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Francisco: a pessoa chega a Deus conhecendo-se e vivendo para os outros

No volume ¡°Cambiamo!¡± publicado por Solferino, a reflex?o de Jorge Mario Bergoglio-Francisco sobre a experi¨ºncia da f¨¦ crist?, que leva ¨¤ escuta de Deus quando ¨¦ sem fic??es e os desejos do cora??o se despojam das seguran?as humanas.

Alessandro De Carolis e Gabriella Ceraso ¨C Vatican News

Voltamos atrás no tempo quando Francisco era Jorge Mario Bergoglio, um jesuíta responsável por seus confrades na Argentina, e chegamos às raízes de uma ¡°vontade de mudança¡± que então como agora, em tempos de pandemia, marcou seu pensamento.

É isso que nos ajuda a fazer o livro intitulado ¡°Cambiamo!¡± (¡°Mudamos!¡± Na tradução livre), das edições Solferino, que saiu nesta quinta-feira (18/06), com o prefácio do diretor da revista jesuíta ¡°La Civiltà Cattolica¡±, pe. Antonio Spadaro, que o apresenta como uma obra que ¡°nos ajuda a compreender a experiência religiosa e os critérios de ação do primeiro Papa jesuíta na história da Igreja¡±, que nos ajuda a ¡°entender o Pontífice e sua convicção da importância da utopia entendida não como abstração, mas como força vital e abertura ao futuro a partir do real, do que se 顱.

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¡°Para entender um homem, de fato¡±, lê-se no prefácio, ¡°é preciso ir às raízes de sua formação, mas também investigar pontos de reviravolta, momentos de crise e guinada. Por isso, este livro é importante para entender o Papa Francisco: é a expressão de um tempo de passagem, no qual ele amadureceu a capacidade de discernimento e de escolha¡±.

O desejo

Em quais eixos gira a reflexão? Primeiramente sobre o desejo que é discutido na primeira e segunda partes do volume. ¡°Qualquer vida se decide na capacidade de se doar. É ali que se transcende, que se torna fecunda¡±, diz no Preâmbulo assinado por Jorge Bergoglio no dia de Natal de 1987. ¡°Pelo contrário¡±, prossegue ele, ¡°vida e morte para si mesmas significam fechamento, incapacidade de ser fecundas¡±. Não viver para si mesmo e não morrer para si mesmo é, portanto, a condição de qualquer possibilidade de transcender a si mesmo. Somente deste modo a vida é vida verdadeira e a morte é morte verdadeira. Caso contrário, há apenas uma caricatura, uma corrente de egoísmo cansativa - e ao mesmo tempo esgotante - que nos sufoca na apatia espiritual¡±. Pensamentos que, segundo o pe. Spadaro, mostram a superação de ¡°todo vitalismo vazio¡± e se concentram no que ¡°se abre¡± de dentro, ou seja, o desejo, uma ¡°força interior que se escancara para o sentido da vida¡±. Na primeira das seis partes que compõem o volume, emerge como o futuro Papa assimila a visão de Santo Inácio de Loyola, tal como emerge nos Exercícios Espirituais. Ele afirma que ¡°os desejos ampliam o coração¡±, e neles é ¡°possível discernir a voz de Deus¡± na história de hoje.

¡°Como podemos entender, o desejo é a mola que abre a nossa existência e se modula no 'meio' de toda vida. Bergoglio ¨C ressalta pe. Spadaro, seguindo os principais pontos do conteúdo do volume - nunca fala de um desejo heroico e sublime, distante do transcorrer diário dos dias. Baseia-se no simples reconhecimento do nosso ser criaturas, que é o ¡°princípio e fundamento¡± da vida espiritual. E assim começa o percurso da busca da nossa verdade aos olhos de Deus. Mas também o percurso no qual buscamos a verdade de Deus sobre nós. Bergoglio tem muito cuidado em reiterar o fato de que o caminho espiritual nunca é a viagem a 'outro lugar', e nada tem a ver com uma pseudo-mística que 'promove fábulas inventadas por nossos corações ansiosos e não purificados'. A verdadeira viagem interior implica 'assumir' a nossa idade, a nossa pobreza, a história que nos pertence¡±.

