S?o Jo?o Paulo II: a crise ecol¨®gica ¨¦ um problema moral
Vatican News
¡°O respeito pela vida e pela dignidade da pessoa humana inclui também o respeito e o cuidado pelo universo criado, que está chamado a unir-se com o homem para glorificar a Deus¡±.
Ao ler, quer esta passagem colocada ao final, como as linhas iniciais do texto, não teríamos dúvidas em afirmar tratar-se de uma mensagem escrita pelo Papa Francisco sobre o cuidado com a Casa comum, indissociável do respeito pela dignidade do homem.
Trata-se, na verdade, da intitulada ¡°Paz com Deus criador, paz com toda a criação¡±, com a data de 8 de dezembro de 1989, divulgada por ocasião do XXIII do Dia Mundial da Paz, celebrado em 1º de janeiro de 1990, onde o então Pontífice afirma ser a crise ecológica um problema moral.
A base da Laudato Si
Não seria equivocado afirmar que a mensagem do Papa polonês divulgada há mais de 30 anos, lançou as bases para a do Papa Francisco, da qual comemoramos os cinco anos de publicação. Na realidade, o magistério de Francisco está em total continuidade com o Papa polonês quando levantou estas questões.
A preocupação com a saúde da criação começou a ganhar corpo em alguns países principalmente a partir dos anos 70-80, e envolveu também a questão da guerra e do uso da energia nuclear e seus riscos. O acidente de Chernobyl em abril de 1986 - considerado o maior acidente nuclear da história - afetou seriamente a Ucrânia, Belarus e Rússia, lançou uma nuvem radioativa sobre parte da Europa, acendendo um sinal de alerta em relação à segurança destas usinas, e não só.
Sustentabilidade, reciclagem, uso energias alternativas geradas pelo sol e pelo vento, poluição do ar e dos oceanos, desperdício, efeito estufa, agricultura orgânica, pesticidas, são questões que passaram a ser discutidas em círculos mais amplos, ganhando espaço mesmo na legislação de muitos Estados. E também passou a se tornar uma preocupação da Igreja.
Visão moral do mundo
Sua está subdividida em uma introdução e quatro capítulos, a saber: e Deus viu que as coisas eram boas; a crise ecológica: um problema moral; em busca de uma solução; a urgência de uma nova solidariedade; a questão ecológica: uma responsabilidade para todos.
O Papa polonês fala da formação de uma ¡°consciência ecológica¡± que não deve ser reprimida, mas sim favorecida, ¡°de maneira que se desenvolva e vá amadurecendo até encontrar expressão adequada em programas e iniciativas concretas¡±, e afirma que a interligação de muitos desafios enfrentados pelo mundo, exigem ¡°soluções coordenadas e baseadas numa coerente visão moral do mundo¡±.
E ¡°para os cristãos ¨C observa - essa visão apoia-se nas convicções religiosas derivantes da Revelação¡±, motivo pelo qual inicia a mensagem com uma reflexão sobre o Livro do Gênesis, que somada a outras passagens bíblicas, ¡°lançam uma luz maior sobre a relação entre o agir humano e a integridade da criação¡±.
¡°Será possível ainda dar remédio aos danos provocados?¡±, pergunta Wojtyla, afirmando ¡°ser necessário examinar a fundo e enfrentar no seu conjunto a grave crise moral de que a degradação do ambiente é um dos aspectos preocupantes.¡±
Um problema moral
No capítulo II, o então Pontífice inicia enumerando os elementos que revelam ¡°o caráter moral¡± da atual crise ecológica, como a aplicação sem discernimento dos progressos científicos e tecnológicos; a falta de respeito pela vida, como se pode verificar em muitos comportamentos poluentes; as possibilidades formidáveis da pesquisa biológica.
Acenando para os ¡°efeitos negativos¡± decorrentes de ¡°descobertas no campo industrial e agrícola¡±, João Paulo II recorda que ¡°qualquer intervenção numa área determinada do «ecossistema» não pode prescindir da considerarão das suas consequências noutras áreas e, em geral, das consequências no bem-estar das futuras gerações¡±, e fala das ¡°múltiplas mudanças meteorológicas e atmosféricas, cujos efeitos vão desde o prejuízos para a saúde até à possível submersão, no futuro, de terras baixas.¡±
As descobertas científicas ¨C enfatiza São João Paulo II - revelam quão nobre é a ¡°vocação do homem para participar de modo responsável na ação criadora de Deus no mundo¡±, mas ao mesmo tempo observa que ¡°o índice mais profundo e mais grave das implicações morais, ínsitas na problemática ecológica, é constituído pela falta de respeito pela vida¡±.
