dos quais viajando no séquito dos Papas.
O Papa citou textualmente as palavras de Accattoli no prefácio de um livro, quando descreve seu trabalho como "uma profissão rápida a ponto de ser implacável, duas vezes mais incômoda quando aplicada a um sujeito elevado como a Igreja, que a mídia comercial inevitavelmente leva ao seu nível de mercado". Nos muitos anos como vaticanista, Accattoli disse que "aprendeu a arte de buscar e narrar histórias de vida" e "aprendeu a humildade". Para o Papa, este é "um belo incentivo: amar o ser humano, aprender a humildade".
"Delicadeza" ao falar dos escândalos da Igreja
A seguir, Francisco agradeceu aos jornalistas pela "delicadeza" com que muitas vezes eles têm "ao falar dos escândalos da Igreja, existem e muitas vezes eu vi vocês com uma delicadeza grande, um respeito, um silêncio eu diria até ¡°vergonhoso¡±. Obrigado, obrigado por esta atitude, quando falam de escândalos".
Agradeço pelo esforço que fazem para manter esse olhar que sabe ver por trás das aparências, que sabe captar a substância, que não quer se curvar à superficialidade dos estereótipos e das fórmulas pré-embaladas da informação-entretenimento, que, em vez da difícil busca pela verdade, preferem a fácil catalogação de fatos e ideias de acordo com esquemas preestabelecidos. Eu os encorajo a continuar nesse caminho que sabe unir a informação à reflexão, o falar ao escutar, e o discernimento ao amor.
A mídia tende a deformar a notícia religiosa
No ambiente da mídia, disse Francisco, o vaticanista deve "resistir à vocação nativa da comunicação de massa de manipular a imagem da Igreja, como e mais do que qualquer outra imagem da humanidade associada".
De fato, a mídia tende a deformar a notícia religiosa. Ela a deforma tanto com o registro alto ou ideológico quanto com o registro baixo ou espetacular. O efeito geral é uma deformação dupla da imagem da Igreja: o primeiro registro tende a forçá-la a uma espécie política, o segundo tende a relegá-la a notícias leves.
"A beleza de seu trabalho em torno de Pedro é fundá-lo sobre a sólida rocha da responsabilidade na verdade, não sobre as frágeis areias da tagarelice e das leituras ideológicas; é não esconder a realidade e também suas misérias, sem amenizar as tensões, mas ao mesmo tempo sem fazer clamores desnecessários, mas esforçar-se para captar o essencial, à luz da natureza da Igreja. Como isso faz bem ao Povo de Deus, às pessoas mais simples, à própria Igreja, que ainda tem um caminho a percorrer para comunicar melhor: primeiro com o testemunho e depois com as palavras", concluiu o Papa.
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