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Jovens palestinos assistem a escavadeiras militares israelenses demolindo uma casa de propriedade palestina na vila de Shuqba, a oeste de Ramallah, na Cisjord?nia ocupada, em 1? de setembro de 2025. (Foto de Zain JAAFAR / AFP) Jovens palestinos assistem a escavadeiras militares israelenses demolindo uma casa de propriedade palestina na vila de Shuqba, a oeste de Ramallah, na Cisjord?nia ocupada, em 1? de setembro de 2025. (Foto de Zain JAAFAR / AFP)  (AFP or licensors)

Combonianas mexicanas e os desafios da miss?o na Cisjord?nia

Irm? Lourdes Garc¨ªa e Irm? Cecilia Sierra, mission¨¢rias origin¨¢rias do ²Ñ¨¦³æ¾±³¦´Ç, relatam os desafios di¨¢rios enfrentados pelas comunidades em meio ¨¤ expans?o dos assentamentos israelenses e o temor da agress?o dos colonos. As duas religiosas administram creches e cursos de capacita??o, oferecendo a crian?as e adultos as ferramentas para resistir e ter esperan?a em um futuro melhor.

Vatican News com AsiaNews

¡°Aquela estrada não existia há um mês. E aquela rotatória? Construíram-na nos últimos dias.¡± Irmã Lourdes García e Irmã Cecilia Sierra, missionárias combonianas originárias do México, olham para as colinas a leste de Jerusalém e não conseguem deixar de perceber como a paisagem se transforma em um piscar de olhos. Sinais da contínua expansão dos assentamentos israelenses na Cisjordânia ocupada. ¡°Os colonos chegam e primeiro hasteiam uma bandeira israelense. Depois, geralmente, aparece uma caravana e, então, começam as primeiras construções¡±, explica a Irmã Lourdes.

Assentamentos considerados ilegais pelo direito internacional estão surgindo em áreas onde vivem tribos beduínas. Forçadas a abandonar seu estilo de vida nômade, elas agora vivem principalmente em barracos construídos com chapas de metal ou em quartos feitos de painéis de madeira e telhados de lona plástica. Eles vêm observando seus rebanhos diminuírem há algum tempo: "Os colonos costumam comprar uma cabeça de gado, colocá-la entre os rebanhos beduínos e tirar uma foto. Depois, vão à polícia israelense, alegando que o gado é deles", diz a Irmã Cecília. "E assim roubam os poucos meios de subsistência que restam aos beduínos."

As duas missionárias administram cinco creches espalhadas pela Cisjordânia, particularmente na região conhecida como E1 (Leste 1), onde o governo israelense decidiu recentemente expandir o assentamento de Ma'ale Adumim, dividindo a Cisjordânia em duas partes e isolando Jerusalém Oriental dos territórios palestinos. A conclusão do plano E1, que remonta à década de 1990 e foi posteriormente congelado devido à pressão internacional, tornaria efetivamente impossível a criação de um Estado palestino viável nos territórios ocupados, como o próprio ministro das Finanças israelense, Bezalel Smotrich, enfatizou ao anunciar a aprovação da construção de 3.000 novas casas: "O E1 sepulta a ideia de um Estado palestino e dá continuidade às inúmeras iniciativas que estamos empreendendo na prática como parte do plano de soberania de fato que começamos a implementar com a criação do governo." Quer para críticos como para apoiadores do projeto, o passo sucessivo não poderá ser outro, senão a anexação da Cisjordânia, que o Knesset, o parlamento israelense, já aprovou com uma moção não vinculativa nas últimas semanas.

 

No meio desse conflito estão os beduínos. Essa comunidade nunca foi reconhecida, apesar de viver nessas áreas desérticas há muito tempo e, portanto, é considerada "ilegal". Apesar da dramática situação política, a Irmã "Sisi" e a Irmã "Lulu", como as crianças as chamam, visitam as comunidades quase diariamente. Nos jardins de infância, os pequenos brincam, aprendem inglês e fazem lanches, muitas vezes sob o olhar atento das mães. Não se trata de estruturas modernas, mas sim de complexos simples por dentro e com os logotipos de várias agências de cooperação europeias na parte externa. No entanto, além de financiar construções desse tipo, essas agências nunca se interessaram realmente pela vida real da população beduína, afirmam as missionárias.

"Nossa atividade aqui começou graças à organização Rabbis for Human Rights (Rabinos pelos Direitos Humanos)", uma associação israelense que há tempos envolve diversas organizações para proteger a população palestina dos ataques de colonos às suas propriedades. "Nossas consorelas que trabalharam aqui antes de nós eram enfermeiras e realizavam exames médicos. Doenças genéticas são muito comuns entre as famílias palestinas porque é costume que primos se casem; é uma questão cultural", explicam as religiosas. "Em determinado momento, famílias beduínas nos disseram que precisavam de escolas para seus filhos. As crianças costumavam caminhar pela estrada até Jericó para ir à escola, mas depois que duas crianças foram mortas por colonos, elas nos perguntaram se poderiam fazer suas lições em algum lugar mais próximo", comenta Irmã Lulu, em Israel há sete anos.