Em relação à pesquisa biológica - com ¡°uma indiscriminada manipulação genética e pelo imprudente desenvolvimento de novas plantas e de novas formas de vida animal¡± - João Paulo II afirma que ¡°a norma fundamental, capaz de inspirar um sadio progresso econômico, industrial e científico, é o respeito pela vida e, em primeiro lugar, pela dignidade da pessoa humana¡±.
Ordem do universo deve ser respeitada
Ao falar da ¡°busca de uma solução¡±, recorda inicialmente que a teologia, a filosofia e a ciência ¡°estão de acordo quanto a uma concepção do universo harmonioso (...), dotado de uma sua integridade e um seu equilíbrio interno e dinâmico¡±, ordem esta que ¡°tem de ser respeitada¡±. A humanidade é chamada a explorar este «cosmos» com prudente cautela e ¡°fazer uso dele salvaguardando a sua integridade.¡±
¡°Os conceitos de ordem no universo e de herança comum põem, ambos eles, em realce, a necessidade de um sistema de gestão dos recursos da terra mais bem coordenado a nível internacional¡±. Disto, a responsabilidade de cada Estado, ¡°no âmbito do próprio território¡±, de ¡°prevenir a degradação da atmosfera e da biosfera, exercendo um controle atento, além do mais, sobre os efeitos das novas descobertas tecnológicas e científicas; e ainda, dando aos próprios cidadãos a garantia de não estarem expostos a agentes poluentes e a emanações tóxicas. Hoje em dia, vai-se falando cada vez mais frequentemente do direito a um ambiente seguro, como de algo que deve passar a figurar numa Carta atualizada dos direitos do homem.¡±
Por uma nova solidariedade
A ¡°crise ecológica¡±, como a definiu, exige uma urgente necessidade moral de uma nova solidariedade, especialmente nas relações entre os países em vias de desenvolvimento e os países altamente industrializados.
E assim como Francisco, o Papa polonês já defendia que somente se alcançará um justo equilíbrio ecológico, quando forem enfrentadas ¡°as formas estruturais de pobreza existentes no mundo¡±. ¡°É necessário, antes de mais, ajudar os pobres, a quem a terra está confiada, como aliás o está a todos os demais, a superarem a sua pobreza; e isto requer uma reforma corajosa das estruturas e novos esquemas nas relações entre os Estados e os povos.¡±
Depois de falar sobre as perigosas ameaças de uma guerra ¡°química, bacteriológica e biológica¡±, São João Paulo II exorta a sociedade a rever seriamente seu estilo de vida.
Conversão na maneira de pensar e agir
Para tal, urge uma ¡°educação para a responsabilidade ecológica: responsabilidade em relação a si próprio, responsabilidade em relação aos outros e responsabilidade em relação ao ambiente¡±, alertando que ¡°seu fim não pode ser ideológico nem político e a maneira de a estruturar não pode apoiar-se na rejeição do mundo moderno, nem num vago desejo de retornar ao «paraíso perdido». A educação autêntica para a responsabilidade implica uma verdadeira conversão na maneira de pensar e no comportamento.¡±
Responsabilidade de todos
Por fim, no , o Pontífice polonês reitera: ¡°A crise ecológica é um problema moral¡±, afirmando que a questão ecológica é responsabilidade de todos, pois seus vários aspectos, ¡°indicam a necessidade de esforços conjugados, com o fim de estabelecer os deveres e as tarefas que competem às pessoas individualmente consideradas, aos povos, aos Estados e à Comunidade internacional. Isto não somente anda junto com as tentativas para construir a paz, mas objetivamente também as confirma e reforça¡±.
E ¡°inserindo a questão ecológica no contexto mais vasto da causa da paz na sociedade humana, melhor nos darmos conta quanto é importante prestar atenção àquilo que a terra e a atmosfera nos revelam: existe no universo uma ordem que deve ser respeitada; e a pessoa humana, dotada da possibilidade de livre escolha, tem uma grave responsabilidade na preservação desta ordem, também em função do bem-estar das gerações futuras.¡±
Respeito pela vida inclui respeito pela criação
¡°Ao concluir esta desejo dirigir-me especialmente aos meus Irmãos e às minhas Irmãs da Igreja católica, para lhes recordar a obrigação importante de tomarem cuidado com tudo o que foi criado. O empenho de quem acredita em Deus por um ambiente sadio promana diretamente da sua fé no mesmo Deus criador, das avaliações dos efeitos do pecado original e dos pecados pessoais e da certeza de terem sido remidos por Cristo. O respeito pela vida e pela dignidade da pessoa humana inclui também o respeito e o cuidado pelo universo criado, que está chamado a unir-se com o homem para glorificar a Deus¡±.
"São meus votos que a sua inspiração: nos ajude a conservar sempre vivo o sentido da «fraternidade» com todas as coisas boas e belas criadas por Deus omnipotente; e nos alerte para o grave dever de as respeitar e conservar com cuidado, no quadro da mais ampla e mais elevada fraternidade humana."
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