A peregrina??o de um Cardeal ¨¤ terra ferida pela guerra
Padre Luiz Octávio ¨C Brasília
A estrada entre Lviv e Kiev é longa, mas não mais que a distância entre o céu e o inferno que se tem vivido na Ucrânia. São quase 600 quilômetros de paisagens verdes e aldeias resilientes, cortadas por marcas visíveis e invisíveis do conflito que ali perdura. E foi por essas estradas que, entre os dias 14 e 24 de julho de 2025, caminhou, em sentido literal e espiritual, um pastor vindo de longe: o Cardeal Paulo Cezar Costa, Arcebispo Metropolitano de Brasília, acompanhado do chefe do gabinete episcopal, Padre Luiz Octávio de Aguiar Faria. O Cardeal enfrentou os desafios logísticos de um país em guerra, entrou na Ucrânia pela fronteira terrestre, por meio da Polônia, e percorreu centenas de quilômetros entre as cidades ucranianas de Lviv, Kiev, Berdychiv e Lutsk.
Com o coração de peregrino, o Cardeal Paulo Cezar respondeu ao chamado da Conferência Episcopal Ucraniana, sob a presidência de Dom Vitalii Skomarovskyi, para presidir a Santa Missa no Santuário Nacional de Nossa Senhora do Carmo, em Berdychiv, por ocasião da grande peregrinação anual. Não foi, no entanto, uma visita protocolar. ¡°Eu quis ir à Ucrânia para ser solidário com o povo ucraniano, quis estar com eles, para que sentissem a presença de irmãos de outra parte do mundo, para mostrar para eles que não estão sozinhos e que há tanta gente rezando por eles¡±, define Dom Paulo.
Pés em solo ferido
A chegada à Ucrânia exigiu atravessar fronteiras físicas e simbólicas. Com o espaço aéreo fechado por conta da guerra, foi pela Polônia que o Cardeal adentrou o território ucraniano. Lviv o acolheu com sua beleza barroca e sua dor contida. Ali, no coração católico de rito latino do oeste ucraniano, celebrou sua primeira Missa em solo de guerra. Ainda cansado da longa viagem, ofereceu orações aos fiéis de Brasília e ao povo que o recebia.
Ao lado do Bispo Edward Kawa e de outros sacerdotes, caminhou entre igrejas católicas, ortodoxas e greco-católicas, num roteiro silencioso de comunhão com a fé múltipla daquele povo. Em Lviv, a vida pulsa ao redor de cemitérios, sinos e sirenes, e, a Igreja, continua a ser farol.
Escutar em nome da Igreja
No dia 18, em Kiev, Dom Paulo reuniu-se com o Conselho Ucraniano de Igrejas e Organizações Religiosas, órgão ecumênico e inter-religioso, e encontrou-se com representantes diplomáticos da Nunciatura Apostólica e da Embaixada do Brasil.
¡°Parece-me que ali se busca construir aquilo que o Papa Francisco propunha na Fratelli Tutti: uma sociedade de irmãos. Pelo pouco que conheci do conselho de Igrejas e religiões, percebi que há respeito pelas diferenças. Não se entra na questão das distinções, daquilo que é específico de cada religião, a sua doutrina, mas se busca enfrentar as principais questões juntos¡±, relatou o cardeal.
Em continuação à visita à capital, Dom Paulo atravessou os corredores de um hospital militar, abençoou soldados feridos e seus familiares. Um gesto pequeno na geopolítica do mundo, mas reconfortante para aqueles que o receberam.
Maria, esperança da Ucrânia
Em pleno aniversário, em 20 de julho, Dom Paulo celebrou a Missa da grande peregrinação carmelitana na cidade de Berdychiv, que se tornou o ápice litúrgico e afetivo da viagem. Milhares de devotos reuniram-se aos pés da Virgem do Escapulário, em que buscam consolo e proteção.
¡°Ali se vê bem a fé do povo ucraniano, a fé do povo na Mãe de Deus, se vê o sentimento de filiação que os cristãos sentem com Ela. Mesmo com o tempo de guerra, se via o Santuário cheio, o pátio do santuário cheio, e as pessoas lá, com esperança, implorando à Mãe o dom da paz.¡±, contou Dom Paulo.
