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A festa dos 20 anos da funda??o da Organiza??o Saint Martin, novembro de 2019 A festa dos 20 anos da funda??o da Organiza??o Saint Martin, novembro de 2019  A hist¨®ria

Uma comunidade a servi?o de Thomas, de Lawrence e dos mais fr¨¢geis

H¨¢ mais de vinte anos no ²Ï³Ü¨º²Ô¾±²¹, a organiza??o de Apostolado social Saint Martin dedica-se ¨¤s crian?as de rua, pessoas com defici¨ºncias e toxicodependentes. Fundada em 1999, no final do ano passado a dire??o passou do padre Mariano Dal Ponte a uma volunt¨¢ria queniana, a advogada Irene Whamiti.

Giada Aquilino ¨C Cidade do Vaticano

A localidade de Nyahururu encontra-se apenas a 3 km do Equador e 200 km de Nairóbi, a capital do Quênia. É uma localidade de 100 mil habitantes, incluindo os arredores e a zona rural, no coração do Rift Valley, a maior placa tetônica do mundo que se estende por cerca de 6 mil quilômetros da Síria ao Moçambique. Desde 1999 a organização do Apostolado social Saint Martin está presente no país. Foi fundada pelo padre Gabriele Pipinato, sacerdote italiano na época missionário fidei donum no Quênia, e administrada com a colaboração da Fundação Fontana Onlus e a diocese de Pádua que já mantinha outras atividades no país desde 1965.

Atualmente dedicam-se a vários tipos de fragilidades, acolhendo meninos de rua, pessoas com debilidades e toxicodependência. Com a participação direta da população local, conta com cerca de 700 voluntários e 65 funcionários, com o lema: ¡°Only throught community ¨C Somente através da comunidade¡±. Em 11 de novembro do ano passado, na festa de São Martinho, foi festejado os 20 anos da fundação.

A narração de um sacerdote italiano no Quênia

O padre Mariano Dal Ponte foi o responsável pela Saint Martin por muito tempo, vindo de Pádua é também missionário fidei donum no Quênia há 17 anos e dirigiu a organização de 2012 a 2019. Ao falar com o Vatican News, confessou o seu ¡°amor¡± pelo Quênia e a sua realidade: ¡°Foi o melhor presente que poderia ganhar, viver todos estes anos como sacerdote naquele país¡±, segundo ¡°o chamado do Evangelho para viver a solidariedade e a fraternidade¡±. Explica logo que a Saint Martin trabalha com ¡°a participação da comunidade local¡±, na qual os voluntários ¡°comprometem-se fundamentalmente no encontro com os mais frágeis, com os mais pobres, não apenas para ajudá-los, mas para se deixar transformar¡± por eles.

Don Mariano Dal Ponte nas festividades dos 20 anos da Organização Saint Martin
Don Mariano Dal Ponte nas festividades dos 20 anos da Organização Saint Martin

O nascimento da Saint Martin

A história da Saint Martin começa no final da década de 1990, a partir de um encontro, conta padre Mariano, ¡°do padre Gabriele Pipinato com Thomas, um rapaz com deficiência que até então vivia literalmente em um quarto fechado¡±: pessoas como ele ¨C prossegue ¨C ¡°ficavam escondidas e eram consideradas até mesmo amaldiçoadas, porque tinham deficiências¡±. Ao ir ¡°abençoar uma família, foi-lhe pedido para abençoar todas as peças, os animais e o sítio, os campos vizinhos, mas não aquele jovem, que tinha ficado sozinho em um quarto. Por acaso padre Gabriele abriu a porta e viu Thomas. Ali se deu conta da necessidade de fazer algo de concreto pelo jovem e outros como ele¡±. Hoje a organização ¡°trabalha em três localidades do país africano, Baringo, Laikipia e Nyandarua, e dedica-se a projetos sociais, que cresceram com o tempo. Tudo começou com o projeto para as pessoas com deficiências ¨C confiado recentemente à Comunidade Arca, fundada por Jean Vanier ¨C depois foi realizado o projeto para os meninos de rua, os de toxicodependência, pela paz e reconciliação, com os contagiados pelo vírus HIV, e mais recentemente com as deficiências mentais¡±.

