Venezuela: O Papa quer verificar a vontade das duas partes
Cidade do Vaticano
Depois do pedido de Maduro ao Papa para relançar o diálogo na Venezuela, na manhã desta quinta-feira (07/02) a Sala de Imprensa da Santa Sé divulgou um comunicado, através do Diretor interino Alessandro Gisotti afirmando:
Já em Abu Dhabi, Alessandro Gisotti tinha referido que o Secretário de Estado, Pietro Parolin confirmara o episódio do líder venezuelano Maduro. Maduro, em entrevista a uma emissora italiana, informara que havia enviado uma carta ao Papa Francisco para favorecer a reconciliação na Venezuela.
Mediar, se for pedido por ambas as partes
No voo de regresso de Abu Dhabi, durante a entrevista coletiva, o Papa falou sobre a crise venezuelana, confessando que ainda não tinha lido a carta enviada pelo presidente venezuelano, mas confirma que é necessário fazer gestos ¡°facilitadores¡± para uma aproximação. O primeiro passo é o pedido de ambas as partes.
Veremos o que se pode fazer. Mas, para que ocorra uma mediação, é necessária a vontade de ambas as partes, ambas as partes pedindo. Também para os países, essa é uma condição que deve fazê-los pensar antes de pedir uma facilitação ou a presença de um observador, ou uma mediação. Ambas as partes, sempre.
Recordando o compromisso da Secretaria de Estado na crise venezuelana, Francisco não esconde os poucos resultados alcançados no passado como nos colóquios na República Dominicana entre o governo e a oposição, mediados entre o ex-presidente espanhol Zapatero, representante da Unasur, União das Nações Sul-americanas. Na época, a diplomacia vaticana trabalhou também com dom Emil Paul Tscherring, hoje Núncio Apostólico na Itália e na República de San Marino, continuou depois com Dom Claudio Maria Celli, que teve uma longa carreira na Secretaria de Estado. E ali ¨C afirmou Francisco durante o voo papal ¨C não tivemos frutos¡±.
No Panamá pensando na Venezuela
A crise na Venezuela chega a uma virada, em 23 de janeiro passado, quando o presidente da Assembleia Nacional Constituinte, Juan Gerardo Guaidó Márquez, declarou-se presidente interino.
Era o dia da chegada do Papa Francisco ao Panamá para a Jornada Mundial da Juventude. No Angelus de 27 de janeiro, o Pontífice recordou o povo venezuelano, exortando a buscar sempre ¡°o bem de todos os habitantes do país¡±.
¡°Aqui no Panamá, pensei muito no povo venezuelano ao qual me sinto particularmente unido nesses dias. Diante da grave situação que está vivendo, peço ao Senhor para que se busque e alcance uma solução justa e pacífica para superar a crise, respeitando os direitos humanos e buscando exclusivamente o bem de todos os habitantes do país. Convido todos vocês a rezar, colocando essa intercessão sob a proteção de Nossa Senhora de Coromoto, Padroeira da Venezuela.¡±
Este não é o primeiro apelo que Francisco faz. Em 2014, com o estourar da crise, o Papa enviou uma mensagem para relançar o diálogo, falando ¡°do heroísmo do perdão e da misericórdia¡±: elementos necessários para libertar-se ¡°do ressentimento, do ódio¡± e para tomar ¡°uma estrada realmente nova¡±, ¡°longa e difícil, que requer paciência e coragem¡±, ¡°a única que pode conduzir à paz e à justiça¡±.
Em maio de 2017, Francisco exortou, na carta aos bispos venezuelanos, a construir pontes, resolver os problemas graves do país, expressando ¡°profunda dor pelos confrontos e a violência¡± que, segundo as estimativas recentes do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, custaram a vida de 43 pessoas, nos últimos dias, e cerca de 850 prisões.
Um país dilacerado
A situação humanitária da Venezuela é a grande preocupação dos bispos do país, dilacerado há anos, não obstante as reservas de petróleo que possui. Os dados das agências humanitárias mostram uma realidade formada por miséria e abandono: 12% da população, segundo o Fundo das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), está desnutrida e o índice de desnutrição alcançou o nível mais elevado dos últimos 25 anos. A ONU estima que cerca de 2,3 milhões de venezuelanos fugiram do país desde 2015.
Apelo do cardeal Urosa
Numa entrevista a Aci Prensa, o cardeal Jorge Urosa Savino, arcebispo emérito de Caracas, convidou a rezar para resolver pacificamente a crise.
No domingo, 10 de janeiro passado, foi promovido o Dia de Oração, organizado pelas presidências da Conferência Episcopal Venezuelana, da Conferência dos Religiosos e Religiosas e do Conselho Nacional de Leigos, a fim de pedir ao Senhor ¡°a paz, a reconciliação e a liberdade¡±.
O purpurado fala do compromisso da Igreja com a população, através de iniciativas como ¡°Solidarity Pot¡± (Pote de solidariedade), distribuição de alimentos aos pobres.
A Caritas Venezuela ajudou e cuidou, em 2018, de 18.890 crianças e 988 mulheres grávidas. Mais de 14 mil pessoas participaram dos Dias da Saúde e a população vulnerável foi monitorada através de 92 centros nutricionais. Além disso, foram entregues 1.030 filtros de água e 4 milhões de remédios.
Cardeal Porras: reforçar a fraternidade
Numa entrevista ao jornal italiano ¡°Il Fatto Quotidiano¡±, o cardeal Baltazar Enrique Porras Cardozo, arcebispo de Mérida, contou que ¡°o país chegou ao extremo¡±, pois faltam água potável, eletricidade, medicamentos e alimentos.
O administrador apostólico de Caracas ressaltou que os bispos sentem a proximidade do Papa, ¡°sempre interessado pela Venezuela¡± e constantemente informado sobre o que está acontecendo. ¡°O que todos queremos¡±, sublinhou, ¡°é reforçar a fraternidade dos venezuelanos¡± que ¡°não querem abrir uma ferida que não se cicatrizará nunca¡±. ¡°Está em jogo algo precioso: a unidade do país¡±, concluiu o cardeal.
Bispos pedem uma solução pacífica
¡°Não queremos derramamento de sangue, por nenhuma razão no mundo¡±, disse o bispo auxiliar de Caracas, dom José Trinidad Fernández, secretário-geral da Conferência Episcopal Venezuelana (CEV), no final de uma coletiva de imprensa, através da qual a Igreja no país se expressou mais uma vez sobre a situação da nação.
¡°Sabemos que o povo venezuelano é pacífico. É necessária uma solução negociada e pacífica, que respeite a todos. Serve muito neste momento o Mandamento ¡°não matar¡± e este deve ser um processo de paz, não de guerra¡±. ¡°Certo, prosseguiu o secretário-geral da CEV, ¡°o nosso é um pedido de diálogo e o reiteramos muitas vezes em nossos pronunciamentos. Um diálogo que deve levar a uma transição pacífica e a uma mudança política que o povo está pedindo. Uma mudança política para chegar a eleições claras e transparentes¡±.
A Igreja na Venezuela continua evidenciando a situação dramática da população, a falta de alimentos e remédios. ¡°É fundamental abrir o país para as ajudas humanitárias, estamos numa situação dramática, inaudita, as crianças estão desnutridas e faltam medicamentos básicos, os mais comuns¡±.
¡°Nós bispos somos inspirados pela recente mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz, em que se fala da exigência de uma boa política a serviço da paz. É o que procuramos fazer neste momento em que o tecido social deve ser reorganizado. Não queremos mais ver pessoas detidas arbitrariamente e crianças procurando comida no lixo¡±, concluiu.
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