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Cartum em 16 de abril de 2023, ap¨®s a eclos?o da guerra. Cartum em 16 de abril de 2023, ap¨®s a eclos?o da guerra.  (AFP or licensors)

O inferno sudan¨ºs, ignorado pelos poderosos

A ONG Coopi, que trabalha no Sud?o h¨¢ mais de 20 anos, d¨¢ o alarme sobre o que chama de uma das ¡°mais graves crises humanit¨¢rias das ¨²ltimas d¨¦cadas¡±. O presidente Claudio Ceravolo, no 60? anivers¨¢rio da organiza??o, enfatiza a import?ncia de um compromisso cada vez maior com a coopera??o internacional: "¨¦ necess¨¢rio um despertar das consci¨ºncias para relan?ar os valores da paz".

Stefano Leszczynski ¨C Vatican News

Dois anos atrás, em 15 de abril de 2023, um conflito brutal eclodiu no Sudão entre as Forças Armadas Sudanesas (Saf) e os paramilitares das Forças de Apoio Rápido (Rsf), causando a pior crise humanitária do mundo. Uma guerra esquecida, no entanto, ofuscada pelos cenários igualmente dramáticos na Ucrânia e em Gaza, cujo impacto em termos de deslocamento, alimentos, água e assistência médica provavelmente se precipitará ainda mais, afetando grande parte da África Oriental e colocando milhões de vidas em risco.

Pessoas exaustas pela guerra

¡°O que está ocorrendo no Sudão é um dos melhores exemplos do que o Papa Francisco chama de ¡®a terceira guerra mundial em pedaços¡¯.¡± Claudio Ceravolo é o presidente da Coopi - Cooperação Internacional, uma ONG que está presente no Sudão há mais de 20 anos. ¡°Antes da guerra, estávamos operando no país com projetos basicamente de desenvolvimento agrícola, segurança ambiental e empoderamento das mulheres, no entanto¡±, observa Ceravolo com pesar, ¡°todos esses projetos foram dizimados pela guerra e, desde 15 de abril de 2023, não temos feito nada além de assistência de primeiro nível e de urgência para ajudar as populações devastadas pela guerra¡±.

Grave emergência humanitária

De acordo com dados concordantes de várias agências da ONU, mais de 12 milhões de pessoas foram deslocadas no Sudão desde a eclosão da guerra há dois anos e, dessas, quase 4 milhões buscaram refúgio além das fronteiras, em países como Egito, Chade e Sudão do Sul, que já enfrentam graves pressões humanitárias. Quase um terço da população sudanesa está deslocada e metade dela é composta por crianças.

Chiara Zaccone, coordenadora do programa da Coopi no Sudão, chegou ao país logo após o início da guerra e viu a situação humanitária e a violação dos direitos humanos básicos se deteriorarem em um ritmo crescente. ¡°Desde o início do conflito¡±, diz ela, "houve mais de 29 mil vítimas, das quais 7.500 são civis, mas o número é muito maior se levarmos em conta também as pessoas que morreram por causas indiretamente ligadas à guerra. O Sudão, de fato, até o momento, também é um país onde uma grave condição de insegurança alimentar e fome foi declarada em mais de um local". A crise alimentar afeta 24 milhões de pessoas, enquanto pelo menos 270 mil não têm acesso à água potável. Os serviços básicos também estão comprometidos: nas áreas mais afetadas pelo conflito, apenas 25% das instalações de saúde permanecem operacionais, enquanto a falta de água e as condições higiênicas precárias estão incentivando a disseminação de doenças como cólera, dengue e malária.

Faltam fundos para ajuda

¡°Diante da enormidade de necessidades¡±, diz Filippo Ungaro, porta-voz do Unhcr na Itália, ¡°há pouco interesse por parte da comunidade internacional em lidar com essa crise do ponto de vista financeiro. Nosso plano regional para o Sudão tem apenas 9% de financiamento, o que gera uma enorme preocupação com a própria sobrevivência dos refugiados e das pessoas deslocadas". O êxodo de civis que fogem do conflito no Sudão envolve todos os Estados vizinhos, com consequências desestabilizadoras para sociedades que já se encontram em um estado frágil. O Chade abriga entre 700 e 800 mil sudaneses e continua mantendo suas portas abertas; o Egito, um milhão e meio; a Líbia, mais de 250 mil; e Uganda, mais de 700 mil. ¡°Claramente¡±, enfatiza Ungaro, ¡°essa incapacidade da comunidade internacional de resolver conflitos internacionais por métodos pacíficos, a escassez de fundos alocados para respostas de emergência só continuarão a alimentar esse fluxo de pessoas para o mundo exterior e que, se não puderem voltar para casa, tentarão de todas as formas reconstruir suas vidas em outro lugar, mesmo ao custo de atravessar o mar¡±.

Os interesses por trás da guerra

A alocação de mais recursos financeiros, no entanto, não seria suficiente para resolver o sofrimento dos sudaneses. ¡°Mesmo que a ajuda econômica fosse 100 vezes maior amanh㡱, diz Ceravolo, da Coopi, ¡°sem um compromisso político sério para pôr fim à guerra, muito pouco seria resolvido¡±. Como, então, essa preguiça política pode ser justificada em nível internacional? Uma inação que é encontrada em quase todas as situações de conflito em nível global. ¡°Os interesses econômicos estão tão difundidos¡±, observa Ceravolo com amargura, ¡°que a guerra agora é vista como uma política econômica realizada com outros meios¡±.

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15 abril 2025, 16:23