Lutsk e a lição da unidade
Em 21 de julho, Dom Paulo dirigiu-se a Lutsk, onde experimentou uma das expressões mais concretas da fraternidade ecumênica vivida na Ucrânia. Com Dom Vitalii Skomarovskyi, encontrou o Exarca Apostólico da Igreja Greco-Católica e o Metropolita Ortodoxo local, num gesto de proximidade da fé cristã. Divididas por séculos de história e política, as dioceses se unem pela cruz da guerra e pela esperança da ressurreição.
Ainda em Lutsk, no dia 22, Dom Paulo participou da festa da padroeira Santa Maria Madalena com a comunidade ortodoxa ucraniana. ¡°Se vê que há um caminho de diálogo e há proximidade, isso é bonito. Jesus rezou pela nossa unidade, pediu ao Pai que todos nós sejamos um, como ele e o Pai são um.¡±, afirmou. Na ocasião, recebeu homenagens e distribuiu bênçãos, plantou sementes onde, talvez, um dia, floresça a plena comunhão.
Memória e Misericórdia
A viagem se concluiu em Cracóvia, cidade da vizinha Polônia. Foi o momento da memória. O Cardeal percorreu os campos de Auschwitz-Birkenau, testemunhou o horror que o ser humano pode produzir.
Em 24 de julho, celebrou a Eucaristia no Santuário da Divina Misericórdia, e visitou os lugares marcados pela vida de Santa Faustina Kowalska e São João Paulo II, santos de uma Polônia ferida que se tornou, também, testemunha de reconciliação.
Entrevista com o Cardeal Paulo Cezar Costa sobre a viagem à Ucrânia e à Polônia.
De forma pessoal, o que mais marcou o senhor durante essa visita em meio a uma guerra ainda em curso?
Primeiro, agradeço a possibilidade de falar um pouco da viagem à Ucrânia e à Polônia. O que mais me marcou foi o encontro com o sofrimento do povo ucraniano, especialmente dois momentos que trago muito na memória. O primeiro foi a visita a um cemitério em Lviv, onde se vê, concretamente, quantas vidas foram ceifadas nesta guerra, quantos jovens, quantas pessoas perderam a vida. O segundo foi a visita a um hospital, onde uma cena ficou gravada em minha memória: uma mãe, delicadamente, chorava enquanto seu filho, que havia sido operado, permanecia em estado crítico. Essas duas cenas me marcaram profundamente. É ali que se toca, de forma concreta, o horror da guerra. Claro que não vimos o fronte, que está em outra parte da Ucrânia, mas, mesmo assim, sente-se o perigo: as sirenes à noite, as pessoas se protegendo de drones e mísseis, onde o perigo é constante. Um povo que vive essa realidade toca e choca o coração de um pastor, de qualquer homem, de qualquer mulher, de qualquer pessoa de boa vontade. Tenho certeza de que isso impactou meu coração, minha vida e minha caminhada.
O senhor se sentiu inseguro em algum momento? Qual foi a percepção de estar em um país em guerra?
Não, em momento algum me senti inseguro, ainda mesmo, um dia, na cidade de Kiev, onde as sirenes soaram. Não me senti inseguro. O que mais me tocou foi ver a dor das pessoas, a dor do povo ucraniano. Eles vivem aquilo no dia a dia, vivem a insegurança mediante os drones, os mísseis, onde a população vai tendo a sua esperança minada na vida cotidiana. É uma guerra que nós estamos falando aqui, tem três anos, mais ou menos, onde a esperança das pessoas vai sendo minada, onde não se vai vendo uma luz para o fim dela. Isso mina a esperança das pessoas, isso mina a possibilidade das pessoas de andarem adiante. Eu me lembro bem de um prédio, onde era a residência de estudantes, destruído pelos mísseis. Mas, ao mesmo tempo, encontrei um povo cheio de resiliência. Que já viveu um sofrimento sem igual. Muita gente ali viveu o tempo do comunismo, um país que, depois, se libertou da ex-União Soviética, onde reconstruiu todo um caminho de liberdade.Me vem à mente as palavras que São João Paulo II dirigiu à Ucrânia, quando a visitou. Ele diz: ¡®A vossa luta é a luta pela liberdade¡¯. E, hoje, continua essa mesma realidade: um povo que está lutando pela sua liberdade, um povo que não quer ser, de novo, escravo, que não quer, de novo, pertencer a um país autoritário, um povo que está lutando por aquilo que é mais humano, na vida de qualquer pessoa humana e na vida de um país, a sua liberdade, o direito de ser livre.
Na visão do senhor, qual é a percepção que a Igreja Católica tem dessa guerra?
