O "narcisismo espiritual" e a amizade social
Diác. Adelino Barcellos Filho - Diocese de Campos - RJ
Em nossa realidade, o ¡°narcisismo espiritual¡± está superando em muito, o egoísmo acirrado dos crentes e não crentes. A inversão de valores está promovendo que, ¡°o mal é bonzinho¡±, "mentirinha do bem", ¡°eu sou tão bom, que não preciso ter compromisso com nada, nem ninguém, nunca matei, nunca roubei¡±, ¡°todo mundo faz, por que eu tenho que ser diferente?¡± De antemão fico com a poesia do jovem músico Naldo José ¡°Escuta aí: eu não sou diferente dos iguais, eu sou diferente dos diferentes¡±. ¡°Só preciso estar de joelhos, uma Bíblia, um terço, uma vela¡± e a participação nos Sacramentos da Santa Igreja; sobretudo, no Santo Sacrifício da Missa.
O Papa Francisco, no dia Mundial da Vida Consagrada (2/fev/2024), confirmou nossa reflexão, elencando questionamentos: ¡°evangelizar o mundo é uma responsabilidade também nossa? Acolher o Senhor, o Menino Deus das novidades e das surpresas, o passado, abrir-se ao futuro? O velho que sobrevive em nós, está apto a abrir-se ao novo que Ele gera? Sabemos que isto não é simples, porque na vida religiosa de cada cristão é difícil, por ser a força do velho. De fato, não é fácil para o velho que há em nós, acolher a criança, o novo, acolher o novo da nossa perícia (avaliação especializada); a novidade de Deus é apresentar-se como uma criança e, nós com todos os nossos hábitos, medos, temos à nossa frente esta criança? Abraçar lamas (pecados), é dar espaço, brecha ao inimigo; tentaremos contagiar Velho e o Novo procurando deixar-nos perturbar o menos possível, pela presença da novidade de Deus?"
Ao ouvir e ver estes questionamentos, recordamos da Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi (EN), do dia 8 de dezembro, solenidade da Imaculada Conceição da Bem-aventurada Virgem Maria, do ano de 1975, décimo terceiro do pontificado do Papa Paulo VI, atualíssima para nossos tempos, em seus parágrafos (21-22), ao afirmar que, ¡°O fenômeno dos não praticantes é muito antigo na história do cristianismo e anda ligado a uma fraqueza natural, a uma incoerência profunda que nós, por nosso mal, trazemos no fundo de nós próprios." Nos tempos atuais, ele apresenta roupagem nova, características novas e explica-se frequentemente pelos desenraizamentos típicos da nossa época, de incertezas, inseguranças, notícias falsas (fake news).
Ele nasce também do fato de os cristãos hoje viverem lado a lado com os não-crentes e de receberem constantemente o contrachoque da incredulidade. Além disso, "os não praticantes contemporâneos, mais do que os de outras épocas, procuram explicar e justificar a própria posição em nome de uma religião interior, de autonomia ou de autenticidade pessoal" (EN - ¡°narcisismo espiritual"). Ateus e incrédulos por um lado, e não praticantes pelo outro, (também nas nossas comunidades eclesiais) opõem, assim, resistências à evangelização, à Verdade, em nome de um ¡°eu quero, eu posso, eu consigo¡±, "eu determino a Deus e Ele faz, eu consigo".
Existe uma forte tendência à resistência que algumas pessoas têm diante de mudanças significativas, sejam elas de ordem social, filosófica ou espiritual. Resistem por meio de uma recusa, uma incapacidade para aceitar o novo em suas vidas ou atualização do novo, aliás ¦¥¦Ô¦Á¦Ã¦Ã?¦Ë¦É¦Ï = "evangelho" significa "boa mensagem", "boa notícia" ou "boas-novas". A ideia é que essa aceitação só é possível a partir do Absoluto de Deus, ou seja, a partir de uma perspectiva Divina. Padre Rafael Solano, sobre a Exortação Apostólica do Papa Paulo VI, nos diz o seguinte: ¡°a (EN) tem como pressuposto fundante e princípio, do início ao fim: como podemos anunciar a Boa Nova de Jesus Cristo?¡± Um grande desafio que os religiosos, em ¡°seu testemunho silencioso, de pobreza e de despojamento (desapego), de pureza e de transparência, de entrega para a obediência, pode tornar-se capaz de tocar o coração mesmo dos não-cristãos de boa vontade, sensíveis a certos valores¡±.