Você e Deus

Daí o percurso espiritual diante de Deus e de si mesmo que o volume trata em particular na terceira parte, na qual, ao abordar o aspecto do autoconhecimento - neste caso uma série de pistas e orientações úteis para acompanhar a formação dos noviços - o autor nos convida a buscar a autenticidade neste caminho de crescimento, que pode valer para todos os caminhos da fé. ¡°O homem que vai ao encontro de Deus¡±, observa Bergoglio, ¡°deve aprender a conhecer-se, deve conhecer a si mesmo em suas aspirações mais íntimas. Deve buscar a Deus com sua realidade precisa, e não com uma máscara. Ele deve crescer por dentro, com o seu próprio esqueleto, e não pedir força a uma armadura¡±. ¡°O leitor ¨C comenta pe. Spadaro - aqui se verá confrontado, antes de tudo, com o mistério de si mesmo em relação ao seu Senhor. Nenhuma leitura distante e objetiva poderá abrir o cofre destas páginas. A única forma de lê-las, de compreendê-las, é o envolvimento pessoal¡±. Para Bergoglio, a mística nunca é abstrata, mas ligada à concretude da história, aliás da própria história. Portanto, o conhecimento de Deus e o autoconhecimento andam de mãos dadas¡±. O seguimento de Cristo para o então responsável dos jesuítas argentinos é basicamente composto de um abandono radical ¡°nas mãos do Pai e dar a própria disponibilidade de ser abandonados pelo Pai¡±. Em suma, ¡°estar disposto a 'perder' Deus para estar verdadeiramente com Ele¡±. É sobre este abandono que se funda a missão e a missionariedade da Igreja¡±.

Esvaziado de si e a serviço de Deus

No início da quarta parte, numa passagem Bergoglio afirma categórico: ¡°Os cristãos se dividem em duas categorias: os que permanecem firmes e os que não permanecem firmes. Estes últimos são seduzidos¡±. Nesta seção, intitulada ¡°Palavras sobre o Natal¡±, a investigação interior se detém no silêncio, na comunidade, no amor e na fortaleza, no ¡°desejo de ser bom¡±, mas é precedida por uma visão concreta do valor da ¡°perseverança na vocação¡±. ¡°Resistir, suportar, ser paciente, tolerar - escreve o autor - significa ser firme diante dos 'movimentos' que tentam nos fazer falhar¡±. Enquanto a quinta parte, ¡°Alguns aspectos da vida religiosa¡±, sonda a criticidade das fraquezas e indica o ponto ideal de chegada, entre parágrafos que vão desde ¡°A sedução do bem-estar¡± ou ¡°Infidelidade e incerteza¡± até ¡°Paz e identidade¡±, ¡°Coragem e constância apostólica¡±. Com essa dialética que Bergoglio identifica entre ¡°Cruz e sentido bélico da vida¡±.

Toda a meditação de Bergoglio - lê-se no Prefácio ¨C nasce da contemplação do coração de Deus, que, por amor, ¡°esvaziou-se¡±. Este esvaziamento, disse o Papa Francisco em 3 de janeiro de 2014 aos jesuítas reunidos na Igreja de Jesus, provoca ¡°a inquietação do nosso abismo¡± que nos deixa abertos ao Deus semper maior, ao Deus que nos surpreende sem cessar, superando os nossos ideais e os nossos desejos. Esta é também a chave para entender o que significou para Jorge Mario Bergoglio ser membro da Companhia de Jesus, um tema que encontra amplo espaço na sexta e última parte do volume intitulado ¡°Os Jesuítas¡± e articulado entre a história da presença na Argentina e os critérios da vida apostólica, com um espaço sobre o papel dos leigos e do ¡°povo¡±.

O livro se encerra com uma meditação intitulada ¡°O Senhor do Milagre de Salta¡± na qual o conceito de ¡°graça¡± se entrelaça com a oração, a paciência, a penitência e a cruz. Bergoglio escreve:

¡°É a gratidão que enraíza uma graça em nós. Se um coração não se alimenta de gratidão, a esperança muda de sinal: não mais o sentimento de gratidão de quem recebeu e a mão estendida ainda para receber, mas a pressa ingrata que rejeita tudo porque tudo lhe parece pouco¡±.

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19 junho 2020, 10:46