Meeting de Rimini, quando a paz tem o rosto de uma m?e
Guglielmo Gallone - Rimini
¡°Minha filha ficou muito zangada quando, em 2018, eu lhe disse que faria parte do Parents Circle-Families Forum, a organização que convida famílias palestinas e israelenses que perderam familiares devido ao conflito a dialogar. Dezesseis anos antes, durante a segunda Intifada, meu filho Qusay, de apenas seis meses, morreu nos meus braços. Eu estava tentando levá-lo para um lugar seguro, longe da guerra, mas os soldados israelenses me impediram. Depois de 7 de outubro de 2023, nossa vida está ficando cada vez mais complicada. Todos os palestinos que trabalhavam em Israel perderam seus empregos. Não temos abrigos para nos proteger das bombas. Nem sabemos o que está acontecendo a poucos quilômetros de nós. E as crianças não podem mais ir à escola, exceto um dia por semana. Recentemente, o governo israelense também criou novos obstáculos: além dos habituais postos de controle, há bloqueios que impedem completamente a circulação. Em uma situação de emergência, estamos isolados. No entanto, todos os anos, com o Parents Circle-Families, realizamos uma cerimônia em que lembramos todos os nossos entes queridos e lançamos uma mensagem ao mundo: israelenses e palestinos podem conviver lado a lado. Juntos, podemos realizar uma mudança. Quando meus filhos viram essa intervenção, entenderam por que eu havia aderido à organização. Minha filha me abraçou. Por muitos anos, perdi a fé, por muito tempo minha filha não compreendeu o motivo e o espírito do meu compromisso, mas esse foi o resultado mais importante, o que torna tudo mais bonito, mais fácil¡±.
Duas histórias de reconciliação e diálogo
A história de Layla al-Sheik, mãe palestina, ressoa no coração do auditório D3 do Meeting de Rimini. O Encontro organizado pela Comunhão e Libertação acaba de começar. E o fato de o evento inaugural ser dedicado às mães pela paz, a duas histórias de reconciliação e diálogo, serve para captar desde logo a essência destes cinco dias: nos lugares desertos, construiremos com tijolos novos. Layla não está sozinha. Ao lado dela, no painel moderado pela jornalista Alessandra Buzzetti, correspondente da TV2000 na Terra Santa, está Elana Kaminka, israelense, mãe de Yannai, um soldado morto em 7 de outubro de 2023. Em uma data indelével para o destino do Oriente Médio, Yannai salvou 80 recrutas e 20 civis. ¡°Yannai era meu filho, mas para mim era um professor¡±, contou Elana. ¡°Seu senso de liderança era animado por muitos sentimentos. O primeiro: fazer com que os outros percebessem seu amor para que pudessem ser mais eficazes na criação de mudanças. Depois, o senso de responsabilidade. Para mim, Yannai é um exemplo. Depois de perdê-lo, pensei que tinha perdido toda a minha vida. Falhei no maior objetivo de uma mãe: manter seu filho seguro. Então, disse a mim mesma que a única coisa sobre a qual eu poderia ter controle era minha reação. Então, compreendi seus ensinamentos e iniciei a mudança. Assim, me juntei ao Parent Circle¡±.
O sentido da fronteira na Terra Santa
Hoje, essas duas mães vivem a apenas dois quilômetros de distância: Layla em Battir, Elana em Tzur Hadssah. No entanto, para Layla, é impossível atravessar essa fronteira. Mas Elana, com a tenacidade e o carinho que só as mães podem ter, nunca perdeu a esperança: ¡°somos mães. Temos tendência a ser concretas. Layla é minha vizinha em todos os sentidos, mas se não a considerasse assim, teria uma vida complicada. Em suma, é preciso ter bons vizinhos para ter uma boa vida. Os extremistas da nossa sociedade pensam, pelo contrário, que podem eliminar os nossos vizinhos. Isso não vai acontecer. Mas é preciso compreender quantas pessoas terão de perder a vida antes que todos compreendam que israelenses e palestinos viverão sempre aqui¡±.
Scholz: ¡°levemos a conciliação aos desertos da guerra¡±
Esta é, aliás, a mensagem lançada por Bernard Scholz, presidente da Fundação Meeting, no seu discurso de abertura: ¡°poderíamos começar esta 46ª edição partindo de várias análises, mas nenhuma delas seria capaz de libertar a nossa liberdade de tomar a iniciativa para um novo começo. Para começar onde tudo parece ter acabado. O título deste encontro diz claramente que os desertos existem, mas que mesmo nesses desertos é possível cultivar. Construir juntos. Diante de tanta resignação, queremos levar vida e amizade aos desertos da solidão existencial, mas acima de tudo, conciliação aos desertos da guerra¡±.
O testemunho de irmã Aziza
É aqui que se insere o testemunho de Azezet Habtezghi Kidane, religiosa comboniana eritreia, também conhecida como irmã Aziza, ativa há anos em Israel e nos Territórios Palestinos, antes no Sudão e na Eritreia. ¡°omo freiras combonianas, o nosso objetivo é construir pontes ¨C contou hoje na sua intervenção ¨C, por isso dirigimo-nos àqueles que se ocupam dos mais vulneráveis. Entre estes, encontram-se os beduínos do deserto de Judá. Eles disseram-nos que têm principalmente dois medos: o futuro dos seus filhos e a ausência de cuidados de saúde. Tudo isso cria enormes preconceitos, alimentados pelo fato de que o muro erguido entre israelenses e palestinos nos impede de ver o rosto do outro. É por isso que uns têm medo dos outros. E a cada ano essa separação se torna mais difícil. Mas com a guerra e a violência não há esperança. Porque quando se vê o rosto do outro, se vê Deus¡±.
Feridas indeléveis, esperanças infinitas
A ferida provocada pela morte de um filho, no coração de uma mãe, nunca cicatriza. São esses os desertos imensos e intransponíveis daqueles que vivem na história. No entanto, essas duas mulheres testemunharam que é possível seguir um caminho diferente da vingança e do ódio. É preciso humildade, coragem, determinação. Mas são estes os ¡°construtores de comunidade, de convivência, de paz, de participação e de solidariedade¡±, aos quais se referiu o presidente da República Italiana, Sergio Mattarella, na sua mensagem enviada ao Meeting. As comunidades definham onde prevalecem o descompromisso ou a indiferença. Construir, pelo contrário, significa retomar o caminho da história. E é isso que se quer fazer num Encontro que, hora após hora, animado por encontros, jovens voluntários, pessoas, histórias, painéis, faz emergir o objetivo destes dias que o Papa Leão XIV identificou e sublinhou na sua mensagem de saudação: ¡°Deixar-se levar ao deserto e ver desde já o que pode nascer dos escombros e de tanto, demasiado, sofrimento inocente¡±.
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