A Igreja Católica sofre, junto com a sociedade ucraniana, essa guerra injusta, essa invasão da Rússia. A Igreja Católica sofre, também, essa realidade, solidária e próxima do povo. Percebe-se, por parte de todos, um cansaço e, ao mesmo tempo, uma indignação com a guerra, o que é normal.
Ela vai destruindo o tecido da vida de uma sociedade, destrói construções, transforma prédios, casas e moradias em escombros. Mas faz mais do que isso: vai destruindo a vida das pessoas, vai destruindo a resiliência, vai destruindo as famílias, a esperança e a vida, literalmente a vida de uma sociedade.
E como o senhor percebe o papel não só da igreja católica, mas talvez mais amplamente também das outras religiões em contextos assim de guerra e de dor, como que a Ucrânia está vivendo?
As religiões têm sempre o papel de apontar para o bem, de trazer esperança para a vida de uma sociedade. E, na Ucrânia, me parece que estão cumprindo essa missão. Quando nos encontramos com o conselho das igrejas, via-se o sofrimento de todos e a indignação de todos com essa guerra. Ela é injusta, resultado de uma invasão que a Rússia fez à Ucrânia. Se trata de um país livre, e a Rússia, arbitrariamente, invadiu-o por ambições territoriais e outras motivações. Todo mundo percebe a injustiça, que não tem justificativa. Se nota a indignação dos líderes religiosos, dos católicos, dos bispos; é uma indignação total diante dessa realidade. Ao mesmo tempo, eles buscam sustentar a esperança das pessoas, pois a religião deve fazer isso. Onde não se vê muita esperança, é preciso buscar caminhos para que as pessoas continuem a esperar. Quem tem esperança olha para frente, busca construir o futuro, enfrenta a vida e a existência com coragem. Esse é um papel fundamental das religiões. E me parece que o mundo religioso ucraniano, mesmo diante da indignação causada pela guerra, procura assistir as pessoas e alimentar a esperança do povo ucraniano neste momento.
O senhor comentou sobre o encontro que teve com líderes religiosos ao longo dessa viagem. Como o senhor avalia o modelo de diálogo interreligioso e ecumênico que existe hoje na Ucrânia? Como é a convivência entre as diversas religiões e até entre os diversos tipos de cristianismo no país hoje?
Eu avalio de uma forma muito positiva. Me parece que ali se busca construir aquilo que o Papa Francisco propunha na Fratelli Tutti: uma sociedade de irmãos. Claro que uma sociedade de irmãos não é onde não se leva em conta a diferença, não. É exatamente onde se leva em conta a diferença, onde se respeita as distinções, mas onde se percebe que há objetivos comuns que todos devem perseguir. Pelo pouco que conheci do conselho de Igrejas e religiões, me parece que há respeito pelas diferenças, onde não se entra na questão das distinções daquilo que é específico de cada religião, a sua doutrina, mas se busca afrontar as principais questões juntos, seja de justiça, de paz, de liberdade religiosa, tantos temas que são comuns a todas as religiões. Parece que buscam enfrentar e afrontar esses temas juntos, olhando para a frente e, nesse momento, buscam levar adiante a causa da Ucrânia, buscam a paz, também, contar ao mundo os horrores da guerra, os horrores que ela está causando na sociedade ucraniana. Então, vejo de forma muito positiva, acho que é um caminho interessante, que outras sociedades também podem trilhar.
A respeito da convivência mais fraterna, nas palavras do senhor, entre os cristãos ali dentro da Ucrânia, nós sabemos que os católicos romanos são minoria entre os cristãos do país: quer dizer, ortodoxos, tanto de proveniência russa quanto da ortodoxia ucraniana, fiéis greco-católicos e, por fim, os católicos romanos de rito latino. O senhor acredita que essa interação fraterna e a convivência entre os cristãos ali da Ucrânia teria algo a aportar no sentido de inspiração para outros contextos eclesiais?
