Cardeal Arbor¨¦lius: os fi¨¦is podem trabalhar juntos pela paz
Jean-Charles Putzolu ¨C Vatican News
A primeira conferência ecumênica "Vida e trabalho", que em 1925 reuniu em Estocolmo várias centenas de líderes e representantes cristãos, com a ausência dos católicos, contribuiu fortemente para fortalecer a unidade entre as diferentes confissões cristãs. Seu objetivo, em um momento em que o mundo saía da sangrenta Primeira Guerra Mundial, era abertamente o de promover a paz e a cooperação. Convocada pelo arcebispo luterano sueco Nathan Söderblom, que cinco anos depois obteve o Prêmio Nobel da Paz, ela permitiu lançar as bases para uma ação comum dos cristãos e, posteriormente, multiplicar os testemunhos de unidade na fé, para além das divisões doutrinárias.
Para comemorar o centenário desta iniciativa, os diversos líderes cristãos se reuniram na Suécia, desta vez com uma delegação católica liderada por Dom Flavio Pace, secretário do Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos, e pelo cardeal Anders Arborélius. Em uma entrevista à mídia do Vaticano, o bispo de Estocolmo volta a falar sobre a contribuição do diálogo ecumênico para a paz, em um mundo profundamente dividido.
Eminência, como as diferentes confissões cristãs entendem sua responsabilidade na construção da paz hoje?
Em um período marcado por conflitos e guerras, é importante trabalhar mais ativamente pela paz. Naturalmente, nós cristãos temos a oração, mas também procuramos ter contato com as autoridades para fazer as coisas progredirem. Fazemos o que podemos, mesmo que pareça pouco. Trabalhamos para educar o povo de Deus para que todos possam trabalhar juntos pela paz.
Como as Igrejas podem contribuir para a reconciliação entre povos divididos por conflitos?
Penso que as Igrejas e as comunidades cristãs possam ser pontos de referência em nível internacional, podem transmitir uma mensagem de esperança. Os fiéis de todos os países, e sobretudo aqueles em guerra, podem trabalhar lado a lado pela paz. No caso da situação na Ucrânia, rezamos em particular pela união dos ortodoxos divididos, para que se unam na paz e pela paz.
Que papel têm as declarações e iniciativas conjuntas na prevenção e na resolução de conflitos?
Naturalmente, todos nós rezamos pela paz. Mas trata-se também de um grito de desespero, sobretudo diante da falta de escuta de nossas orações por parte dos políticos. Diante da situação na Ucrânia ou na Terra Santa, vemos a pobreza e há uma certa frustração por não termos a capacidade de trabalhar pela paz como gostaríamos. No entanto, não perdemos a esperança de que o Senhor nos ajudará a continuar nosso trabalho pela paz.
Que tensões surgem quando algumas Igrejas tomam o partido de uma das facções em conflito?
A dor é muito grande dentro da Igreja. A guerra, no plano político, cria divisões em nossas Igrejas. É por isso que os encontros são realmente necessários, para caminhar em direção à reconciliação também entre os cristãos. Esperamos que, graças às nossas orações, os fiéis encontrem a paz.
Como as confissões cristãs podem evitar que a religião seja instrumentalizada para justificar a violência?
A instrumentalização de nossas Igrejas é um perigo real. Por isso, a voz do Santo Padre é muito importante. O Papa nos ajuda a amar nossos inimigos para trabalhar em favor do diálogo. Somos realmente gratos a ele, porque sua ação nos ajuda a trabalhar pela reconciliação, sobretudo em tempos de guerra.
A conferência de 1925 foi realizada logo depois do primeiro conflito mundial. A de 2025 acontece em um mundo onde há pelo menos 50 conflitos em andamento, uma espécie de terceira guerra mundial em pedaços, como Francisco costumava dizer. Nesse sentido, este evento tem um significado particular?
Sim, absolutamente. Este momento é essencial para permitir a proclamação da paz, sobretudo no atual contexto mundial. É através desta mensagem de esperança que invocamos o Senhor para que nos ajude a construir uma paz reconciliadora. E estes momentos de oração organizados em Estocolmo entre cristãos de diferentes confissões e de diferentes Igrejas são um sinal evidente disso. Permitem-nos elevar a oração e criar um clima mais favorável ao diálogo.
Em 1925, a Igreja Católica não estava representada na Conferência de Estocolmo. Cem anos depois, uma delegação da Santa Sé está presente. O que mudou?
A Igreja Católica precisou de tempo para se preparar para entrar nesse diálogo ecumênico e, sobretudo, foi necessário o Concílio Vaticano II. É preciso entender que naquela época havia muita distância e muitos mal-entendidos. Mas podemos dizer que o ecumenismo entre protestantes e católicos nasceu nos campos de concentração, na Alemanha, onde eles se encontraram. Em diversos países, também houve muitos pioneiros, como na França ou na Itália. Mas é principalmente sob o impulso do Concílio Vaticano II que a Igreja Católica se tornou um participante ativo do diálogo ecumênico.
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