Nagasaki, Cupich: corrida ¨¤s armas nucleares n?o se vence, s¨® se pode perder
Linda Bordoni ¨C Vatican News
Uma reflexão de um alto prelado, mas também de um cidadão estadunidense que medita sobre o uso da arma atômica por seu país. O cardeal Blaise Joseph Cupich, arcebispo de Chicago, ofereceu-a aos fiéis em sua homilia na missa celebrada esta quinta-feira, 7 de agosto, em Nagasaki, marcando o aniversário do bombardeio nuclear da cidade japonesa em 9 de agosto de 1945. O purpurado classificou a decisão de usar bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki como "profundamente errônea", pois violava princípios fundamentais do direito internacional e da doutrina moral católica, particularmente no que diz respeito à distinção entre combatentes e civis.
"Infelizmente, durante a barbárie da Segunda Guerra Mundial, a insistência tradicional na imunidade dos não combatentes ruiu", explicou, referindo-se aos bombardeios incendiários de cidades japonesas anteriores aos ataques atômicos e criticando a normalização dos ataques contra civis segundo a lógica da "guerra total". Hiroshima e Nagasaki, afirmou ele, foram escolhidas em parte porque outras cidades já haviam sido destruídas, o que teria reduzido o impacto psicológico da nova arma. Em seguida, o cardeal Cupich citou os escritos do jesuíta estadunidense John Ford, que, já em 1944, condenava os "bombardeios de aniquilação" como moralmente inaceitáveis. O alerta de Ford, explicou o cardeal, ainda ressoa hoje, visto que as questões morais em torno da dissuasão nuclear permanecem sem solução.
Mudança na opinião pública nos EUA
Embora reconheça que a opinião pública nos Estados Unidos mudou, com a maioria agora desaprovando os bombardeios da Segunda Guerra Mundial, Cupich expressou preocupação com o fato de muitos cidadãos estadunidenses ainda aceitarem a ideia do uso de armas nucleares em cenários de conflito atuais. Uma pesquisa recente, citada pelo cardeal, demonstra o apoio da opnião pública a ataques nucleares em guerras hipotéticas, se tais ações salvarem a vida de militares estadunidenses. Isso indica, explicou ainda o arcebispo de Chicago, "que a disposição da opinião pública estadunidense de recorrer a armas nucleares e matar deliberadamente civis estrangeiros não mudou tanto desde 1945 como muitos estudiosos presumiam". As observações do arcebispo de Chicago apontam, portanto, para a necessidade de redefinir a tradição da Igreja de guerra justa. Ele argumenta que ela deve estar radicada na formação moral e na solidariedade, e não no cálculo estratégico. O cardeal também se refere à importância do desarmamento integral, termo desenvolvido pelo Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, que, a seu ver, exige a abordagem dos fundamentos sociais, econômicos e ecológicos da paz.
A ilusão da dissuasão nuclear
O cardeal Cupich acrescentou, então, que "o uso de ameaças, que é a essência da estratégia de dissuasão nuclear, jamais poderá alcançar a coexistência pacífica entre as nações, capaz de produzir uma ética inspirada na solidariedade, no desenvolvimento autêntico e nos direitos humanos". Além disso, devemos ter cuidado com a ilusão de "paz autêntica" criada pela "realidade desconfortável dos impasses armados entre as nações", com as recentes tensões geopolíticas envolvendo países como o Irã e a Coreia do Norte comprovando o perigo contínuo representado pelas armas nucleares.
A responsabilidade dos Estados Unidos
Como os Estados Unidos continuam sendo, juntamente com a Rússia, uma das duas superpotências nucleares do mundo, o cardeal estadunidense apontou para a responsabilidade especial que cabe ao seu país. "Os Estados Unidos devem buscar construir uma ordem internacional baseada em fundamentos não nucleares", exortou, apelando a um compromisso renovado com a redução das armas e a rejeição do neoisolacionismo. Cupich concluiu prestando homenagem aos Hibakusha - os sobreviventes dos bombardeios atômicos - cujas "vozes proféticas" há décadas "têm sido agentes da paz" e que devem continuar a inspirar os esforços para pôr fim à corrida armamentista nuclear. "A humanidade deve se comprometer a pôr fim à corrida armamentista nuclear, pois é uma corrida que ninguém pode realmente vencer, mas que muitos milhões de pessoas podem realmente perder."
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