Acho que sim, é um caminho, seja de diálogo, seja de comunhão, seja mesmo entre aqueles que participam e que estão unidos com Roma, sejam os católicos e os gregos ortodoxos que estão unidos com Roma, mas também os ortodoxos ligados a Constantinopla. Se vê que há um caminho de diálogo e há proximidade, e isso é bonito. Jesus rezou pela nossa unidade, pediu ao Pai que todos nós sejamos um, como Ele e o Pai são um. É claro, acho que, nesse momento, o diálogo com os ortodoxos ligados a Moscou é mais difícil. Acredito que há a se fazer ainda nessa comunhão das igrejas, ali mesmo na Ucrânia, mas acho que é um caminho interessante. Se percebe que há lugares onde a proximidade é maior e há lugares onde, talvez, a proximidade não seja tanta. Nós encontramos, em Lutsk, onde fomos visitados pelo bispo ortodoxo e depois visitamos a Igreja ortodoxa; eles são ligados a Constantinopla, e ali há um diálogo bonito. Mas percebe-se que nem em todos os lugares é a mesma realidade.Então, quer dizer, é um caminho em que, acredito, eles ainda têm algo a crescer, algo a se solidificar cada vez mais. Claro o ecumenismo é para todos nós. Se Jesus rezou pela unidade, todos nós devemos buscar essa unidade com seriedade.
Objetivo da viagem foi a programação prevista no santuário de Berdychiv por conta da peregrinação anual, os festejos de Nossa Senhora do Carmo. E ali, certamente, encontrou um povo devoto, um povo de fé, que, mesmo diante da dificuldade, tem buscado acorrer a Deus e a sua Mãe Santíssima, a devoção a ela, como meio também de nutrir esperança e a própria fé durante esse tempo de guerra. Mas diante disso, como o senhor pensa que a religiosidade do povo católico ucraniano se assemelha ou se diferencia da religiosidade dos brasileiros e, de repente, diante do que o senhor viu e tocou, o que poderia servir de inspiração para os católicos do Brasil a respeito do que esses irmãos na Ucrânia têm vivido e têm experimentado também na vivência da sua fé?
Claro que, ali em Berdychiv, foi o centro da minha visita à Ucrânia. A peregrinação foi para responder a um convite da Conferência Episcopal Ucraniana, feita pelo Mons. Vitalii, que é o presidente da conferência, para presidir essa missa da peregrinação. Ela mostra bem o amor do povo ucraniano pela Virgem Maria. Ela é mãe. Nós olhamos, em quase todas as nações do mundo, encontramos um santuário, e sempre um centro de peregrinação, onde os católicos sentem a presença materna de Maria, onde peregrinam, onde vão pedir aquilo de que tanto necessitam. Ali se vê bem a fé do povo ucraniano na Mãe de Deus. Ali se vê o sentimento de filiação que os cristãos sentem para com Ela. O amor por Maria, eu diria, é bem universal, onde cada povo manifesta esse amor de uma forma. Mas se via a fé do povo ucraniano nessa presença materna de Maria, no sustento materno. É uma peregrinação que se cumpre anualmente; a guerra parece que prejudicou um pouco. Mas, mesmo com o tempo de guerra, via-se o santuário cheio, o pátio do santuário cheio, e as pessoas lá, com esperança, implorando à Mãe, nesse tempo, o dom da paz. O que eles mais precisam, nesse momento, e que eu também enfatizei na minha homilia, é o dom da paz. Acho que, nesse sentido, cada povo tem um pouco a aprender com os outros: como venerar a Mãe de Deus, como manifestar o seu amor por Maria, por ela que é a Mãe de Deus. Claro que, ali na Ucrânia, se experimenta um pouco aquilo que São João Paulo II falava, a necessidade de a Igreja respirar com os dois pulmões. Ali se tem bem a tradição oriental, ali se tem bem a tradição latina. Se percebe bem: a tradição oriental é mais mística, é mais orante. A nossa tradição latina segue um caminho todo próprio, uma outra forma de celebração, mais participativa, onde as pessoas cantam, rezam, participam mais. Acho que, ali, se toca e se tem essa possibilidade de perceber bem aquilo que João Paulo II fala: uma Igreja que respira com os dois pulmões, onde os ares vão se trocando, onde também nós, latinos, temos a possibilidade de experimentar e tocar um pouco essa dimensão mais mística dos orientais.
O senhor chegou a celebrar seu aniversário, inclusive, no meio da viagem, justamente no dia principal da peregrinação, que era o dia 20 de julho. Como foi essa experiência de estar unido a um outro povo e nesse sentido com o coração de pastor, mas também de irmão próximo deles? Tem alguma coisa que chamou a atenção do senhor em relação à comemoração, à sensibilidade, à afetividade deles nesse dia que também para o senhor era especial por esse motivo?