¡°As crianças com mais idade costumavam ir à escola de pneus¡±, continua a missionária, referindo-se a uma escola para beduínos construída em 2009 pela ONG milanesa Vento di Terra com mais de 2.000 pneus. ¡°Mas agora a presença de colonos ao longo do trajeto aterroriza as crianças, então pedimos às autoridades palestinas que fizessem algo. Agora, as crianças precisam de 40 minutos de ônibus para chegar à escola devido à presença de novos assentamentos.¡± Nem mesmo passeios ao deserto são mais possíveis: ¡°Há colonos por toda parte, não seria seguro¡±, explicam as missionárias, que não demonstram nenhum sinal de medo. ¡°Não estamos preocupadas conosco; já demos nossas vidas¡±, diz a Irmã Sisi. ¡°Só tememos por essas famílias. Os assentamentos estão cada vez mais cercados por arame farpado e câmeras. Eles se tornaram um local para testar as mais recentes tecnologias de reconhecimento facial.¡±

Nas semanas de agosto, antes do retorno às aulas, crianças de todas as idades participam dos jogos, que muitas vezes incluem brincadeiras aquáticas para enfrentar as altas temperaturas, que às vezes ultrapassam os 40 graus Celsius. Mas, antes de jogar balões de água, as crianças gostam de ter o rosto pintado como tigres ou leões. "Irmã, você pode desenhar uma bandeira palestina para mim? Porque eu sou palestina", diz uma das alunas à Irmã Sisi.

As novas gerações de israelenses e palestinos, criadas em clima de guerra, fazem questão de destacar as divisões. Enquanto as jovens israelenses usam colares com a silhueta da Palestina cruzando a Estrela de Davi, entre as meninas beduínas, o colar com as mesmas bordas, mas ladeado por um rifle, está na moda. Mesmo as crianças menores, depois de perguntarem aos visitantes de onde são, não perguntam seus nomes, mas sim suas afiliações políticas: "Você ama a Palestina? Você ama Israel?" Em uma pedra colorida, uma criança beduína, rejeitando essa lógica, escreveu em árabe "hurriya as-salam", que significa "liberdade de paz".

A realidade das divisões físicas, no entanto, é uma realidade que as missionárias conhecem bem. Irmã Lourdes e Irmã Cecília vivem em el-Azariya, Betânia, mas em uma casa separada da de suas Irmãs Combonianas devido à presença do muro, construído desde 2002 após a eclosão da segunda intifada, que divide Israel dos territórios ocupados. A barreira delimita os muros externos da casa das Irmãs Combonianas, que, antes de 7 de outubro de 2023, acolhia grupos de peregrinos cristãos. Para comunicarem entre si, os missionários gritavam ocasionalmente através das janelas.

Enquanto as missionárias contavam essas histórias, betoneiras, guindastes e escavadeiras passavam continuamente pelas colinas que cercavam os jardins de infância beduínos.

"Antes da guerra de 7 de outubro, muitos palestinos trabalhavam nos assentamentos israelenses. Agora, não trabalham mais; os homens muitas vezes estão desempregados em casa ou são forçados a trabalhar nas plantações construídas pelos colonos em frente aos assentamentos, mas são principalmente as mulheres que precisam sustentar suas famílias."

As Irmãs Combonianas começaram, então, a oferecer cursos de costura, de produção de sabão e fabricação de velas. "Nós fornecemos a matéria-prima", explica a Irmã Cecília, "as mulheres beduínas fabricam produtos que depois enviamos para o exterior graças a uma rede solidária de amigos que nos conhecem, missionários, e o nosso trabalho aqui. Essas mulheres só trabalham quando as crianças estão dormindo e gostariam de criar sua própria cooperativa, mas no momento não sabemos se isso será possível." Essas atividades simples permitem que elas supram apenas as necessidades básicas de subsistência. "As esposas nos pediram para fazer algo pelos seus maridos também", explicam as freiras. "No ano passado, demos uma aula de hebraico para que os homens soubessem o que estão assinando. As autoridades israelenses frequentemente aparecem com documentos que eles não conseguem ler. Nem todos conseguiram terminar as aulas, mas alguns que aprenderam a língua suficientemente bem conseguiram manter seus empregos nos assentamentos."

"Não sabemos para onde essas famílias irão; nenhuma delas tem um lugar esperando por elas", acrescenta a Irmã Lulu. "É por isso que tentamos ensiná-las o que podemos: pelo menos elas terão aprendido algo que pode ser útil no futuro."

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02 setembro 2025, 15:07