A comunidade de Saint Martin
A comunidade de Saint Martin

Os projetos

¡°O nosso apostolado é do tipo social¡±, afirma padre Mariano, onde ¡°nosso¡± é sinal de pertença que vai além de qualquer distanciamento. ¡°No caso dos meninos de rua, eles são acolhidos em três centros e em seguida passam por um processo de reabilitação: depois tentamos envolver a família de origem. Tentamos entender se podem ser acolhidos novamente ou se a situação é desfavorável ¨C e eventualmente tentamos confiar-lhes a guarda a outras famílias disponíveis, por isso continuamos a acompanhá-los por alguns anos até a completa reinserção na sociedade. Trata-se de um projeto que não é apenas para as crianças de rua, mas para todos os menores em dificuldade. O Tribunal de Menores de Nyahururu assinala à organização Saint Martin também os casos de crianças vítimas de violências. Por isso temos um centro feminino que abriga essas meninas¡±. No que se refere a pessoas com deficiências mentais, consideradas ¡°pobres entre os pobres¡±, até hoje marginalizadas e sem atenções, a Saint Martin leva adiante um ¡°percurso de formação da comunidade para informar o que significa doença mental e como ajudar as pessoas que sofrem¡±, com esepcial atenção à ¡°relação com a família, à dignidade da vida¡±.

A assistência da Organização Saint Martin
A assistência da Organização Saint Martin

O retorno de Lawrence

Dos inúmeros rostos que marcaram os vinte anos da Saint Martin, são muitas as histórias que compõem as páginas de vida diária. Padre Mariano recorda a de um menino de rua, que ele chama Lawrence, nome fictício, para não violar sua privacidade: encontrou-o no início da sua experiência como diretor da organização e notou que tinha uma deficiência física em uma perna que o obrigava a usar uma muleta. ¡°Na realidade, não tinha uma família, foi acolhido nos nossos centros de reabilitação, ajudado a estudar e com a ajuda dos vizinhos de casa, foi adiante e se tornou um professor. No ano passado, uma pessoa que nenhum de nós reconheceu apresentou-se para a oração matutina, no início da semana. Como sempre acontece, todos os hóspedes se cumprimentam e ele fez o mesmo, dizendo: ¡®Talvez vocês não recordem de mim, eu sou Lawrence, vim para agradecer-lhes porque vocês confiaram em mim quando ninguém acreditava, hoje sou professor do ensino médio. Logo irei me casar. Vim trazer o convite do meu casamento. Não quero presentes, mas quero ajudar a sustentar a associação Saint Martin, para que um outro menino de rua possa ser acolhido, e tenha possibilidade de estudar como eu tive¡±. Isso é só um exemplo, sublinha o sacerdote, de um bem que ¡°não transforma só a vida dos que são ajudados, mas cria ao mesmo tempo um comportamento na própria pessoa e nos outros¡±.

Um encontro da Organização
Um encontro da Organização

Somente através da comunidade

Trata-se de um trabalho diário que coloca no centro as pessoas beneficiárias do projeto, com o objetivo de favorecer a colocação no contexto social e, se possível, no de trabalho. Mas o compromisso não termina aqui. O lema ¡°Only throught community ¨C Somente através da comunidade¡±, leva os membros da organização a ¡°envolver as realidades locais, as escolas, as instituições e também a comunidade cristã ao redor dos vulneráveis¡±. Deste modo participam de modo direto e gratuito voluntários, professores, médicos, advogados, para fazer com que estas pessoas não sejam marginalizadas, e tenham um lugar na sociedade¡±. Para a organização Saint Martin inclusão quer dizer estar ao lado dos que necessitam, e ¡°fazer com que as pessoas envolvidas nesta situação de necessidade sejam transformadas e encontrem a cura que todos precisamos, a cura do coração¡±. Significa assumir as fragilidades envolvendo ¡°as famílias, as comunidades vizinhas, a Igreja de pertença. Saint Martin é uma organização ecumênica: envolvemos a Igreja à qual pertence o beneficiário para que se comprometa em acolhê-lo e cumpra o percurso necessário para a verdadeira inclusão¡±.

A situação de necessidade

Todas as manhãs os membros da organização deixam a sede de Nyahururu e saem pelas ruas. Encontram voluntários e beneficiários, dependendo da região, e depois decidem como envolvê-los nas situações de necessidade¡±. ¡°A Saint Martin, esclarece padre Mariano ¨C está presente na comunidade, nos vilarejos, onde quer que tenha necessidade. Não é uma organização que institucionaliza a cura das pessoas em dificuldade, mas que alcança a família mesmo nos longínquos centros rurais, envolve as pessoas que estão ao redor dos que sofrem, cria voluntariado local, que não são pagos. Fornece-lhes exclusivamente formação profissional sobre a deficiência ou a situação de necessidade e preparação espiritual. Portanto o projeto é acompanhado e monitorizado. E em caso de necessidade de tratamentos hospitalares, mobiliza-se para que o paciente seja assistido ou curado em centros adequados¡±.

Rift Valley no Quênia
Rift Valley no Quênia

Shabaab e gafanhotos

A região onde se encontra a organização, na parte central do Quênia, ¡°é uma zona rural, onde há muita pobreza principalmente nas áreas mais afastadas do centro de Nyahururu¡±. Encontramo-nos diante de ¡°situações de vulnerabilidade social, como por exemplo um pai ou uma mãe que são alcoólatras e os filhos são abandonados, portanto sem casa nem comida¡±. Neste contexto coloca-se a vulnerabilidade de um país ainda ameaçado pela corrupção, desigualdade social, desemprego, violência ligada aos ataques de jihadistas do grupo al-Shabaab e, principalmente, nas últimas semanas, nas grandes perdas de matas e animais por causa da invasão de milhões de gafanhotos.

O futuro nas mãos de uma mulher

Mas o Quênia continua sendo ¡°um país belíssimo do ponto de vista natural, pelas possibilidades, pelos povos que ali moram, com potencialidades inacreditáveis¡±. Os votos do padre Mariano ¡°é de que este povo continue a cultivar a beleza, o bem que traz dentro das próprias raízes, dentro da própria cultura¡± sem cair na tentação de se tornar uma economia emergente ¨C porque já está se tornando ¨C na qual a tentação de correr atrás do ¡°nosso¡± modelo ocidental corre o risco de diminuir, de acabar com a unicidade e a originalidade do seu povo¡±. Em particular, ¡°as zonas rurais são áreas saudáveis, onde é fácil envolver a comunidade¡± em projetos da organização, garante o sacerdote. A prova é o que aconteceu em dezembro do ano passado. Com o retorno à Itália, padre Mariano, que agora está em Salcedo, perto de Vicenza, a administração da Organização Saint Martin passou a uma mulher, uma advogada africana que trabalha para o Supremo Tribunal do Quênia. Chama-se Irene Whamiti, 55 anos, uma das primeiras voluntárias da Saint Martin. Agora ela é responsável por dezenas e dezenas de meninos e meninas, homens, mulheres e idosos não auto-suficientes e de suas famílias que, sem alguma ajuda, seriam abandonados ao seu destino.

Irene Whamiti, à direita, durante uma cerimônia
Irene Whamiti, à direita, durante uma cerimônia

Assumiu a direção da Saint Martin como diretora, como voluntária: Irene não recebe nenhum salário pelo seu trabalho e é uma pessoa que conhece bem a história da Saint Martin e ama a sua missão, mas também é uma mulher, uma profissional preparada. Parece-nos um belo sinal do ponto de vista de gênero, da importância do significado dentro da Igreja no Quênia e na sociedade queniana¡±.

Padre Mariano fica comovido ao falar sobre as metas alcançadas: a Saint Martin agora caminha autonomamente, confiada à comunidade local africana. Por sua vez, o missionário não esquece os dias em Nyahururu. Promete voltar ao Quênia, mesmo para ¡°visita¡±. ¡°Poderia parece mal-educado não fazer isso¡± confessa. No fundo deixei ali muitos amigos com os quais ¡°sofri e me alegrei por vinte anos¡± e recorda ¡°a amizade e a proximidade ficam para sempre¡±.

 

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26 fevereiro 2020, 11:05