Vivi, também, lá o meu aniversário. Desde o café da manhã, já manifestaram carinho para comigo, lá na casa das irmãs: bolo, o ambiente de festa se via no refeitório.. Depois, quando cheguei ao santuário também, não é? E, assim, depois o presente que me deram, onde me fizeram sentir em casa, me fizeram sentir família, me fizeram sentir que, ali, também, eu estava em casa comemorando o meu aniversário. Eu quis ir à Ucrânia para ser solidário com o povo ucraniano. Quis ir para estar com eles, para que sentissem a presença de irmãos de outra parte do mundo, para mostrar para eles que não estão sozinhos, que há tanta gente rezando por eles, há tanta gente, em outras partes do mundo, sustentando-os com as suas orações, sustentando-os com a sua proximidade, falando desse horror da guerra na Ucrânia.Eu fui pedir à Virgem Maria, como presente, o dom da paz para eles. É claro que meu pedido é um só; é o pedido de um pobre Cardeal, de um pobre pastor, mas que, como filho, também intercede com eles à Virgem Maria, pedindo o dom da paz. E pedir foi o grande presente que pedi para ela. Espero que ela me una ao povo ucraniano. Uni minha pobre prece à prece daquele povo, que, acho, é muito mais forte do que a minha, pois é a que vem das lágrimas, que vem da dor, que vem do sofrimento, que vem do desespero, que vem de ver seus filhos morrendo. A prece deles, acho, é muito mais intensa do que a minha. Mas uni, também, a minha à daquele povo, pedindo pela paz, pedindo que a Virgem Maria, como mãe, olhe para eles e interceda ao seu Filho Jesus, que venha em socorro da incapacidade dos homens de construírem a paz, que eles possam continuar a sua vida, a sua caminhada, com esperança, olhando para frente, construindo o seu futuro, construindo a sua história.
Diante de toda essa vivência, com tudo que o senhor trouxe no coração, refletido e ainda a refletir e rezar depois desses dias. O que o senhor gostaria que os fiéis da Igreja do Brasil, ou mais propriamente até da Arquidiocese de Brasília, soubessem ou fizessem em solidariedade ao povo ucraniano?
Gostaria que rezassem pelo povo ucraniano, que não esquecessem o seu sofrimento. A gente não vê, com clareza, o fim, mas que não esquecessem, que rezassem sempre pelo povo ucraniano, que lembrassem, também, às autoridades, o sofrimento deles. Acho que cada um tem um papel e ninguém pode se furtar dele diante do sofrimento, ninguém pode se calar. E gostaria, então, que os fiéis da Arquidiocese de Brasília unissem suas preces ao povo ucraniano e também fossem solidários a eles. Aqueles que puderem, sempre relembrem aos governantes o desejo e a missão de promover a paz, a missão de lutarem para que a paz chegue à Ucrânia e chegue a outras partes do mundo também. Gostaria que lembrassem sempre a Igreja Ucraniana, que é uma igreja latina, que é uma igreja pequena, mas que está buscando se reconstruir mediante todo o horror que viveu, também, no tempo do comunismo, onde teve seus bens ceifados e confiscados, onde teve suas igrejas transformadas em museus, onde os comunistas buscaram apagar a memória. E, depois, com a liberdade, está se reconstruindo, está se fortalecendo, não é? Está indo para frente, com esperança e com alegria. Que exemplo para nós! Nós vivemos em um país onde se tem liberdade religiosa, onde se vive, com liberdade a sua fé, e, às vezes, a gente esquece de tantos irmãos que sofreram por ela. Uma igreja que foi perseguida, uma igreja que foi martirizada, uma igreja onde tanta gente morreu pelo testemunho da fé. Que lembrassem, também, disso, lembrassem o valor da liberdade religiosa e ajudassem tantos irmãos que, no mundo, hoje, ainda vivem sem liberdade, que não podem professar livremente a sua fé.
Obrigado, Dom Paulo, pelas palavras, pelo esclarecimento e por essa oportunidade também de ouvir do senhor, assim, em primeira mão, o que viu, o que sentiu, a presença e a missão da igreja diante desse conflito e também uma palavra de inspiração e esperança também para os cristãos do nosso país quando pensam e se unem com os irmãos que estão nesse momento mesmo sofrendo.
Obrigado mais uma vez. Obrigado, eu que agradeço a possibilidade de, assim, ainda é um bem próximo retorno ainda, mas de poder falar um pouco dessa viagem, de poder compartilhar um pouco aquilo que vivi, aquilo que experimentei, as marcas que essa viagem deixaram no meu coração.
Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp