Em Gaza, o sil¨ºncio das campainhas do fim das aulas
Ibrahim Faltas*
As crianças observam, olham, absorvem até mesmo os mínimos detalhes da vida que as rodeia. As crianças ouvem, assimilam e aprendem, exploram o mundo dos adultos e o reproduzem com visões pessoais e particulares.
Na Terra Santa, como em outras regiões em guerra, as crianças recebem estímulos e informações relacionados a palavras, sons e luzes, silêncios e isolamento a que são forçadas pela anormalidade da situação em que vivem. Elas afinam sua sensibilidade e participam com entusiasmo da ¡°normalidade¡± das atividades escolares.
Em Gaza, também este ano, a campainha do fim das aulas não tocou. Todos os prédios escolares foram destruídos. As aulas não têm mais horários. Não há mais salas de aula, livros, cadernos e lápis. Mas eles permanecem na memória de seus corações e mentes inocentes.
Em outras cidades da Terra Santa, uma aparente normalidade permitiu que os programas escolares continuassem, mas muitas vezes eles foram interrompidos pelo som das sirenes que anunciavam a chegada de mísseis.
Esses estímulos e informações se somam à sensibilidade pessoal das crianças, o que exige que os educadores tenham atenção e cuidado com emoções tão delicadas e profundas.
Mísseis chegando e partindo cancelaram muitas cerimônias de entrega de diplomas de fim de ciclo escolar, as ¡°formaturas¡±, aguardadas com fervor pelas crianças das escolas da Terra Santa e suas famílias. Não são apenas momentos de festa, mas ocasiões de confronto e balanço entre os muitos que se preocupam com o crescimento e o desenvolvimento de crianças e jovens.
Um toque de emoção a mais é o que distingue a ¡°graduação¡± das crianças que deixam a pré-escola para enfrentar o ensino fundamental. Em poucos anos de vida, essas crianças crescem física e intelectualmente de maneira extraordinária e, ao entrarem no ciclo do ensino fundamental, elas de certa forma entram no ciclo da vida, que desde cedo se apresenta repleto de dificuldades, mas que elas logo aprendem a enfrentar com energia, inteligência e, muitas vezes, também com ironia.
¡°É justo sofrer por causa da guerra? Não é justo!»: são as perguntas e respostas que muitas vezes fazem e dirigem aos adultos. Perguntas que em outros lugares seriam impensáveis na sua idade. Perguntas e respostas que surpreendem pela firmeza e seriedade com que as colocam. As crianças querem saber a verdade e pedem respostas satisfatórias para derrotar a guerra que as perturba e as perturba. Nos uniformes que vestem nesta ocasião especial, mostram orgulhosamente os diplomas, enquanto cada um deles tem um pensamento e uma reflexão para as crianças de Gaza.
Pensam nos seus sofrimentos físicos e morais, preocupam-se com a sua saúde, perguntam se têm comida e uma cama onde descansar, mas acima de tudo perguntam se as crianças de Gaza têm os pais ao seu lado. A sua principal preocupação é a presença de pais e mães para crianças que já sofreram demasiado. É comovente esta sua sensibilidade, que é também a afirmação de um direito da infância: ter a proteção ilimitada daqueles que lhes deram a vida é um direito essencial.
A simples oração de São Francisco, recitada com fervor, respeito e sem erros por crianças de apenas cinco anos, concluiu um momento sereno e ¡°normal¡± para uma comunidade escolar que tem como objetivo principal formar e educar pessoas para a paz. A missão das escolas da Custódia da Terra Santa, seguindo o carisma franciscano, considera a formação e o desenvolvimento pessoal como um caminho de esperança na estrada da paz. O empenho e a força constantes dos educadores vêm precisamente das crianças e do seu pedido de paz, verdade e justiça.
*Vigário da Custódia da Terra Santa
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