É grande a importância do testemunho silencioso dos Religiosos e Religiosas, Bispos, Padres, Diáconos, que vivem uma vida de pobreza, despojamento (desapego), pureza, transparência e obediência. Esse testemunho pode se tornar uma interpelação para o mundo e para a própria Igreja de Jesus Cristo, sendo uma pregação eloquente, sem fingimento, capaz de tocar o coração até mesmo daqueles que não são cristãos, mas que possuem boa vontade e são sensíveis a certos valores. Os Consagrados à Oração, ao Silêncio, à Penitência e ao sacrifício desempenham um papel importante na Evangelização. Eles têm o ¡°poder¡± (Serviço) de influenciar e tocar as pessoas de maneira profunda. Dedicam-se diretamente ao Anúncio de Jesus Cristo, realizando uma Ação Missionária, em saída.
O conceito da expressão ¡°Amizade Social¡± parte do princípio de atingir uma unidade multiforme que gera Nova Vida (Jesus Cristo). Caminha-se numa visão INTEGRAL como futuro possível de reconhecimento da Dignidade Humana, de respeito à Criação e Temor ao Divino; Grito dos profetas que clamam no deserto. A prática da amizade social envolve a vivência de valores fundamentais como a solidariedade, a compaixão, o respeito mútuo e a busca pelo bem comum. Ela se manifesta por meio de ações concretas que promovem a união, a Fraternidade e a Justiça Social.
Além disso, a amizade social incentiva o diálogo intercultural, a inclusão e a promoção da dignidade humana, tendo sempre como meta a Salvação Eterna. A prática da amizade social precisa estar presente no cotidiano, seja por meio de gestos simples de Gentileza e Empatia (colocar-se no lugar do outro), ou por meio de engajamento em Projetos Sociais e Comunitários. Ela se manifesta na maneira como nos relacionamos com os outros, na disposição para ouvir e compreender o próximo, e na disposição para contribuir para o bem-estar coletivo, sem fingimento ou interesses escusos. Podemos considerar uma "atualização" da EN.
Em seu parágrafo 70 a Evangelii Nuntiandi (EN) aponta que os leigos têm um papel fundamental na vivência e promoção do Evangelho no mundo. Embora a Instituição e o desenvolvimento da Comunidade Eclesial sejam papéis específicos dos Pastores (Bispos, Padres e Diáconos), a tarefa imediata dos leigos é colocar em prática as possibilidades Cristãs e Evangélicas presentes no mundo. O campo de atuação dos Leigos na Evangelização abrange a política, a realidade social, a economia, a cultura, as ciências, as artes, a vida internacional, os meios de comunicação, bem como outras realidades como o Amor, a Família, a Educação, o Trabalho e o Sofrimento, instrumentos para a edificação do Reino de Deus e para a Salvação em Jesus Cristo. Enfim, os leigos têm um papel crucial na transformação do mundo, à luz do Evangelho de Jesus Cristo.
Maria Santíssima, Esposa amorosa do Espírito Santo, entrego meu corpo aos vossos cuidados. Fazei que sempre me lembre que meu corpo é um Templo para o Espírito Santo que habita em mim. Não permitais nunca, que peque contra Ele cometendo atos impuros e contra a virtude da pureza, seja sozinho ou com outras pessoas. A Vossa Obediência seja Modelo em perceber, qual seja a Santíssima Vontade de Deus no dia a dia. Obrigado Mãe querida, Senhora da Luz, das Candeias, dos Navegantes!
Diácono da Igreja Católica Apostólica Romana (Ordenado com vistas à Ordenação Sacerdotal). Pós-graduado em Gerenciamento Socioambiental Costeiro - COPPE/UFRJ. Especialista em Educ. Profissional e EJA (Educação de Jovens e Adultos, Catecumenato) IFF/RJ. Teologia - ISTARJ (Instituto Superior de Teologia da Arquidiocese do Rio de Janeiro). Licenciatura Plena em Filosofia - PUC/MG. Professor na Formação Pedagógica de Educadores; Formação Humana e Profissional de mais de 500 dentistas, na FOC - Faculdade de Odontologia de Campos/RJ; Coordenação e Docência em dois Institutos Federais (IFRJ e IFF). Atualização de estudos teológicos - ETRM/RJ (Escola Teológica Redemptoris Mater). Convalidação Teológica iniciada no Centro Educacional Claretiano (com TCC defendido). Atualmente provisionado por Sua Exa. Reverendíssima Dom Roberto Francisco Ferrería Paz - Bispo da Diocese de Campos/RJ, na Paróquia São Tomé. Experiência na área de Teologia e Filosofia, Ambiente e Educação, podendo atuar nos seguintes temas: teologia, filosofia, espiritualidade, catecumenato, proeja, proeja fic, pronatec, eja, mundo do trabalho, aquicultura e pesca, sustentabilidade, turismo, interdisciplinaridade. Orientações e participações em bancas de TCC (mais de 60): Pós Graduações e Ensino Médio.
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